Medicina Integrativa favorece redução na busca por Pronto Atendimento

Quem tem ansiedade pode apresentar sintomas parecidos com os de outras doenças, como taquicardia, tontura, boca seca, tremores, náuseas, dificuldades para dormir… E, muitas vezes, são motivos para a procura por um atendimento no pronto-socorro. Após a realização de exames, os profissionais de saúde não encontram uma doença específica. E, mesmo com investigação, o paciente pode ficar sem saber ao certo o que tem, apesar de todos os sintomas. Nesses casos, a Medicina Integrativa e as práticas complementares podem ajudá-lo e também impactar positivamente o sistema de saúde.

Um projeto de Medicina Integrativa implantado para usuários de um plano de saúde de Curitiba (PR) mostrou a importância das práticas complementares. Em quase dois anos de trabalho, houve uma redução de 41% na procura de serviços no Pronto Atendimento por pacientes com ansiedade e queda de 31% na realização de exames nessas situações. Há casos em que a diminuição na busca pelo pronto-socorro superou os 80%. O case foi apresentado no III Congresso Internacional de Medicina Integrativa, realizado em setembro de 2020 no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP), e premiado na ocasião.

O projeto em questão foi implantado no plano Nossa Saúde. Os usuários têm acesso a práticas integrativas em um modelo totalmente integrado com a medicina convencional – o que baseia a Medicina Integrativa (saiba mais aqui, nesta reportagem do Saúde Debate). A responsável pela iniciativa é Daniela Artico, pós-graduada em bases de Medicina Integrativa pelo Hospital Albert Einstein (SP) e em Gestão Emocional das Organizações, pela mesma instituição.

Leia também – Você sabe o que são as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde?

Advogada de formação e praticante de reiki há mais de duas décadas, ela viu a oportunidade de levar as práticas integrativas não só para o hospital do plano, mas para todo o seu sistema. “Os usuários são indicados para o serviço dentro do modelo de Medicina Integrativa por seus próprios médicos ou psicólogos. Isso foi possível porque o plano tem um modelo verticalizado. Foi montado um núcleo onde são disponibilizados grupos de meditação, sessões de reiki individual, grupos de constelação familiar, médicos homeopatas e acupunturistas”, explica.

Somente médicos e psicólogos podem encaminhar pacientes para o núcleo de práticas integrativas. Eles passam por avaliação por meio de questionário de bem-estar e iniciam um determinado número de sessões de um dos tratamentos, conforme a indicação para cada caso. Ao final, são novamente avaliados por meio de questionamentos e depoimentos pessoais. O núcleo prevê o acompanhamento por oito sessões, o equivalente a dois meses. Esse é o tempo mínimo suficiente para verificar efeitos positivos. Depois desse processo, o paciente retorna ao seu médico e o tratamento com auxílio de práticas integrativas pode ter continuidade ou não, dependendo da avaliação do profissional.

“Contamos com prontuário eletrônico, que nos possibilita uma visão de como esse paciente transita no sistema”, afirma Daniela. E foi por meio desta integração de dados que verificou-se que pacientes com ansiedade procuravam o Pronto Atendimento com certa frequência e como foi possível reduzir essa busca com a ajuda das práticas integrativas. “Isso acontece porque eles passam a ter um manejo. Os recursos internos são fortalecidos. A pessoa se autoconhecendo, quando percebe que está entrando em uma crise de ansiedade, ela mesmo aplica técnicas de relaxamento e não precisa ir ao Pronto Atendimento. Isso não se torna até mesmo sofrimento maior. Quando percebe que tem um poder de fazer com que ela mesma tenha esse alívio, se sente tão forte…”, relata. 

Daniela frisa que os resultados também ampliaram o diálogo entre profissionais, que antes focavam mais na doença e nos sintomas. Agora, têm um olhar mais integral do ser humano, como prega a Medicina Integrativa.

De acordo com ela, muitos encaminhamentos para o núcleo de práticas integrativas partem de profissionais da saúde mental, em especial psiquiatras e psicólogos, mas também de médicos cardiologistas e oncologistas, e até mesmo de geriatras e médicos de família. “Não paramos na pandemia, mas adaptamos algumas das práticas para a forma on-line”, esclarece.

Os usuários têm acesso a esses serviços e o hospital que abriga o núcleo recebe por eles. Para isso, foi criado um código de identificação interno para a prática integrativa, semelhante ao CID, para que haja esse controle. Além disso, essas informações vão para o prontuário eletrônico do paciente, permitindo o seu registro de trânsito por todo o sistema e a análise de dados, como a verificação na queda por busca pelo Pronto Atendimento nos casos de quem tem ansiedade. “Isso também representa redução na realização de exames e do próprio atendimento no pronto-socorro, causando um impacto financeiro”, aponta Daniela.

Leia também – Como lidar com a ansiedade: até quando é normal?

Leia também – Como alimentação pode ajudar no controle da ansiedade