Escutar os sons nem sempre significa ouvir corretamente. Sintomas como cansaço, fadiga, dores de cabeça, tensão muscular podem estar relacionados a algum grau de perda auditiva, segundo especialistas. O alerta é feito em 3 de março, quando se lembra o Dia Mundial da Audição.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas, entre elas 34 milhões de crianças, sofrem de problema relacionados à audição. Até 2050, este total pode atingir 900 milhões. Crianças prematuras, grupos com exposição a ruídos intensos ou ruídos provenientes de atividades de lazer, pessoas com casos na família e idosos estão entre os grupos de maior risco para problemas auditivos.
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O primeiro Relatório Mundial sobre Audição, lançado nesta terça-feira (2 de março) pela OMS, estima que um quarto da população global, ou o equivalente a cerca de 2,5 bilhões de pessoas, terá algum grau de perda auditiva em 2050. O estudo destaca, entretanto, que cerca de 60% das perdas podem ser evitados com investimentos em prevenção e tratamento de doenças ligadas à surdez. Segundo a OMS, o retorno é de US$ 16 para cada US$ 1 investido.
Medidas como vacinação contra rubéola e meningite, melhoria dos cuidados maternos e neonatais e tratamento precoce da otite média são incluídos pela OMS na prevenção de doenças auditivas. A organização recomenda que os tratamentos auditivos façam parte dos planos nacionais de saúde, além de incentivar os cuidados por parte da população.
Como identificar e prevenir problemas auditivos
A fonoaudióloga da Audium Brasil e especialista em Audiologia Clínica, Leda Donadel, reforça que a saúde auditiva deve ser acompanhada de perto. “O ouvido médio contém três pequenos ossos que recebem as vibrações do tímpano, envia-as para a orelha interna que, por meio do nervo auditivo, leva a informação sonora para o cérebro. É um sistema bastante sensível. Qualquer alteração nesses ossos ou mesmo nos pequenos vasos dessa área, causada por fatores externos ou de saúde, pode afetar a saúde auditiva e danificar permanentemente o órgão”, explica Leda.
A exposição ao ruído é um fator de risco. Mas diversas doenças, mesmo não relacionadas ao sistema auditivo, bem como o uso de alguns tipos de medicamento,s também podem levar à perda da audição. “Meningite, rubéola, doenças cardiovasculares, hipertensão e osteoporose são exemplos de doenças comuns e que, em maior ou menor grau, podem lesar as vias auditivas. O uso de medicamentos como alguns antibióticos, quimioterápicos, diuréticos e anti-inflamatórios estão entre os remédios mais tóxicos para os ouvidos e a audição. Por isso, ao menor sinal de deficiência auditiva, é importante consultar um otorrinolaringologista para evitar que o problema se agrave”, alerta Leda Donadel.
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Leda Donadel, fonoaudióloga da Audium Brasil e especialista em Audiologia Clínica (Foto: Divulgação)
Quando buscar ajuda
Como saber quando procurar ajuda profissional? É possível identificar os sinais, em crianças e adultos, lembra a fonoaudióloga. “Em crianças, o atraso no desenvolvimento da linguagem oral, na aquisição da fala, desatenção constante, pedidos frequentes para repetir o que foi dito, hábito de ouvir televisão em volume muito alto são sinais importantes que podem indicar deficiência auditiva. Nos adultos, muitas vezes os familiares identificam o problema antes do próprio paciente, quando percebem que ele pede para repetir com frequência o que foi dito, coloca o volume da TV de uma forma que incomoda os demais e um sinal muito comum é o próprio paciente relatar que ouve a fala mas não entende. A inteligibilidade afetada é um sinal importante de déficit auditivo”, esclarece Leda.
Para identificar o problema, é possível ainda realizar testes caseiros, de acordo com a especialista. Com as crianças, a emissão de sons de forma lúdica, em diferentes intensidades, sem que exista a possibilidade do campo visual para ajudar na resposta e enquanto ela estiver distraída é uma forma de observar se reage ao estímulo. “Bebês podem responder a um estímulo parando de sugar a chupeta, ou quando a criança já é um pouco maior, irá procurar com o movimento ocular a presença do estímulo sonoro”, lembra a fonoaudióloga. “No caso dos adultos, pode-se ir regulando o volume da TV para ver em qual intensidade ele se sente confortável em ouvir”, complementa.
Quando são identificados casos de desgaste do sistema auditivo ou deficiência diagnosticada pelo médico, pode ser indicado o uso do aparelho auditivo. “O Aparelho de Amplificação Sonora Individual (ASSI) é um dispositivo eletrônico com a função de converter as ondas sonoras em sinais elétricos e os manda diretamente a um amplificador, que eleva a potência dos sinais e os envia para o ouvido através de um receptor. Ele é recomendado somente após o diagnóstico médico e a validação com um fonoaudiólogo, que vai acompanhar o paciente no processo de reabilitação”, explica Leda.
Não existe idade mínima para o uso. “Quanto menor a idade de adaptação do aparelho, melhor será o desenvolvimento auditivo, por isto a importância do diagnóstico precoce. Para as crianças, preconiza-se a protetização antes dos 6 meses de idade, para evitar atrasos no desenvolvimento. Para os adultos, tão logo se identifique qualquer sinal de deficiência auditiva. A espera por tempo excessivo pode agravar o dano do sistema auditivo e o uso do aparelho pode não conseguir oferecer o melhor resultado. Vale informar, ainda, que nem toda a perda auditiva irá se beneficiar com o aparelho, por isso é importante a consulta com um otorrinolaringologista”, pontua.
Dicas para prevenir problemas auditivos
Confira as principais dicas da especialista para manter a saúde auditiva:
– Monitore os sons em casa (televisão e aparelhos sonoros); não deixe o ouvido se costumar ao som alto. Se usar aparelhos sonoros nas ruas, como fones de ouvido, tente manter o volume médio, com o qual possa conversar mesmo ouvindo música. O limite aceitável é de 85 db por 45 minutos.
– Evite ficar próximo a caixas de som em festas, em shows de música ou trios elétricos.
– Só escuta som alto no carro? Cuidado! O alto volume em ambientes fechados não se propaga e, acima de 85 decibéis, ainda é pior. Cuidado também com a música alta nas academias. O barulho pode chegar a 110 decibéis. Proteger a audição também é cuidar do corpo.
– Sempre que possível, descanse sua audição em um lugar silencioso.
– Atenção às doenças do ouvido, como as otites; qualquer sensação incômoda, procure logo um otorrinolaringologista.
– Cuidado com medicamentos que podem causar danos à audição, como anti-inflamatórios e até aspirina que, se tomada em excesso, pode levar à perda auditiva.
– Atenção motoqueiros! Motocicletas, principalmente as de média e altas cilindradas, emitem ruídos em torno ou acima de 95 decibéis. Não trafegue por muito tempo seguido.
– Se estiver exposto a sons intensos no trabalho, não esqueça de utilizar equipamentos de proteção individual (protetores auriculares).
– Limpe corretamente seus ouvidos. As hastes flexíveis devem ser usadas somente na parte externa da orelha. Nada de cutucar.
– Assoe o nariz, de forma suave, duas vezes por dia. A medida evita a entrada de secreções que podem causar perda auditiva, dor, pressão nos ouvidos e zumbido.
– Se possui algum familiar próximo que tenha perda auditiva, procure um especialista com antecedência. Em muitos casos a perda de audição é um fator genético.
– Faça o teste da orelhinha no bebê logo após o nascimento, mas avalie também a audição do seu filho, novamente, na época da alfabetização.
* Com informações da Agência Brasil e da assessoria de imprensa
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