Setembro Amarelo: como ajudar quem precisa?

A Campanha Setembro Amarelo, que visa a prevenção de casos de suicídio e a promoção da saúde mental, faz com que muitas pessoas passem a prestar atenção neste tema. E esse é um dos objetivos desta mobilização. Para isso, é essencial conhecer mais o que envolve esse cenário para saber, durante e fora o Setembro Amarelo, como ajudar quem precisa.

Estudos do Conselho Federal de Psicologia comprovam dados, já reafirmados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que cerca de 90% dos casos de suicídios poderiam ser evitados com o auxílio de profissionais de saúde mental. O Setembro Amarelo objetiva falar mais sobre o tema e promover ações em prol da melhoria da assistência para distúrbios emocionais e psicológicos. Desse modo, evidencia para os indivíduos que sofrem com esses problemas que eles não estão sozinhos. O Setembro Amarelo é uma campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com os profissionais que integram o Conselho Federal de Medicina (CFM). A meta é conscientizar a população sobre o tema e alertar sobre os sinais de sofrimento considerados pilares para a ideação suicida.

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Setembro Amarelo: como ajudar quem precisa? Conhecendo mais

São várias as formas de ajudar quem precisa. Confira:

Incentivar a busca de tratamento

O principal objetivo dessa campanha é promover a conscientização acerca dos cuidados da saúde mental, principalmente a prevenção do suicídio. Além disso, a ocasião é propícia para alertar a população sobre a necessidade de buscar suporte profissional, já que é impossível superar esses desafios sozinho.

A Importância de desmitificar assuntos ligados à saúde mental

Entender a importância da Campanha Setembro Amarelo abre possibilidades para auxiliar quem precisa superar transtornos mentais e emocionais. Uma das doenças mais comuns no país é a depressão, cujos dados alertam para a necessidade de maior atenção nesse sentido. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o número de pessoas afetadas no mundo pela depressão já ultrapassa 300 milhões. Além disso, o transtorno é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, mas a doença atinge indivíduos de todas as classes sociais, gêneros e idades.

O mesmo estudo demonstra que os índices de depressão no Brasil também são preocupantes: cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o que totaliza 11,5 milhões de casos; o Brasil ocupa o primeiro lugar em casos de depressão na América Latina; menos de 10% das pessoas diagnosticadas recebem tratamento adequado. Tais estatísticas alertam para a necessidade de desmistificar temas ligados à saúde mental e estimular a busca de ajuda profissional. Um dos problemas de não procurar auxílio é o risco de evolução dessas doenças para quadros mais graves, que, inclusive, podem culminar com o suicídio.

Promover mais diálogo sobre o tema

Um dos pontos mais relevantes da Campanha Setembro Amarelo é promover eventos, debates e discussões sobre a importância de cuidar da saúde mental. Em outras palavras, a população precisa entender que a atenção à saúde mental é tão importante quanto à física. Além disso, promover a interação social ajuda a superar momentos em sofrimento. Como mente e corpo estão associados, ao incentivar essas pessoas a procurarem ajuda, os riscos do desenvolvimento de diferentes doenças que surgem por influência de algum viés emocional são reduzidos. Por tal razão, a Saúde Pública tem buscado promover ações para frear os impactos das doenças mentais sobre a vida pessoal, social e profissional.     

Estimular a participação popular nos eventos sobre a saúde mental

Estimular a participação popular nessa campanha pode trazer resultados muito significativos. Isso porque, durante todo o mês de setembro, o objetivo é divulgar esse tema e envolver ações de comunidades, instituições, empresas e escolas. O intuito é refletir sobre a importância do cuidado com o próximo e do entendimento de suas limitações, suas dificuldades e seus conflitos. Por isso, mesmo nesse período de pandemia, o ideal é utilizar os meios digitais para promover a Campanha Setembro Amarelo.

Setembro Amarelo: como ajudar quem precisa? Identificando possíveis sinais de alerta da pessoa em sofrimento

Entre outros fatores, o estresse patológico, as crises frequentes de depressão, o consumo descontrolado de psicoativos e conflitos familiares geram grandes agravos para a saúde mental do indivíduo, principalmente na juventude. Isso requer mais atenção dos familiares para auxiliar o seu ente querido a superar tais quadros. Decerto, pessoas que tentam o suicídio não querem colocar fim à vida, mas aos motivos que as fazem sofrer. Ou seja, nesses casos, elas não estão desistindo de viver, mas veem uma saída nesse ato para se livrar da dor e de seus problemas. Porém, antes de tomarem essa decisão, alguns sinais podem ser percebidos.

