O difícil diagnóstico precoce do câncer infantil

Mais de 57% das crianças chegam ao Hospital Pequeno Príncipe com a doença em estágio mais avançado

Luis Henrique acompanhado de sua mãe, Valdirene, durante o tratamento; mãe relata as dificuldades do diagnóstico precoce do câncer infantil (Foto: Marieli Prestes/Hospital Pequeno Príncipe)

O câncer infantil é a principal causa de morte entre o público infantil no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Com o diagnóstico precoce, as chances de cura podem chegar até 80%, mas a maioria das famílias descobre a doença em um estágio mais avançado. Um estudo feito pelo Hospital Pequeno Príncipe – localizado em Curitiba (PR) e referência no atendimento pediátrico no país -, que englobou dados de pacientes atendidos entre os anos de 1998 e 2017, mostrou que 57,6% deram entrada com câncer em nível já avançado. Apenas 8,8% chegaram com o primeiro estágio da doença, e 33,5%, com o segundo. Isto mostra a realidade do difícil diagnóstico precoce do câncer infantil.

Por isso, no Dia Internacional de Luta Contra o Câncer na Infância, lembrado em 15 de fevereiro, a instituição faz um alerta para os pais e toda a sociedade para sintomas do câncer que podem ser confundidos com doenças comuns da infância e que podem dificultar o diagnóstico precoce. Esse é o caso do Luis Henrique Neitzke, de apenas 1 ano. “No final do ano passado, ele começou a apresentar manchas pelo corpo, mas tinham momentos que as manchas sumiam e depois voltavam. Alguns dias depois, ele também apresentou febre alta e começou a perder peso mesmo comendo”. Foram esses sinais que deixaram Valdirene Neitzke – mãe do menino – alerta e a fizeram procurar um médico.

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Em um primeiro momento, na cidade onde mora, Rio Negro (PR), Luis Henrique foi medicado para tratar uma infecção de garganta, mas a febre persistiu. Depois de passar por três profissionais diferentes e realizar vários exames, o bebê foi encaminhado até o Pequeno Príncipe e, então, recebeu o diagnóstico de leucemia, que é o tipo mais comum de câncer em crianças.

A oncologista Ana Paula Kuczynski Pedro Bom, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que, pelo fato de as crianças serem muito ativas, os sinais que elas apresentam podem passar despercebidos. “Um exemplo de sintoma que pode ser confundido é a febre, pois ela é bastante comum nas viroses, mas também muito comum em vários tipos de câncer, assim como queixas de dores. As dores nas pernas, por exemplo, acabam sendo comuns em crianças, já que elas são muito ativas, correm, pulam, e que os pais ou mesmo o médico que atende a criança pode relacionar essa dor a uma queda ou algum trauma”, destaca.

Sintomas que dificultam o diagnóstico precoce do câncer infantil

Além da febre persistente e queixas de dores, os pais também devem ficar atentos a distúrbios visuais e reflexos nos olhos; palidez inexplicada; fraqueza constante; aumento progressivo dos gânglios linfáticos; manchas roxas e caroços pelo corpo, não relacionados a traumas; dores de cabeça, acompanhadas de vômitos; perda de peso, com aumento/inchaço na barriga; e suores constantes e prolongados. A oncologista reforça que não é possível evitar o aparecimento da doença, mas é importante que as crianças tenham uma rotina saudável, recebam o leite materno até os 2 anos, pratiquem exercícios físicos e façam consultas regulares ao pediatra ou médico de confiança.

Os cânceres infantis são considerados mais agressivos e se desenvolvem rapidamente, porém as crianças e os adolescentes respondem melhor ao tratamento. “Quanto mais precoce for a descoberta do câncer na criança, maiores são as chances de cura. Esse diagnóstico também é extremamente importante em relação ao tratamento, pois aquelas crianças que vêm com um estágio mais avançado serão submetidas a um protocolo muito mais agressivo e com maiores efeitos colaterais”, conclui a especialista.

A instituição disponibiliza uma cartilha para famílias que estão enfrentando a doença. O download gratuito pode ser feito pelo link: http://pequenoprincipe.org.br/projetosabermais/manual/apj_fab_onco_01.pdf

* Com informações do Hospital Pequeno Príncipe

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