Em um momento de hospitais lotados em função do número de pacientes com Covid-19, salvar vidas é a prioridade. O tempo de internamento, muitas vezes, é longo. Em meio à pandemia e à crise pela qual passamos, surgem iniciativas de profissionais de saúde voltadas para a humanização no tratamento dos pacientes. Em uma das ações, por exemplo, a ideia é inspirar aqueles que estão na linha de frente com as histórias de vida daqueles que dependem de todo cuidado.
Com o objetivo de conectar as equipes assistenciais com o que há de mais humano e singular em cada paciente, a psicóloga Márcia Melo de Oliveira Santos, que atua na UTI Covid do Complexo Hospital de Clínicas, vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), criou um projeto de humanização inspirado em experiências de cuidado centrado no paciente. A proposta chamada de “Minibiografia” surgiu da percepção da psicóloga sobre o quanto que as informações sobre a história de vida do paciente, obtidas por meio da abordagem às famílias, poderia gerar maior proximidade, vinculação e empatia da equipe.
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“A doença, seus sintomas e prescrição não garantem isso, mas fragmentos das histórias de vida dos pacientes trazem essa possibilidade de conexão e intimidade. Logo, pensei numa espécie de formulário bem sucinto que pudesse ser acessível e cujo dados pudessem retratar o que individualiza aquela pessoa, permitindo acesso a um pouco de sua essência”, explica Márcia.
Assim, a proposta de uma pequena síntese de sua biografia se mostra como uma chance de acessar os “sinais vitais” fundamentais não aferidos na tela de monitoramento, como se fosse uma oportunidade de diagnosticar o paciente além de sua condição clínica, mas enquanto indivíduo. As “Minibiografias” ficam afixadas abaixo dessas telas, justamente por entender-se que é algo que fala desse ciclo vital do paciente e do que mais importa para cada um deles.
“Percebemos um efeito imediato na equipe que, a partir das informações veiculadas, passam a interagir mais com o paciente, conversar e compartilhar músicas, tudo a partir do que faz sentido para o paciente”, relata a psicóloga.
Logo, tem ocorrido um efeito real na assistência, na relação estabelecida e na singularidade desse contato. A própria equipe, principalmente profissionais de enfermagem, já alertam a psicóloga sobre a chegada de novos pacientes e se está faltando a “Minibiografia”. Pacientes que ficam acordados e comunicativos na unidade relataram sentirem-se considerados e acolhidos a partir do interesse de ter acesso a informações sobre sua rotina e história de vida.
Os familiares ainda não tiveram a chance de visualizar a “Minibiografia”, mas falar sobre o que seu ente querido gosta e o que é mais importante para ele tem permitido uma maior vinculação e sensação, nessa família, de que seu familiar está sendo considerado em sua individualidade, o que faz toda diferença num momento em que essa família está distante e sem poder cuidar pessoalmente do paciente como gostaria.
Outra ação que vem sendo implementada para comemorar as altas, por exemplo, ou transferências de unidades – que demonstram melhora nos quadros. Além disso, há ainda ações voltadas para cuidado e motivação da equipe, que são o mural montado na unidade “Janela da Esperança” e o grupo de autocuidado para os profissionais.
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