Nessa perspectiva, listamos os sinais que servem de alerta para o encaminhamento do familiar ou amigo para uma avaliação com um psiquiatra. Veja quais são:

  • a pessoa perde o interesse de fazer coisas que antes gostava;
  • passa a apresentar comportamento retraído, com muita dificuldade de integração social e com os familiares;
  • tendência a ficar remoendo pensamentos obsessivos e negativos;
  • demonstra pensamentos de desesperança, solidão, tristeza, baixa autoestima e falta de motivação para a vida;
  • fica constantemente com irritabilidade, pessimismo, apatia e pode se mostrar agressiva;
  • apresenta alterações extremas de humor, como raiva e rancor excessivo;
  • demonstra sentimentos intensos de culpa, ansiedade, remorso ou vergonha;
  • muda de assunto quando se fala sobre reabilitação mental ou tratamento para suicídio.

Além desses sinais, quando há histórico familiar de doenças psiquiátricas ligadas aos distúrbios de comportamento, humor ou personalidade, os riscos são mais elevados. Também é preciso observar se seu ente querido apresenta tendências ou ideações suicidas. Isso fica claro quando a pessoa doa seus pertences, visita parentes próximos e define um testamento.

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Onde encontrar ajuda

De acordo com os dados da cartilha “Informando para prevenir”, publicada pela ABP e pelo CFM, 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados com histórico de doenças mentais, que podem ser tratadas. O reconhecimento dos fatores de risco e dos fatores protetores é fundamental e pode ajudar. Por isso, se você acha que está tendo problemas ou conhece alguém que está passando por alguma dificuldade, procure um psiquiatra ou um profissional da saúde mental. No site da campanha há uma lista de consulta de profissionais. Além disso, é possível encontrar atendimento em hospitais e clínicas, inclusive com custos mais acessíveis.

Outra forma de procurar ajuda é por meio do CVV – Centro de Valorização da Vida. Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (nos mais de 120 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail.

Os cuidados no Setembro Amarelo e como ajudar quem precisa

Existe um movimento durante o Setembro Amarelo chamado de “DM Aberta”, quando as pessoas permitem o recebimento de mensagens de outros usuários para desabafos, conversas ou pedidos de ajuda. Se por um lado tal iniciativa parece louvável pelo caráter humanitário de auxiliar o próximo, por outro o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu alerta que esta ideia pode não fornecer o efeito esperado, e até mesmo trazer mais problemas para a pessoa que já está com a saúde mental abalada. “A ‘DM aberta’ pode atrapalhar mais do que ajudar. A pessoa que está em estágio de depressão grave pode ver aquela mensagem de forma pejorativa. Ela pode pensar que o dono da mensagem está feliz reforçando que ele não está, entre outros fatores. Há estágios que são delicados e as estratégias cognitivas são minuciosas”, opina.

Um profissional habilitado é a pessoa correta para ajudar quem realmente precisa. Assim, o psicanalista alerta: “Mesmo que a pessoa esteja realmente com intenção de ajudar ao próximo, é preciso entender que naquele momento não há a presença de um profissional preparado para lidar com isso. Um psiquiatra, psicólogo ou psicanalista, a depender, por exemplo, saberá o histórico daquela pessoa e a real situação do seu quadro clínico, logo saberá lidar da melhor forma com aquela pessoa que está passando pelos problemas. E um conselho mal dado, ou simplesmente não interpretado corretamente, pode ocasionar uma série de problemas”, salienta.

 A melhor forma de ajudar quem precisa de amparo nestas horas, recomenda Abreu, é convencer a pessoa a buscar um tratamento com um especialista: “Converse com a pessoa, a escute, mas reforce a ela a importância de procurar um profissional preparado para lidar com isso. Não assuma essa responsabilidade, você pode estar com aquela vida em suas mãos e isso é algo muito sério”, completa.

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