A Medicina Integrativa está ocupando cada vez mais espaço em hospitais e estabelecimentos de saúde no país, sejam privados ou públicos. Essa especialidade coloca o foco na pessoa como um todo, além de reafirmar a relação entre paciente e profissional de saúde. Para isso, paralelamente à chamada medicina convencional, entram no tratamento as chamadas abordagens terapêuticas complementares ou práticas integrativas e complementares em Saúde, que vão ajudar no processo de recuperação e no bem-estar.
Na Medicina Integrativa, profissionais de diferentes áreas atuam no tratamento do paciente, apostando na interdisciplinaridade para que o resultado seja ainda melhor. Ao lado de médicos e psicólogos, terapeutas de diversos segmentos complementam o trabalho, com intervenções que possuam evidências, visando sempre a segurança e a eficácia. São os casos da meditação, ioga, acupuntura, constelação familiar, reiki, massagens, florais e musicoterapia, entre outros.
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“A Medicina Integrativa entra com a proposta de intensificar o diálogo entre médico e paciente, de colocar o paciente no centro do cuidado, com abordagens que sejam seguras e eficazes. É uma medicina pautada na ciência, direcionada para a segurança e a eficácia, como complemento à medicina convencional”, explica Daniela Artico, pós-graduada em Bases de Medicina Integrativa pelo Hospital Albert Einstein (SP) e responsável pelo núcleo de Medicina Integrativa do plano Nossa Saúde, de Curitiba (PR). De acordo com ela, esta é uma forma de contar com um apoio ainda maior durante o tratamento médico e a recuperação, além de se tornar um modelo de prevenção e promoção de saúde.
Daniela explica que as abordagens indicadas pela Medicina Integrativa são mais naturais, com o objetivo de atingir o potencial de equilíbrio de cura de cada um. Isso porque, de acordo com ela, pessoas com o mesmo diagnóstico e com um mesmo tratamento prescrito podem ter desfechos diferentes. E isso pode estar relacionado com outras áreas e campos da vida dessa pessoa, como o emocional, o espiritual e o energético.
Serviços e pesquisa
Existem hospitais brasileiros que possuem serviços específicos de Medicina Integrativa, com diferentes tipos de terapias. Há unidades em que esse tipo de atendimento é ofertado apenas para um tipo de paciente, como o oncológico; em outros, é aberto para todos. Ou mesmo preferem apostar em poucos tipos de abordagens complementares; outros já oferecem uma gama maior aos pacientes e aos próprios profissionais de saúde como opção de encaminhamento.
Daniela conta que há uma adesão acentuada de médicos cardiologistas e oncologistas neste tipo de especialidade, sugerindo o encaminhamento para terapias da Medicina Integrativa como complemento importante no tratamento e recuperação do paciente. Ela lembra que há muitos anos, por exemplo, pacientes que passam por quimioterapia assistem a imagens da natureza durante o procedimento, pois isso gera uma maior sensação de bem-estar em um momento crítico. E esse conceito está se estendendo para diferentes segmentos da saúde, como um tratamento “geral” do paciente que está enfrentando algum tipo de doença.
O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com práticas integrativas desde 2006. Atualmente são 28 tipos diferentes ofertadas na rede pública de saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC).
“Essas práticas podem ser encontradas tanto no SUS quanto em consultórios particulares, mas, ressalto que a população que tem interesse pode encontrar esses serviços bem perto de casa. As práticas integrativas complementares são ofertadas em quase 80% dos municípios brasileiros, e 90% dos serviços que as ofertam estão na Atenção Primária, ou seja, presentes nas unidades básicas de saúde”, afirmou Vinícius Bednarczuk de Oliveira, coordenador dos cursos de Farmácia e Práticas Integrativas e Complementares do Centro Universitário Internacional Uninter em artigo publicado no Saúde Debate em novembro de 2020.
