A vacinação contra Covid-19 avança em todo o país e em outras partes do mundo. Isto vem impactando diretamente em números da pandemia, como a queda nos casos confirmados e de mortes pela doença. No entanto, a pandemia ainda não acabou e existem riscos. Entre eles estão novas cepas do coronavírus, que se tornaram um imenso problema nos últimos meses. Então, por que as variantes ameaçam o “fim da pandemia” de Covid-19?
Como o Saúde Debate já trouxe em outras oportunidades, o surgimento de variantes é um comportamento natural do vírus. São mutações para que ele se torne mais forte e sobreviva mais. E é justamente este o problema quando se trata da pandemia de Covid-19.
Atualmente, cerca de dois terços da população brasileira tomou pelo menos uma dose de um imunizante contra a doença – o que não confere um bom percentual de proteção, e cerca de 40% está com o esquema vacinal completo, garantindo um nível de proteção mais adequado. Entretanto, como não existe vacina 100% eficaz, os imunizados devem continuar adotando todas as medidas de prevenção ao coronavírus.
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Mas, com o impacto positivo da vacinação, mesmo ainda sem a maior parte da população brasileira com as duas doses (alguns estados e municípios atingiram índices superiores a 60% na população adulta), houve a decisão pela flexibilização acentuada de atividades presenciais e até mesmo se pensa na retomada do Carnaval 2022 com os eventos de rua. Especialistas citam que novas variantes ainda podem surgir, mesmo com o avanço da vacinação, em função da maior circulação das pessoas e na tentativa do vírus “escapar” da proteção gerada pelos imunizantes. Por isso, as variantes ameaçam o “fim da pandemia” de Covid-19.
O professor de Imunologia Clínica e Alergia da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil, explica que as variantes são um enorme desafio. “Elas podem escapar da resposta imune estabelecida pela vacinação. Vacinas melhores estarão disponíveis no futuro, que cubram as diversas variantes e que protejam não só da doença, mas também da infecção no nariz, pois mesmo imunizados podem se infectar e passar a doença para outras pessoas”, afirma. Este será um dos temas apresentados por Kalil durante o 48º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, que acontece de 30 de outubro a 1º de novembro, no qual será palestrante.
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p class=”ql-align-center”>Jorge Kalil (Foto: IEA – USP)
O especialista lembra que, diante deste cenário, as pessoas que se recusam a tomar a vacina contra Covid-19 podem comprometer a chamada “imunidade de rebanho”. “Sabemos que na Flórida (EUA), por exemplo, 92% dos pacientes internados com Covid-19 não são vacinados. Se houver muita gente não vacinada, o vírus continuará a circular e mais mortes ocorrerão”, afirma.
O risco de as variantes ameaçarem o “fim da pandemia” de Covid-19 tem como exemplo da variante Delta, que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que será a cepa predominante em todo o mundo. Ela foi a responsável por uma onda de casos em vários países, mesmo após o avanço na vacinação, mas quando ainda havia brechas na imunização da população. Além disto, especialistas lembram sobre como cai o nível de imunidade conforme a idade.
“Os idosos e os imunocomprometidos não alcançaram o nível de imunidade possível com as duas doses de Coronavac. Veja que a vacina tem por volta de 30% de efetividade em pessoas acima de 80 anos. Estudos do meu laboratório de imunidade celular e anticorpos mostram que, a partir de 55 anos, não é adquirido o nível de imunidade aceitável. Por isso, a necessidade de uma terceira dose para completar a vacinação. E deverá ser feita com outra vacina, preferencialmente a da Pfizer. Outra questão é a dose de reforço que está sendo feita em outros países porque a imunidade está caindo e a variante Delta está trazendo muitos casos novos. A Janssen foi utilizada em outra faixa etária e estudos estão sendo feitos nos EUA sobre a necessidade de ampliar a vacinação para este produto”, declara.
De acordo com ele, ainda não é possível saber sobre prazos para as imunizações e se até mesmo a vacina para a Covid-19 será anual, como acontece com a vacina contra a gripe. “Não temos dados suficientes. Depende também da circulação de novas variantes”, salienta Kalil.
* Com informações da assessoria de imprensa
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