“Doa a quem doer, doe sangue” já ensinava em forma de música o antigo seresteiro. Pedido que é ainda mais significativo nesta segunda-feira (14), data em que se comemora o Dia Mundial do Doador de Sangue. E ganha caráter de urgência quando se olha o estoque de plaquetas e hemácias do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar).
O banco de sangue do Estado está 40% abaixo do recomendável. Em algumas unidades, como a de Curitiba, a redução no número de doadores foi de aproximadamente 50%. Dificuldade impulsionada pelo aumento da demanda nos últimos 40 dias, explicou a diretora-geral do Hemepar, Liana Labre de Souza. De acordo com ela, as unidades têm sido bastante exigidas em decorrência do salto no número de acidentes com traumas, especialmente àqueles automobilísticos.
Leia também: Com aumento nos acidentes de trânsito, transfusões de sangue são mais necessárias
Leia também: Junho Vermelho incentiva doações de sangue
“O momento é grave, precisamos de doação. Nosso estoque de plaquetas e hemácias não chega a três dias. São cerca de duas mil bolsas de sangue a menos por mês quando comparamos com o mesmo período do ano passado. Caiu de 13 mil para 11 mil doações em média”, afirmou a diretora.
Ela destacou que o Hemepar é responsável no Paraná pela coleta, armazenamento, processamento, transfusão e distribuição de sangue para 385 hospitais públicos, privados e filantrópicos, além de atender 92,8% de leitos SUS no Estado. A necessidade de coleta para atender apenas a demanda em Curitiba e Região Metropolitana, por exemplo, é de cerca de 180 bolsas por dia. Com a pandemia da Covid-19, o número de coletas está em torno de 100 bolsas ao dia.
“É o momento de a população ajudar”, disse Liana.
A diretora ressaltou ainda que o órgão adaptou todo o fluxo de atendimento para trazer segurança na prevenção da Covid-19 na hora de doar. O agendamento é online e o atendimento é feito com oito pessoas a cada meia hora para evitar aglomerações, com utilização de álcool gel 70% e profissionais que atuam no atendimento devidamente paramentados.
Para quem tiver interesse, o Hemepar está distribuído em todo o Estado. A pessoa que quiser contribuir deve ter entre 16 e 69 anos (menor de 18 anos apenas acompanhado pelo responsável legal); pesar no mínimo 50 quilos; estar em boas condições de saúde; estar descansado e alimentado (deve evitar alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação) e apresentar documento oficial com foto.
IRMÃOS DE SANGUE – A celebração do dia do doador de sangue serviu de gatilho para as amigas Daiana Cristina da Cruz e Diuliane Batista Almeida, ambas com 27 anos, pegarem o rumo do Hemepar, em Curitiba. Devidamente trajadas com a camiseta “Irmãos de Sangue”, grupo que reúne cerca de 30 voluntários da Região Metropolitana de Curitiba, elas ajudaram a amenizar um pouco o drama do órgão.
“Há quatro anos que sou doadora. Três vezes por ano faço a minha parte e incentivo os outros a fazerem a parte deles também”, disse Daiana. “Faço aniversário hoje (segunda-feira, 14) e vim comemorar aqui, doando um pouco do meu sangue. É maravilhoso saber que com um gesto simples você pode salvar até quatro vidas”, acrescentou Diuliane.
*José Fernando Oura/AEN
VACINADO PODE DOAR – Pessoas imunizadas contra a Covid-19 podem fazer doações de sangue normalmente, desde que aguardem o período estipulado para cada tipo de vacina. A Coranovac/Butantan estabelece um prazo de 48 horas após a aplicação para que o cidadão possa fazer doação de sangue. A AstraZeneca/Fiocruz e a Pfizer/Comirnaty/BioNtech pedem o intervalo de sete dias para a doação.
QUEM JÁ TEVE COVID-19 – Liana reforçou também o pedido para que pessoas que já se recuperaram da Covid-19 ajudem outros pacientes de uma forma bastante simples: doando plasma. Um dos componentes sanguíneos, justamente a parte líquida do sangue, o plasma de pacientes que tiveram a doença pode concentrar uma grande quantidade de anticorpos que agem no combate à infecção – é o chamado plasma hiperimune ou plasma convalescente.
Leia também: Hemepar busca doação de plasma de pacientes que tiveram Covid-19
Desde o ano passado, Hemepar faz a coleta e a produção de plasma hiperimune para repassar a hospitais que usam a terapia como alternativa no tratamento dos pacientes internados. Para isso, o paciente recuperado precisa esperar até 45 dias do diagnóstico do RT-PCR ou 30 dias após o fim dos sintomas. Também é necessário agendar a coleta no Hemepar.
A coleta de sangue pode ser feita em qualquer unidade da Hemorrede no Paraná. Já a coleta somente do plasma, nas doações por aférese, é feita apenas em Curitiba, assim como a produção do material que é destinado aos hospitais. Para isso, o sangue do doador é analisado para ver a quantidade de anticorpos IgG (Imunoglobulina G) circulante. Caso haja uma boa titulação de anticorpos, é feita a produção. Cada bolsa de sangue produz 200 ml de plasma hiperimune.
Na outra técnica, a doação por aférese, uma máquina separa todos os componentes primários do sangue, podendo coletá-los individualmente. Dessa forma, só o plasma é retirado, e em maior quantidade.
A transfusão de plasma convalescente é experimentada há tempos como terapia para doenças infecciosas. Chegou a ser usada na pandemia de gripe espanhola, no início do século passado, e também em surtos mais recentes, como do sarampo, da influenza e até do ebola.
No caso da doença causada pelo novo coronavírus, a transfusão é feita no início da infecção, nos primeiros cinco dias, em pacientes que não estejam com o pulmão muito comprometido e sempre com autorização dos familiares. “Temos efetivamente bons resultados com o plasma convalescente, fazendo com que as pessoas não avancem para um estágio mais grave da doença, sem a necessidade de internação na UTI”, afirmou Liana.
Leia também: Humanização: histórias de vida dos pacientes com Covid-19