Interoperabilidade já é realidade no país; na saúde, potencial para salvar muitas vidas

interoperabilidade
(Foto: Freepik)
A interoperabilidade é conhecida em vários setores econômicos globais, como sistemas bancários, emissão de documentos, departamentos de trânsito e telefonia. Mas, e na saúde? O assunto é tão fundamental para o desenvolvimento do País que o Governo Federal criou a Secretaria de Informação e Saúde Digital, que assumiu, dentre as prioridades, os avanços do compartilhamento de dados como vacinação, internação e exames, gerando assim a transmissão segura de informações de saúde de todos os brasileiros.
O Brasil tem, sim, conhecimento e capacidade intelectual e tecnológica para fazer uma integração de qualidade no sistema de saúde, incluindo clínicas, laboratórios, unidades básicas, emergências – e já tem avanços significativos. O Meu SUS Digital, antigo ConecteSUS e que foi baixado por milhares de celulares principalmente na época da pandemia por conta da vacinação, evoluiu e agora prevê a informatização e integração dos dados dos brasileiros entre estabelecimentos de saúde e os órgãos de gestão a nível federal.
Porém, desde já destaco que esse esforço não é somente do setor público. Empresas privadas devem se unir também em uma busca de uma centralização de informações sobre os seus pacientes e viabilizar meios de se conectar ao sistema nacional e, assim, entregar para a população uma gestão centralizada e organizada do seu próprio histórico de saúde. Afinal, todos os brasileiros merecem ter essa assistência.
Isso é uma realidade, por exemplo, com bancos. Nas transações entre instituições financeiras a interoperabilidade é considerada natural para o usuário do sistema que compartilha suas informações através de seu consentimento e ele escolhe quais dados podem ser utilizados pelas instituições. O cliente dono dos seus dados ganhar autonomia e a instituição tem a chance de ofertar melhores produtos e conhecer os clientes com mais profundidade. E é um organismo de tecnologia que une o privado com o público, com órgãos, autarquias, instituições e, em alguns casos, países. E o Brasil, mais uma vez, é vanguarda também nesse setor.

Por que não pensar no mesmo para a saúde?

Vimos até aqui que a interoperabilidade já é uma realidade no país. No mercado em que analisamos, se refere à capacidade de diferentes sistemas de saúde e dispositivos médicos se comunicarem e trocarem informações de forma eficiente e sem barreiras. Aqui, vamos destacar o que a população ganha quando ocorre esse investimento.
Um dos principais pontos é o histórico hospitalar: quando o paciente chega para um atendimento, o profissional de saúde pode olhar o histórico dos atendimentos, exames, tratamentos e procedimentos pelos quais o enfermo já passou. Aí, pode ter a lista, também, de alergias, remédios que eventualmente não fizeram o efeito necessário, e laudos de outras especialidades médicas.
O paciente poderia passar esse histórico, em vez de ter que construir uma estrutura de tecnologia nacional para isso? Sim, realmente poderia. Mas sabemos que inúmeros fatores podem comprometer a qualidade desse relato, como esquecimento, perda de exames, a dificuldade em se expressar, a vergonha em assumir alguns tipos de problemas e, sim, mentir. Com a interoperabilidade, nada disso será problema.
Outro grande benefício é a redução de custos. Sim, mesmo que todos tenham que fazer um aporte considerável em tecnologia, o retorno do investimento pode ser breve. Essa economia vem de exames que não precisam ser refeitos, de encaminhamentos que poderiam ser evitados, de transporte entre unidades de saúde não necessários, desperdício de impressões, entre outras situações. Além disso, em caso de transferência do paciente para outras jurisdições, não seria necessário recolher muitas informações que podem ser consideradas repetidas para poder reiniciar um tratamento.
A integração entre as áreas da medicina é um ganho importante da interoperabilidade. A possibilidade de disponibilizar o histórico de um paciente a uma equipe interdisciplinar aumenta a probabilidade de acerto no tratamento. Além disso, poder receber opiniões para emissão de laudos e consultar profissionais da saúde que tenham especialidades, mesmo estando fisicamente em outros lugares, é imensurável. A interoperabilidade é fundamental para prover esse benefício.

5G

Um importante aliado na interoperabilidade é a expansão do 5G. Mesmo ainda com cobertura em expansão no país, já podemos afirmar que ele pode ser um divisor de águas para o avanço dessa tecnologia. Em março, o Brasil chegou oficialmente a 3.678 municípios, um pouco mais de 66% do total, com a faixa de 3,5 GHz disponível. Porém, apenas 699 dessas cidades contam com ao menos uma licenciada – atingindo 134 milhões de brasileiros.
Esse avanço oferece velocidades de transmissão de dados muito mais rápidas e uma largura de banda significativamente maior em comparação com as tecnologias anteriores. Isso permite a transferência rápida de grandes volumes de dados, como imagens médicas de alta resolução, registros de saúde eletrônicos e informações de monitoramento de pacientes.
Com o 5G, os profissionais de saúde podem acessar informações de saúde e colaborar com colegas de forma remota e em tempo real. Isso é especialmente importante em áreas onde especialistas podem não estar facilmente disponíveis, permitindo uma melhor coordenação do cuidado e tomada de decisões mais informadas. Por ser capaz de suportar um grande número de dispositivos conectados simultaneamente, ele se torna crucial em ambientes médicos, onde uma variedade de dispositivos, desde dispositivos vestíveis até equipamentos de diagnóstico por imagem.
Em locais do Brasil cuja internet é de baixa qualidade, o 5G oferecerá vai permitir o acesso a serviços de saúde remotos mesmo sem uma infraestrutura de internet robusta. As consultas médicas por vídeo podem ocorrer cm menos interrupções e atrasos, garantido uma comunicação mais eficaz entre médicos e pacientes.
A Transmissão de dados se torna mais eficiente, como imagens, registros eletrônicos e sinais vitais, permitindo diagnóstico mais preciso e um acompanhamento mais eficaz do tratamento.
Nesse contexto, a interoperabilidade é fundamental para o avanço da medicina no Brasil. O país, com tanto pioneirismo na saúde e na tecnologia, pode ser o primeiro também em um conglomerado informacional que una as iniciativas públicas e privadas, órgãos governamentais, entidades, autarquias, ongs e outros players fundamentais para o desenvolvimento do setor, diminuindo as chances de erros de tratamento e economia de recursos, proporcionando que investimentos sejam direcionados para onde de fato se precisa. O paciente agradece.
* Renan Delgado é gerente de tecnologia e inovação digital da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI)

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