“Nossos desafios estão longe de serem superados, mas estamos lutando, e cada batalha vencida é uma motivação a mais para continuarmos em frente”. Esta foi uma das frases do presidente Anderson Mendes durante a abertura oficial do 24º Congresso Internacional UNIDAS – Desafios da saúde coletiva no segmento suplementar, realizado entre 1º e 3 de dezembro de 2021, no Centro Internacional de Convenções do Brasil – CICB, em Brasília-DF, e transmitido ao vivo para mais de 2,3 mil pessoas, somando o público presencial e virtual, entre eles, 79 presidentes e CEOs; 56 gestores; 180 diretores; 282 gerentes; 139 coordenadores e supervisores; 33 assessores; 271 analistas, 37 auditores e mais 1.000 técnicos. Também tivemos 43 palestrantes e mediadores, além de 57 empresas patrocinadoras e 2 empresas apoiadoras. No total, 82 autogestões estavam presentes.
O presidente também aproveitou a oportunidade para anunciar a mais nova iniciativa da UNIDAS: “seremos a primeira entidade a criar um escritório de valor em saúde”. De acordo com ele, a ideia é fruto de uma parceria com a 2iM, na qual os técnicos das filiadas serão formados em VBHC, para discutir modelos de implantação e acompanhar pilotos de execução. “Esta será, sem dúvida, a construção da primeira página de uma nova história”, acrescentou.
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Mendes também destacou os desafios do setor. “Muitos me perguntam como estamos vendo o cenário pós-pandemia na saúde suplementar do Brasil, com os indicadores financeiros preocupantes em todos os segmentos de operadoras de planos de saúde. Eu sempre respondo com outra pergunta: o que estamos fazendo diferente do que fazíamos em 2016, 2017, 2018 ou 2019? Por que esperar resultados diferentes, se não mudamos na prática? O futuro é muito desafiador”, enfatizou.
Além disso, ele fez um alerta sobre os aumentos de despesas assistenciais das autogestões, sem contrapartida semelhante nas receitas. “Os custos crescem, em média, 17,5% ao ano. Ou seja, ele dobra a cada cinco anos”, afirmou. Segundo o presidente da UNIDAS, a pandemia do coronavírus deu uma sobrevida para o setor, já que as pessoas deixaram de realizar uma série de procedimentos. Contudo, este cenário deve se reverter e trazer sérios problemas para as operadoras. “A corda talvez estivesse prestes a romper, de tão esticada, mas a pandemia, que ceifou a vida de tantas pessoas pelo mundo, deu sobrevida às operadoras com os resultados de 2020. Assim como um tsunami, a água que baixou parece ser presságio de uma nova onda de custos que pode afogar a todos”, destacou. Ele também falou sobre o papel da UNIDAS para apoiar as autogestões na mudança necessária para a sobrevivência do setor.
Mendes encerrou sua fala agradecendo aos colaboradores que trabalharam para possibilitar a realização do evento. “Agradeço também a nossa diretoria, aos conselhos deliberativo e fiscal, além dos que atuam nas superintendências e os nossos patrocinadores. Meu muito obrigado aos curadores dos painéis que trouxeram conteúdos de extrema qualidade”. O presidente da UNIDAS também falou sobre a importância do papel ativo das filiadas dentro da entidade, ressaltando que elas não só acreditaram e apoiaram o projeto, mas vêm demonstrando um espírito de união, com colaboração mútua, fazendo acontecer o propósito da instituição na prática. Mais uma vez o presidente enalteceu que a UNIDAS veste a camisa de todas as autogestões, mas só as filiadas vestem a camisa da UNIDAS.
Mudança de comportamento
O professor titular e vice-diretor da FGV-EBAPE, Eduardo Andrade, foi o responsável pela palestra magna do 24º Congresso Internacional UNIDAS. O tema foi “A ciência da mudança de comportamento” e quais fatores fazem com que o ser humano altere um determinado hábito. O primeiro fator, segundo Andrade, é o financeiro. “Incentivos em dinheiro funcionam, mas é preciso prestar atenção na sua abrangência temporal e geográfica”, afirmou. Além disso, em alguns casos, criar um desincentivo financeiro, porém com baixo impacto, pode incentivar o comportamento que se queria evitar. “A lógica econômica é: se o custo da intervenção é mais baixo que a consequência da não intervenção, eu pago para fazer isso”, explicou Eduardo.
