Leite materno pode passar anticorpos contra Covid-19 para os bebês?

As gestantes e puérperas fazem parte dos grupos prioritários da vacinação contra Covid-19. Além da proteção dessas mulheres, a vacina tem outro impacto. Um estudo brasileiro mostrou que o leite materno pode passar anticorpos contra a Covid-19 para os bebês. A pesquisa foi conduzida pela Universidade de São Paulo (USP), indicando a presença de anticorpos no leite das voluntárias do estudo, imunizadas com a CoronaVac.

Os pesquisadores observaram que a segunda dose do imunizante aumentou significativamente o nível de anticorpos das gestantes. Em algumas voluntárias, os anticorpos se mantiveram altos no leite materno mesmo depois de alguns meses de amamentação. “O que o estudo mostra que essa vacina também se incorpora ao repertório materno e a mãe vai passando esse anticorpo várias vezes ao dia ao bebê. Esse anticorpo [advindo do leite] é muito interessante, porque tem uma ação fundamentalmente local, quase nada dele é absorvido. Sua ação é em todo o trato gastrointestinal do bebê”, conta a professora Magda Carneiro Sampaio, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. “O leite materno é importante justamente porque carrega um grande repertório de anticorpos, acumulados ao longo da vida da gestante”, explica.

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A pesquisadora esclarece que estudos similares foram realizados em outros países utilizando demais imunizantes contra a Covid-19, como Pfizer, Moderna e Oxford/Astrazeneca. Os resultados também demonstraram que o leite materno pode passar anticorpos contra Covid-19 para os bebês.

Médica pondera

Apesar da boa notícia sobre o leite materno poder passar anticorpos contra Covid-19 para os bebês, há casos confirmados da doença em crianças nesta faixa etária no país, mesmo que sejam isolados.

Segundo a pediatra Flávia Bravo, presidente da Comissão de Informação e Orientação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ainda não há evidências suficientes demonstrando que anticorpos passados pelo leite materno possam realmente proteger os bebês. “A proteção do bebê reside principalmente na proteção da própria lactante que não vai transmitir a Covid-19 para seus bebês. Não existem evidências demonstrando que anticorpos passados pelo leite materno possam realmente proteger os bebês ou crianças que mamam no peito. Essa é uma evidência que nos falta”, aponta.

A médica salienta que, para a mulher que está amamentando, as vacinas contra Covid-19 são seguras. A única restrição existente diz respeito às lactantes que estão nos primeiros 45 dias após parto, o puerpério. “Nessa fase há precaução de evitar as vacinas de vetor viral, como a Oxford/ Astrazeneca e a Janssen, por conta de um evento adverso que aconteceu com uma gestante aqui no Brasil e essa é uma medida de precaução”, salienta Flávia.

Posição da Febrasgo

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomenda que as lactantes tomem a vacina contra Covid-19. “A Febrasgo recomenda a vacinação anticovid para lactantes, não só para proteção da mãe, como para a proteção também do recém-nascido. Existem alguns trabalhos que já comprovam que existe essa transferência pelo leite materno e só não sabemos ainda se a quantidade de anticorpos transferidas garante a proteção do recém-nascido. A puérpera lactante ou a lactante que tomou a vacina não precisa interromper a amamentação”, ressaltou a ginecologista Cecília Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da federação.

* Com informações da Agência Brasil

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