Retomada parcial das atividades presenciais nas escolas é autorizada em Curitiba

Atualização: No dia 16 de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde decidiu revogar a autorização para o retorno das atividades extracurriculares, alegando que o Comitê de Técnica e Ética Médica levou em consideração a a não concordância do Ministério Público Estadual sobre a medida, o que poderia gerar responsabilização em diferentes esferas.

A Secretaria Municipal de Saúde deu aval para a retomada parcial das atividades presenciais nas escolas particulares de Curitiba. Em ofício encaminhado ao Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particular do Paraná (Sinepe/PR), datado de 31 de agosto, a secretaria informou que podem ser realizadas as chamadas atividades extracurriculares, como aulas de idiomas e esportivas, além de atividades individuais de reforço escolar e atendimentos de apoio psicopedagógico. 

Essas atividades presenciais podem acontecer desde que seja cumprida a Resolução Municipal 01/202, que lista as medidas de prevenção ao novo coronavírus. As escolas ficarão responsáveis pelo cumprimento dessas medidas, do Protocolo de Responsabilidade Sanitária e Social e pelos decretos municipais 1080/2020, 470/2020 e 796/2020.

A secretaria também sugere, para a retomada das atividades presenciais nas escolas particulares de Curitiba, a apresentação de um checklist diário pelos pais ou responsáveis quanto às condições de saúde dos alunos, bem como a realização de checklist diário, por parte da escola, na chegada das crianças. Outras sugestões são a apresentação aos pais, em reunião virtual, das condições e protocolos da escola para retomada de atividades presenciais extracurriculares e a exigência de carteira de vacinação atualizada.

“Lembramos que não é recomendada a participação, em atividades presenciais, de alunos que integrem grupos de risco à Covid-19, bem como aqueles que residam com pessoas que possuam vulnerabilidade à doença”, traz o ofício, assinado pela secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak. 

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Apesar de datado no dia 31 de agosto, o conteúdo do documento foi divulgado em 10 de setembro pelo Sinepe/PR. “A rede privada de ensino vem se organizando há muito tempo para esse retorno. Tem sim uma grande preocupação com todas as escolas e gestores e de como será feito esse trabalho. Solicitamos que todos façam esse o protocolo, chamem as famílias para ver o que foi feito. A preocupação é de um retorno responsável e gradativo”, afirmou a presidente do Sinepe-PR, Esther Pereira.

A informação do retorno parcial das atividades presenciais nas escolas particulares de Curitiba causou reação. O Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19, grupo instituído pela Procuradoria-Geral da República, emitiu um comunicado conjunto em que se manifesta contra o retorno às aulas presenciais no estado neste momento, possibilidade aventada pela rede particular de ensino. O grupo é composto por integrantes do Ministério Público do Paraná, do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Trabalho.

As atividades regulares seguem suspensas na modalidade presencial, tanto para os estabelecimentos privados, quanto os públicos, no Paraná.

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Saúde mental das crianças

O retorno parcial das atividades presenciais nas escolas, para as atividades extracurriculares, deve ser analisado por pais e pode ser feito de maneira gradual, conforme a situação de cada criança. A afirmação é da médica psiquiatra e psicoterapeuta de crianças e adolescentes Maria Lúcia Maranhão Bezerra, também presidente do  Departamento Científico do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP)

Ela lembra que as crianças também foram diretamente impactadas pela pandemia de Covid-19, de diferentes formas. “Temos crianças que engordaram, que apresentam problemas de sono, que perderam repertório de atividades físicas. Houve a invasão dos eletrônicos e a rotina de muitas e muitas horas em frente ao computador, mesmo que fossem para o estudo. Muitas crianças estão com dificuldades escolares”, cita. 

Diante disto, na opinião da médica, a relação custo x benefício desse retorno parcial pode ser mais benéfica. “Mas isso não é unânime. Há crianças que estão bem”, pontua. “Outro aspecto a ser considerado são os pais que estão trabalhando, seja ou não em home office. O ambiente escolar, estruturado, normalizado e fiscalizado, é uma solução”, considera Maria Lúcia. 

A médica lembra que o retorno parcial das atividades presenciais nas escolas, para as atividades extracurriculares, não significa deixar de encarar a gravidade da pandemia de Covid-19. “O risco existe. Não dominamos a pandemia e não existe ainda uma vacina. É preciso enfrentar isso com senso de realidade, de modo adulto. A maturidade dos pais e do grupo adulto pode equilibrar entre a preocupação e a coragem”, comenta Maria Lúcia, lembrando que não se pode esquecer da prudência. 

O retorno às atividades presenciais nas escolas pode ser feito de forma gradual, conforme a avaliação dos próprios pais e dependendo das circunstâncias de cada família. Mas até mesmo permite compreender a repercussão do alívio para a vida da criança, pois “no alívio, às vezes, é possível perceber a pressão que ali existia”.

Por isto, a prudência pode ser outra tônica nesse momento, além da prioridade para as crianças que estão enfrentando mais dificuldades emocionais e nas atividades escolares, segundo a especialista. “É preciso que as crianças que estejam enfrentando mais dificuldades emocionalmente sejam priorizadas. A reação entre as crianças foi irregular. Há crianças inseguras e em situação de sofrimento. Algumas precisam mais dessa volta do que outras. Entre elas estão as crianças com dificuldade escolar”, opina Maria Lúcia Maranhão Bezerra. 

De acordo com ela, retornar com atividades extracurriculares, como atividades esportivas e mais ligadas à recreação, por exemplo, podem ser muito benéficas nesse momento. “É diferente de uma festinha infantil, com 30, 40 crianças. Isso realmente não tem como franquear agora. Mas uma aula de música ou uma aula de ginástica rítmica pode substituir com segurança”, avalia. “Esses momentos alegres precisam ser valorizados. Há, lógico, uma preocupação com a evolução pedagógica e com a recuperação, dentro do possível, do prejuízo que pode ter acontecido. Mas algo alegre e descontraído será muito bom nesse momento”, considera Maria Lúcia Maranhão Bezerra.

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