Infectologista explica o surgimento de novas variantes do coronavírus

    O surgimento de novas variantes do coronavírus se tornou uma das preocupações de autoridades de saúde, especialistas e da própria população. Isto ficou ainda mais evidente depois do colapso no sistema de saúde em Manaus (AM), após uma alta no número de casos de Covid-19 na região. Uma das explicações foi a identificação de uma nova variante no estado. 

    Além da cepa do Amazonas, também já foram identificadas novas variantes na Inglaterra e na África do Sul, que também geraram uma série de preocupações. Além de reações locais, houve, por exemplo, a suspensão de voos destes países para outras partes do mundo, com o objetivo de evitar a transmissão dessas cepas.

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    O médico infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, que atua no serviço de epidemiologia do Hospital de Clínicas, vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), esclarece que variantes são algo esperado dentro da família dos vírus. “Já era um conceito conhecido sobre mudanças genéticas ao longo do tempo, e com o coronavírus não é diferente. O vírus sofre mutações ao longo do tempo. Isso é inerente à replicação viral. À medida que o vírus se multiplica, erros desta etapa acontecem aleatoriamente”, afirma.

    De acordo com ele, a maior parte desses “erros” não é boa para o próprio vírus, para a sua sobrevivência coletiva. Essa variante que não traz benefícios ao próprio vírus não perdura por muito tempo e morre. “Porém, eventualmente, acontece uma mutação que confere um benefício para o vírus. Esse benefício torna-o mais capaz de se manter no ambiente”, indica. 

    Almeida conta que o surgimento de novas variantes está acompanhado de três características principais: maior capacidade de transmissão; capacidade de “burlar” o sistema imune, ou seja, as mudanças no vírus fazem com que ele não seja mais reconhecido pelo sistema imunológico das pessoas; e o potencial em gerar uma infecção mais grave. 

    O médico infectologista salienta que variantes que têm vantagens adaptativas tendem a passar a dominar aquela população de vírus. “Por isso, é importante o monitoramento, por meio do sequenciamento genético e amostragem dos casos. Assim, você consegue acompanhar qual é o padrão de mutações que está passando a dominar aquela população e cruzar as informações com velocidade do número de casos, com gravidade daqueles casos, em comparação com variante anterior”, declara.

    Existem mais de 200 variantes do coronavírus conhecidas, segundo Almeida. No entanto, a maior parte não faz diferença na prática. Foi o surgimento de novas variantes do coronavírus, que possivelmente trazem alguma das características já citadas, que passou a causar mais preocupação e chamar atenção de todo o mundo.

    O médico lembra que, diante disto, a população também deve cumprir seu papel e não baixar a guarda. “A população já entendeu que o problema não é tão simples assim. E que esse ano será mais um que vai exigir mais um pouco de todo mundo, de prevenção, autocuidado pessoal e cuidado coletivo. É preciso usar a máscara e evitar interações sociais não essenciais e as viagens, até existir um controle mais sustentável do vírus, o que tende a correr a médio e longo prazo, dependendo da velocidade da vacinação. Esta é a variável mais relevante a longo prazo que teremos, além da capacidade das empresas de produzirem a vacina e também de se adaptar a essas novas variantes”, opina.

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