O futuro da medicina e o redesenho do mercado de saúde

Recentemente, uma pesquisa, com o objetivo de subsidiar o Plano Nacional de Fortalecimento das Residências em Saúde do Ministério da Saúde, abriu espaço para alguns desses exercícios de como podemos antever o mercado de saúde nos próximos anos.

A pesquisa é o resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde, a USP (Universidade de São Paulo) e a organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), por meio do ProvMed 2030 – que consiste no “desenvolvimento e na aplicação de modelos dinâmicos para análises de provisão e necessidades de médicos e de especialistas no Brasil”, sendo um projeto em curso do Grupo de Estudos de Demografia Médica (GEDM) do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.

De acordo com informações do site gov.br, a projeção mais recente aponta que, em nove anos, as mulheres serão maioria entre os médicos e uma parcela significativa desses profissionais terão entre 22 e 45 anos. Além disso, atualmente há cerca de 490 mil profissionais médicos, a projeção é de que, em 2030, esse número aproxime-se de 800 mil. Ou seja, a população médica será mais numerosa, feminina e jovem. O que isso vai impactar em relação à própria profissão.

“Os achados da Demografia Médica no Brasil21, juntamente aos resultados obtidos pelas projeções do modelo pesquisado, apontam que a relação médico/habitante no Brasil aumentará de 1,90 para 3,63 entre 2010 e 2030, um crescimento de quase 100%”. Isso significa mais qualidade e acesso à saúde? Não necessariamente.

O aumento da população médica nem sempre tem ligação com mais qualidade e mais acesso em saúde para a população. Isso porque embora a oferta cresça, nem sempre o número de médicos vai ao encontro das demandas da população, caso não haja um planejamento adequado da distribuição desses médicos no país. Para que isso ocorra, precisamos, novamente, pensar em carreira médica. Um tema bastante discutido, mas que nunca foi levado a sério no país.

Relacionado com a qualidade, temos um desafio não menos colossal, que é o de proporcionar à graduação o nível adequado que a profissão exige e, particularmente, oferecer à residência médica as vagas necessárias para atender a toda a população de formandos que cresce ano a ano. O crescimento previsto, considerando-se o período entre 2010 e 2026 é de 200%, ou seja, de 12,7 para 38 mil registros/ ano.

A falta de cuidado com essas questões, levando consequentemente à perda de qualidade e à desvalorização do trabalho médico e dos serviços de saúde de modo geral, não põe em risco apenas a classe, mas também a própria população como um todo.

Importante também analisarmos o que está ocorrendo no mercado de saúde, após a aprovação da Lei nº 13.097, de janeiro de 2015. Com essa formalização, as organizações de saúde com participação parcial ou total de capital estrangeiro não encontram mais impedimentos legais para formar novas sociedades, joint ventures, abrir capital na bolsa de valores no Brasil e em outros países, realizar associação com fundos de investimento internacionais e também participar de licitações com estatais nacionais.

Em decorrência, tivemos nos últimos cinco anos, e mais precisamente nos últimos dois anos, uma corrida para aquisição de recursos assistenciais e operadoras de planos de saúde em todo o Brasil. Essas aquisições foram realizadas por grandes players, em sua maioria empresas cujos sócios são constituídos por fundos internacionais e/ou abriram capital na bolsa de valores.

Nas principais cidades do estado do Paraná, nos últimos 24 meses, tivemos a transferência de propriedade de 14 hospitais e de 20 clínicas e laboratórios, entre eles, de imagem, análise clínicas, oncologia e hemodiálise. O que mostra o mercado evoluindo rapidamente para alta concentração. Acreditamos que o mercado brasileiro, altamente competitivo, da saúde suplementar, vai exigir da parte dos médicos um entendimento profundo do momento pelo qual o setor está passando e mais comprometimento, de forma que continuemos a ser protagonistas de nosso destino.

Dentro desse cenário de grandes e aceleradas mudanças, o Sistema Unimed é e continuará sendo o baluarte de nossa profissão médica e necessitará, mais do que nunca, da união e do engajamento de todos os seus médicos cooperados.

(Foto: Divulgação)

* Paulo Roberto Fernandes Faria é diretor-presidente da Unimed Paraná

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Fonte: Ministério da Saúde, USPNeofeedGoverno Federal