O avanço das práticas complementares no Brasil também beneficiou o trabalho dos profissionais da enfermagem, segundo Silvana Cappelleti Nagai, Mestre em Enfermagem Unicamp, Especialista em Administração de Saúde Pública, Fitoterapia e Toque Terapêutico, Coordenadora de Conteúdo do Curso de Qualificação dos Profissionais de Saúde em Plantas Medicinais e Fitoterápicos no Tratamento de Feridas Fiocruz/Ministério Saúde.
“Nesses 15 anos da PNPIC podemos afirmar que as práticas integrativas se integram ao modelo convencional de cuidado através de uma visão ampliada do processo saúde/doença e da promoção do cuidado do indivíduo como um todo, considerando-o em seus vários aspectos: físico, psíquico, emocional, espiritual e social. Para os profissionais de enfermagem, que integram grande parte dos profissionais de saúde que atuam nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, amparados por Resoluções do Conselho Federal de Enfermagem, as práticas integrativas possibilitam uma nova dimensão no cuidado através de uma assistência mais integral e sensível para os clientes e suas famílias, permitindo maior autonomia e ampliação no processo de cuidar”, relatou em artigo publicado no Saúde Debate em janeiro de 2021.
Daniela Artico também ressalta que vem crescendo o campo de pesquisas em Medicina Integrativa no Brasil. Algumas faculdades de Medicina já acrescentaram essa disciplina, auxiliando na formação de futuros médicos.
Pilares da Medicina Integrativa
De acordo com Daniela, a Medicina Integrativa visa a busca de equilíbrio e tem uma série de pilares considerados essenciais para a promoção da saúde e auxílio na recuperação. Esses princípios estão descritos na chamada Roda da Vida. Esse fluxograma mostra o quanto são importantes as abordagens convencionais e complementares, mas também como o paciente exerce um papel fundamental nesse processo. “Entre esses pilares estão aquelas atitudes que só dependem de você, como movimento, exercício físico e descanso”, destaca.
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p class=”ql-align-center”>(Foto: Duke Integrative Medicine)
Os pilares são Movimentos, Exercícios e Descanso; Nutrição; Desenvolvimento Pessoal e Profissional; Ambiente Físico; Relacionamentos e Comunicação; Espiritualidade; e Relação entre Corpo e Mente. “O descanso é tão importante quanto o movimento. São essenciais as pausas mentais e pensar na qualidade de sono. A nutrição é um pilar importante tanto para a parte física quanto para a emocional”, afirma Daniela.
A especialista lembra que nesse equilíbrio entra também a satisfação pessoal e a qualidade nos relacionamentos. Tudo isso impacta diretamente na saúde. “A qualidade dos relacionamentos é tão importante quanto comer bem e fazer exercícios. Não adianta médico fazer check-up e não ter olhar para o ser humano integrado”, salienta.
Ela ainda enfatiza sobre como os médicos estão sendo incentivados a conversar sobre espiritualidade (conexão com o transcendente, e não religião) com seus pacientes. Isto está sendo adotado, por exemplo, por médicos cardiovasculares. A conversa sobre perdão, raiva e ódio ajuda a canalizar sentimentos e a diluir situações estressantes relacionadas a isso.
“A pandemia trouxe uma especial visão para a importância do autocuidado e da Medicina Integrativa. Mostrou, por exemplo, o quanto são frágeis os pacientes crônicos ou aquelas doenças que se tornaram fator de risco para a pandemia. E são doenças que têm uma carga genética, mas pequena. A maior parte está relacionada ao estilo de vida. No entanto, não adianta apenas comer verduras e achar que está tudo bem se o restante é limitado, com relacionamentos complicados. Tudo faz parte de um equilíbrio e entender que isso faz parte da saúde”, opina.
As práticas complementares devem ser orientadas, com terapeutas capacitados. A Medicina Integrativa existe se a medicina convencional estiver junto, fazendo parte desse tratamento global do paciente.
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