Existem também incentivos para mudança comportamental por meio de gatilhos emocionais como: orgulho, culpa e vergonha. “Despertar sentimentos também é uma maneira de provocar mudanças comportamentais. Um bom exemplo são os hotéis que incentivam as pessoas a não trocarem as toalhas para diminuir o impacto no meio ambiente. Claro que esse impacto existe, mas o hotel também tem um ganho financeiro ao economizar lavagens”, explicou. Para Eduardo, as mudanças comportamentais só ocorrem de maneira permanente quando três fatores se unem: acessibilidade (tornar acessível a informação que conscientiza o ser humano sobre a importância daquela mudança de hábito), desejo (ou seja, fazer com que aquela mudança seja vista como algo positivo e desejável) e facilidade (o processo para realizar aquela mudança de comportamento precisa ser simples).
Futuro dos Planos de Saúde no Brasil
Na sequência, representantes de entidades da Saúde Suplementar se reuniram para um bate-papo sobre “O futuro dos planos de saúde no Brasil: Potencialidades e Oportunidades”. Participaram da discussão, o presidente da Cassi, Castro Júnior; o presidente da Bradesco Saúde, Manoel Peres; e o conselheiro estratégico de Hospitais e Oncologia do Dasa, Paulo Chapchap. A moderação foi conduzida pelo presidente da Seguros Unimed, Helton Freitas.
Freitas abriu a conversa destacando que os principais desafios do segmento hoje são o controle de custos e o ganho de escala. “Estamos vivendo uma crise e nosso negócio está ligado diretamente à capacidade econômica da sociedade. Por isso, precisamos ser mais eficientes nos custos para proporcionar saúde de qualidade”, destacou. “Temos que buscar novos modelos de negócios que sejam mais eficientes e reduzam desperdícios e fraudes. O fee for service não cabe mais, pois é um impulsionador do aumento de custos”, completou. Para o executivo, um dos caminhos para resolver a questão é ganhar escala. Segundo ele, “as pessoas querem ter acesso à saúde suplementar”. Contudo, a atual legislação, engessada, impede a criação de novos produtos que permitam uma maior inclusão e valores mais acessíveis. O presidente da Seguros Unimed destacou ainda que a tecnologia será um fator de transformação. Porém, lembrou que é necessário ter as regras do jogo mais claras e também destacou, em sua fala, a importância do fortalecimento da governança na saúde suplementar.
Castro Júnior falou sobre o reposicionamento estratégico da CASSI, que engloba um forte investimento em telemedicina, atenção primária à saúde, integração de custos, interoperabilidade, gestão de casos, inteligência artificial e uso de ferramentas de Analytics. Disse ainda que “se não tivermos um pensamento disruptivo diferente do que temos hoje, não existirão mudanças. Temos analisado os grandes problemas do presente e os que viveremos no futuro. Observamos um atendimento muito mais qualificado quando podemos contar com programas específicos para redução de despesas para as operadoras. As empresas que não estão fazendo adequações com as novas tecnologias, não terão condições de se manter no mercado em um futuro próximo”.
De acordo com Castro, diversas empresas que não conseguiram oferecer novas condições aos seus beneficiários fecharam as portas. “Na CASSI, estamos buscando as startups, pois são essas empresas de mercados diferentes do nosso que podem proporcionar luz, para que consigamos trazer coisas novas. É um processo inevitável dentro da nossa realidade”, disse. “A comodidade que chega as nossas mãos por meio da transformação digital é ilimitada; portanto, precisamos entrar com força nesse mundo”, afirmou o presidente da maior operadora de autogestão do país ao apresentar o plano de transformação desenhado pela CASSI.
