O reforço na imunização contra Covid-19 será realizado a partir da segunda quinzena de setembro para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos, conforme anúncio feito pelo Ministério da Saúde no dia 25 de agosto. Mas por que será aplicada a terceira dose da vacina contra Covid-19?
A medida está relacionada com duas frentes: o avanço da variante Delta, que pode impactar na eficácia da vacina; e também no tempo prolongado de imunização com as duas doses dos mais idosos e imunossuprimidos, que fazem parte dos grupos prioritários. O público de pessoas acima de 70 anos foram os primeiros a receber as duas doses de imunizantes, muitos já há mais de seis meses.
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Conforme a recomendação do Ministério da Saúde, a dose de reforço será orientada para pessoas imunossuprimidas que tomaram a segunda dose (ou dose única) há pelo menos 28 dias. Além disso, a recomendação do Ministério da Saúde é que idosos, acima de 70 anos, que completaram o ciclo vacinal há seis meses, também recebam mais uma dose de vacinas Covid-19. Será aplicada a terceira dose da vacina contra Covid-19 em quem tomou qualquer vacina usada na campanha nacional de vacinação e isso será realizado, preferencialmente, com uma dose da Pfizer/BioNTech. Na falta desse imunizante, a alternativa deverá ser feita com as vacinas de vetor viral, Janssen ou Astazeneca.
Para o médico imunologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil, o reforço é necessário nestes públicos para completar o esquema vacinal. “As duas doses dadas não foram suficientes, e essas pessoas continuaram bastante suscetíveis a ficarem doentes. Apesar de duas doses da Coronavac, ainda morre muita gente de 80 anos. A vacina foi muito útil, diminuiu muitíssimo as mortes. Mas é melhor ainda nós termos a terceira dose porque isso vai reforçar o sistema imune dessas pessoas e elas vão chegar num nível melhor de proteção”, esclareceu Kalil em entrevista à CNN Brasil.
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p class=”ql-align-center”>Aplicação da terceira dose da vacina contra Covid-19 começará com idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos (Foto: Jose Fernando Ogura / AEN)
Outro motivo que explica por que será aplicada a terceira dose da vacina contra Covid-19 está nos resultados de um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz e divulgado no mês de agosto. Conforme a pesquisa, a efetividade das vacinas contra a Covid-19 é impactada pela idade de quem toma a dose. De acordo com estudo, feito com 75,9 milhões de pessoas imunizadas com as vacinas Oxford/AstraZeneca e CoronaVac, há uma redução da proteção com o aumento da idade. Esses dados, segundo os especialistas, podem ajudar a orientar decisões de saúde pública, incluindo a necessidade de doses adicionais ou de reforço. Os dados foram coletados entre 18 de janeiro e 24 de julho de 2021.
Conforme a pesquisa, com as duas doses, ambas vacinas oferecem proteção contra casos moderados e graves de Covid-19 e são efetivas na proteção contra a infecção, hospitalização e morte. Em geral, aqueles que tomam AstraZeneca/Fiocruz têm proteção de 90,2% contra óbito e, aqueles que tomam CoronaVac, 73,7%. Considerando, no entanto, a faixa etária das pessoas que tomaram os imunizantes, aqueles com idade entre 80 e 89 anos que tomaram a vacina AstraZeneca/Fiocruz obtiveram um índice de proteção contra morte de 89,9%, enquanto aqueles que tomaram a CoronaVac obtiveram uma proteção de 67,2%. Acima dos 90 anos, esses índices ficaram em 65,4% entre vacinados com AstraZeneca/Fiocruz e 33,6% entre aqueles imunizados com CoronaVac.
E por que será aplicada a terceira dose da vacina contra Covid-19 no público mais idoso?
Segundo os pesquisadores, esses números mostram que pode ser necessária uma dose de reforço vacinal nos indivíduos acima dos 80 anos que receberam CoronaVac e naqueles acima de 90 anos imunizados com a AstraZeneca/Fiocruz. Os dados mostram que essas idades, em um contexto em que há uma disponibilidade limitada de vacinas, como ocorre no Brasil, devem ser priorizadas.
Os profissionais salientam que a queda de efetividade com a idade ocorre também com outras vacinas. Então, já existia a suspeita de que o mesmo ocorreria com as vacinas contra a Covid-19. O estudo mostra qual é a idade que merece maior atenção. Os resultados da pesquisa foram apresentados ao Ministério da Saúde e ao grupo de especialistas em vacina da Organização Mundial da Saúde (OMS).
* Com informações da Agência Brasil
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