Manoel Peres, da Bradesco Seguros, salientou que o setor é marcado pela questão econômica e que emprego e renda são os grandes desafios dos gestores das maiores operadoras. Para ele, a tecnologia chegou para transformar profundamente a relação entre planos de saúde e consumidores. “Neste período da pandemia, atendemos milhares de pessoas utilizando a telemedicina, facilitando o acesso dos beneficiários sem que tivessem que ir ao hospital. O objetivo é promover o uso responsável dos recursos de saúde, por meio de um estilo de vida saudável. Incentivar a integração da prestação de serviços da rede credenciada é o nosso papel”, afirmou. Ele lembrou que o acesso à saúde é o terceiro maior objeto de desejo das pessoas; por outro lado, elas estão cada vez mais exigentes com os serviços prestados. “Por essa razão, é necessário oferecer qualidade e acesso. Esses são nossos desafios”, destacou.
Por último, Paulo Chapchap pontuou sobre os impactos da gestão de saúde no desafio de abrir clínicas digitais, inclusive para os beneficiários. “Estamos em um momento de transformação cultural e tecnológica, com as duas coisas acontecendo ao mesmo tempo, trazidas pela pandemia”, disse. Ele afirmou que a telemedicina proporciona um maior acesso e acolhe o beneficiário, além de desafogar os prontos-socorros. “O atendimento por telemedicina resolve parte desse problema – a triagem on-line diminuiu as consultas presenciais em 40%. A tecnologia trouxe grandes avanços e trará cada vez mais”, afirmou.
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Perspectivas e visões sobre o futuro da saúde no mundo
O Painel 1 – “Perspectivas e visões sobre o futuro da saúde no mundo”, último do primeiro dia de Congresso, contou com a presença do consultor e fundador da Innovatrix, Clemente Nóbrega, e do ex-presidente da ANS, Rogério Scarabel. A moderação foi realizada pelo sócio-líder de Life Sciences & Health Care da Deloitte, Luís Fernando Joaquim, que apresentou as perspectivas de mercado global. “A pergunta que não quer calar é se as pessoas estão ou não preparadas para o futuro da saúde. É necessário pensar diferente e agir diferente nessa nova era”, disse o especialista. Joaquim conduziu a conversa propondo questões para os dois debatedores sobre o impacto da tecnologia no setor, a tendência de fusões e como as startups vão transformar o segmento.
Para Clemente Nóbrega, a telemedicina não é modismo e a transformação tecnológica é um caminho sem volta. “Esse tipo de serviço veio para ficar e as startups têm papel fundamental nesse processo. Elas estão trazendo um mundo de necessidades não satisfeitas no sistema de saúde”, afirmou. “Nossa maneira de analisar todas essas mudanças na saúde é incluindo os resultados dos tratamentos. Desse modo, as startups conseguirão apresentar os resultados, o que estava faltando no segmento de saúde. Elas têm potencial de revolucionar nosso mercado e melhorar a percepção de valor dos nossos pacientes”, frisou.
Scarabel ressaltou que antigamente os profissionais tinham receio da telessaúde, mas que a pandemia acelerou esse modelo de prestação de serviço. “As relações foram agilizadas em 25 vezes e as operadoras que estiverem mais próximas e que conseguirem sair na frente terão uma vantagem competitiva. As autogestões estão fazendo isso muito bem. Não tenho dúvida que sabemos onde estamos e o lugar que desejamos chegar, com um custo acessível e racional para que o paciente tenha exatamente aquilo que precisa” disse o ex-presidente da ANS.
Inovação na construção de valor em saúde: mudança de modelos e busca de soluções integradas
A mesa-redonda que reuniu o professor e médico, Robert Janett, da Harvard Medical School; Cesar Abicalaffe, presidente do IBRAVS – Instituto Brasileiro de Valor em Saúde; Pedro Magalhães, coordenador de implementação de VBHC no Joinvasc; e que teve a moderação de Vilma Dias, consultora de Gestão em Saúde e APS, discutiu como pensar em soluções integradas de cuidado com o paciente. A moderadora abriu o painel destacando que a Atenção Primária é um desafio enorme para todos, assim como a integração das redes. “Hoje, temos uma rede fragmentada no cuidar das pessoas e com pouquíssimos indicadores para medir os resultados. Mas essas dificuldades não sobrepõem o desafio da sustentabilidade, e nem o de acabar com o desperdício que existe na saúde suplementar”, afirmou.
Na sequência, o professor Robert Janett falou da agenda compartilhada de saúde e como pensar o modelo de forma diferente. “Precisamos mudar a cabeça do gestor e do paciente”, afirmou. Segundo o especialista, as pessoas já têm uma ideia fixa do que é um sistema de saúde eficaz. Por isso, criar um novo modelo demanda mudar essa mentalidade. Ele também tratou da agenda compartilhada, destacando a importância do prestador e dos pacientes nesse fluxo. “Esse processo não tem como ser feito sem o engajamento dos médicos. Todos queremos o mesmo: melhorar o atendimento aos beneficiários. Porém, raramente encontramos o perfil epidemiológico das pessoas, tanto no Brasil, quanto em outros países. Nesse sentido, precisamos identificar os gaps para melhorar nossa performance”, esclareceu.
Segundo o especialista, os pacientes precisam de acesso fácil e gestão, além de um modelo mais contemporâneo de medicina. “A integração entre o médico e o paciente, além de um sistema organizado, deixa o médico mais feliz, tendo todas as ferramentas necessárias para atuar”, complementou. Para ele, dentro dessa visão, o papel da Atenção Primária é fazer o controle completo da situação do paciente. “Sabemos que os planos querem melhorar a saúde dos seus beneficiários, e o médicos também. Precisamos fazer a integração desses desejos para entregar o valor que o paciente espera”, destacou.
Em seguida, Pedro Magalhães apresentou o programa de cuidado com os pacientes que tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC), implementado no município de Joinville (SC), que tem como premissa o cuidado integrado e a atenção primária. “O sistema de saúde necessita repensar seu papel de cuidar das pessoas, e não apenas tratar doenças. A APS reduz significativamente os custos e proporciona mais saúde à população”, afirmou. Pedro também explicou que o programa tem um olhar diferenciado para o custo do paciente – incluindo no cálculo os “gastos invisíveis” para calcular o ROI. “A gente não calcula o custo do acompanhante que deixa de trabalhar para ficar com o paciente no hospital, por exemplo.” O especialista conta que, com esse olhar integrado, o programa da cidade conseguiu reduzir em 37% a incidência de AVCs e, hoje, 83% da população que teve a doença busca a rede pública por conta da excelência no atendimento – reconhecida por todos, mesmo na parcela que possui plano de saúde.
Finalizando o painel, Cesar Abicalaffe apresentou a metodologia para calcular valor em saúde, que tem três premissas como pilar: avaliação do corpo clínico; avaliação dos prestadores; e avaliação das linhas de cuidado. “Com essas análises, é possível organizar os indicadores e ter um norte de trabalho. É fundamental também entender o que é ou não pagamento baseado em valor. A adesão do paciente à linha de cuidado pode reduzir em até 22% o custo do tratamento”, disse.
ESG: O futuro dos negócios
Principal foco de nove entre dez grandes companhias, o ESG (sigla em inglês para “environmental, social and governance”) é um conceito usado para práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. O tema foi pauta de um amplo debate com empreendedor tech/social Gustavo Glasser, CEO da Carambola, mediado por Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin.
Para Glasser, as práticas de ESG são fundamentais para se medir que companhias têm, de fato, impacto social. “Quando combatemos a desigualdade, estamos combatendo várias questões, e isso tem tudo a ver com transformação digital”, explicou o empreendedor, lembrando que gestão de pessoas não é mais uma área, mas sim uma competência que o marketing deve possuir, assim como o financeiro e todos os demais departamentos. “É importante perceber o potencial de inclusão do setor. Pensar no ESG como uma oportunidade de negócio e gerar mais oportunidades é um caminho sem volta”, afirmou. Ele falou também sobre o modelo de negócios da Carambola. “Nosso negócio é voltado as demandas do digital e a gestão da diversidade. Oferecemos para o mercado mão de obra qualificada em TI e diversa, já que nosso foco é treinar minorias”, destacou. Para Gustavo, a sociedade passa por um modelo de transformação profundo e a demanda por diversidade é um fato. “É imprescindível ter estratégias objetivas para que a mudança cultural seja gradativa”, explicou.
Lídia Abdalla comentou como o Sabin tem tratado os pilares de ESG dentro da organização. De acordo com ela, o grupo tem uma responsabilidade com a sociedade como empresa, com o intuito de gerar valor a todos os seus stakeholders – colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade, sociedade e governo. “Temos a obrigação de entender que temos que responder as demandas dos nossos clientes e da sociedade. E fazemos isso por meio do Instituto Sabin, o qual tem o papel de fomentar a inovação social e seu impacto”, afirmou.
Privacidade e gerenciamento de identidade e segurança da informação
Para discutir o enorme desafio de segurança de dados, o painel “Privacidade e Gerenciamento de Identidade e Segurança da Informação” reuniu a professora Carla Barbosa, da Universidade de Coimbra; Nathalia Pompeu, superintendente Jurídica no Sistema Abramge; e Marcelo Santiago Guedes, coordenador-geral de Tecnologia e Pesquisa da ANDP (Agência Nacional de Proteção de Dados). A moderação foi do consultor jurídico da UNIDAS, José Luiz Toro.
A docente portuguesa fez uma comparação do surgimento da Lei de Proteção Geral de Dados (LGPD) da Europa e a do Brasil. Segundo Carla, os dados de saúde fazem parte da vida privada. “Na Europa, a proteção de dados faz partes dos direitos fundamentais e, por isso, garantidos por lei. Todos podem saber onde e para qual finalidade serão usados os seus dados pessoais. É preciso que a pessoa autorize a utilização dos seus dados”, declarou. Ela também explicou a diferença entre gerir informação e garantir privacidade. “São coisas distintas. Temos que fazer essa gestão do consentimento dos usuários. Vivemos num mundo cada vez mais tecnológico; então, não é possível apenas se pautar pela legislação, é preciso mobilizar também as questões de cybersegurança”, disse.
Nathalia Pompeu deu sequência no tema. Para ela, “privacidade é o que temos de mais valioso”. A jurista afirmou que “muitos acham que o consentimento para utilizar os dados pessoais é a única saída e a mais fácil. Entretanto, o consentimento é só uma das soluções. Tem que ver a questão da proteção, onde aquele dado vai ficar, qual a finalidade, e além do consentimento existem outras bases legais”, complementou. Ela também defendeu a criação de uma autorregulação da área de saúde suplementar. “Em um ano de vigência, já tivemos 600 decisões envolvendo LGPD. Em relação ao DPO, as empresas já estão com um grau alto de profissionais estabelecidos, mas o Brasil ficou em terceiro lugar em profissionais dedicados. Qual o futuro? Vamos falar sobre LGPD como uma coisa boa e vamos ser protagonistas”, afirmou.
Já Marcelo Guedes trouxe uma visão mais prática da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) da Europa e do Brasil. “A LGPD vem de décadas atrás e de forma pontual passando por diversos diplomas normativos nacionais e inúmeras regulamentações de setores distintos”, disse. Ele também destacou questões práticas da implementação de sansões para as empresas que não cumprem a lei. “As violações ocorrem de duas formas: quando é exercitada pelo próprio dono do dado, quando é de seu próprio interesse, ou quando existe a violação por meio de um terceiro, como nas falhas de segurança da informação e no vazamento de dados pessoais. São instâncias que precisam dialogar, a fim de que o direito do titular seja resguardado”, destacou.
O moderador do painel, José Luiz Toro, explicou que o regulamento europeu foi quem inspirou a LGPD do Brasil. “Nós, na verdade, é que somos os titulares dos dados e é esse o princípio que norteia nossos direitos. É um empoderamento da proteção de dados pelos seus proprietários. A LGPD é de fundamental importância e trouxe ênfase a proteção de dados, mas ela se comunica com diversas outras normas que precisam estar interligadas”.
Os deputados federais Adriana Ventura e drº Luizinho discutiram o tema “Nova legislação para a saúde, por uma saúde suplementar mais inclusiva”, com mediação do superintendente de Relações Institucionais e Governamentais da Abramge, Frederico Borges. Adriana Ventura compartilhou informações sobre os projetos e os processos legislativos ligados à saúde suplementar. “As pessoas têm que ser empreendedoras na vida. São aquelas que desejam criar algo, que se incomodam e querem mudar o que estiver incomodando. E o fazer alguma coisa é ser empreendedor, assumindo seu protagonismo”, afirmou. A deputada ressaltou que crise significa oportunidade exemplificando o raciocínio com a implementação do PL 696/2020 de Telemedicina, durante o surgimento do coronavírus, assim como a Lei 13.989/2020, que trouxe benefícios como a prescrição médica e prontuário eletrônicos. “Criamos a frente parlamentar de telessaúde com o objetivo de conectar e dar voz à sociedade. A gente não está falando só de médicos, e sim de todo o ecossistema da saúde. As pessoas querem se conectar umas com as outras”, disse.
Segundo o deputado Dr. Luizinho é preciso discutir uma legislação mais flexível para que a saúde suplementar avance sem desorganizar o SUS.
Para encerrar o segundo dia de debates, Frederico destacou que estar no evento significa uma vitória para todos da saúde suplementar que estiveram presentes no 24º Congresso UNIDAS. “Temos um Projeto de Lei que trata da telessaúde, não só durante a pandemia, mas na retomada. Temos que parar de olhar para a doença e pensar mais na saúde. E a telemedicina ajuda os pacientes a terem acesso ao que necessita” finalizou o moderador do painel.
Transformação digital
O tema central do último dia do evento foi sobre “Transformação Digital: Big Data, Analytics e Inteligência Artificial na Saúde”, que contou com a participação de Alexandre Chiavegatto Filho, diretor e professor no Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da USP; Lincoln de Assis Moura Jr, líder de Saúde na Accenture Brasil, e como moderador, Werner Dalla, diretor de Integração da UNIDAS e diretor de Inteligência e Soluções em Saúde da Abertta Saúde.
Werner abriu o debate enfatizando a relevância da transformação digital. “Temos vivenciado essas mudanças diariamente e vimos que houve um salto significativo. É essencial refletirmos se estamos preparados para coordenar esse novo real dentro das nossas empresas ou se estamos sendo levados por elas. Quando a transformação digital chegar, precisamos estar preparados, ou seremos engolidos por ela”, frisou.
Chiavegatto deu sequência ao tema explicando como machine learning pode ajudar na solução de problemas específicos, considerando também o cenário de pandemia. “Usando como exemplo uma situação de um paciente com Covid-19: Qual a probabilidade de ele precisar de ventilação mecânica, ir para UTI e vir a óbito? Quem pode dar as respostas é o algoritmo universal da saúde, que serve para avisar o médico e o hospital sobre o estado do paciente”, afirmou. Alexandre contou que com o intuito de testar a ferramenta, foram utilizados o IACOV-BR – rede de hospitais nas cinco regiões brasileiras – para validação de algoritmos de IA – e os resultados demonstraram eficiência. “Porém, para alavancar o uso da machine learning em saúde no Brasil, faltam os dados das pessoas. Já temos avanços científicos, mas precisamos das informações”, comentou. Segundo o especialista, dadas as complexidades do sistema de saúde, a área se encontra atrasada no uso dessas ferramentas. “A pandemia impulsionou o uso da tecnologia em saúde, mas se não estiver regulamentada nos fundamentos do setor, ela se perde. É um momento importante para se pensar em estratégias nacionais e globais para que possamos nos preparar para o futuro”, concluiu o especialista.
Em sua apresentação, Linconl destacou que “o conceito de interoperabilidade vai muito além das questões de tecnologia, vai na questão de modelos de serviços, processo operacionais, nomenclaturas de terminologia, legislação e regulação, pessoas. A tecnologia viabiliza a interoperabilidade, mas ela exige padrões”.
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