A decisão de algumas agências internacionais em suspender a aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford contra Covid-19 em função de relatos de casos de coágulos sanguíneos e risco de trombose gerou uma série de dúvidas na população. Especialistas logo explicaram que os eventos detectados são considerados raros e que decisões como as tomadas pelas agências são normais em um processo como esse, de uma nova vacina e do início da imunização em massa. Entretanto, gerou a dúvida: qual é o tamanho do risco de trombose com a vacina contra Covid-19?
O médico infectologista Jaime Rocha, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e diretor de prevenção da Unimed Curitiba, afirma que existe uma resposta científica para essa pergunta. De acordo com ele, o risco de trombose com a vacina de Covid-19 é muito remoto.
“Não existe qualquer tratamento ou vacina com risco zero, infelizmente. Mas o que tem sido discutido em relação à trombose parece ser uma situação extremamente rara. Apenas enxergamos fenômenos raros quando se tem vacinação em massa. Esses efeitos precisam ser reportados, notificados, para que sejam analisados de forma clara e científica. À luz do conhecimento atual, o risco é muito remoto e não deve ser considerado para se abandonar esse recurso que é a vacina de Oxford”, esclarece.
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De acordo com ele, as diferentes notícias relacionadas sobre a suspensão da aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford em função do evento adverso da trombose fomentou a discussão em torno do imunizante. No entanto, para o médico infectologista, não há razão para que a vacina seja questionada.
“Existem outros motivos para que essas agências tomem essas decisões. E existe essa questão eventualmente de efeitos colaterais. Algumas agências são mais duras, suspendem e depois retomam o uso… São vários pontos para serem levados em consideração antes de dizer que foi suspenso porque houve um efeito colateral. Neste momento, insisto, os dados que temos falam ainda de efeitos colaterais extremamente raros”, salienta Rocha.
A vacina da AstraZeneca/Oxford é produzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Neste mês de abril, a instituição fez uma série de esclarecimentos reforçando a eficácia do imunizante e informando que os riscos de trombose são mínimos. Para isso, por exemplo, divulgou uma nota que traz: “os casos bastante raros observados, com possível relação com a vacina, continuarão sendo investigados. Recomenda-se fortemente a continuidade da vacinação, pois os benefícios superam em muito os riscos. A vacina oferece alto nível de proteção contra todos os graus de severidade da Covid-19”. A Fiocruz ainda esclareceu que, no final de fevereiro, estudo realizado na Escócia constatou que uma única dose da vacina apresentou efetividade de 94% para hospitalização entre 28 e 34 dias após a vacinação. Os resultados também demonstraram altos índices de efetividade em idosos acima de 80 anos.
Risco de trombose com a vacina contra Covid-19: estudo da Universidade de Oxford
A fundação divulgou um estudo da Universidade de Oxford indicando que o risco de ocorrer trombose venosa cerebral em pessoas com Covid-19 é consideravelmente maior do que nas que receberam vacinas baseadas na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como a utilizada especificamente na vacina da AstraZeneca/Oxford, e também nas da Pfizer e Moderna.
A pesquisa Trombose venosa cerebral: um estudo de coorte retrospectivo de 513.284 casos de Covid-19 confirmados e uma comparação com 489.871 pessoas recebendo vacina de mRNA cita que: “Embora a magnitude do risco não possa ser quantificada com certeza, o risco após a Covid-19 é aproximadamente de 8 a 10 vezes o relatado para as vacinas, e cerca de 100 vezes maior em comparação com a taxa da população. O aumento do índice de trombose venosa cerebral com a Covid-19 é notável, sendo muito mais marcante do que os riscos aumentados para outras formas de acidente vascular cerebral e hemorragia cerebral”.
Mais informações sobre o estudo podem ser conferidas aqui.
No Brasil, um artigo publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz chama a atenção para a relação entre o aumento da formação de coágulos (também chamados de trombos), que podem obstruir a circulação, e o novo coronavírus. Os pesquisadores propõem que a classificação seja mudada e que a Covid-19 seja a primeira infecção considerada uma febre viral trombótica.
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Vacina contra Covid-19: reações após aplicação
O médico infectologista Jaime Rocha afirma que, após a aplicação da vacina contra Covid-19, são relativamente comuns algumas reações, como dor no braço e algum inchaço no local. Isso acontece com todos os imunizantes, de todas as marcas, de acordo com ele. Também podem surgir alguns sintomas sistêmicos de curta duração, como febre, mal estar e dor no corpo, nas primeiras 24 horas, 48 horas ou por até uma semana. “Mas, se a pessoa tiver muito sintoma respiratório, deve ser isolada e testada, para verificar se ela não estava já incubada com vírus e se já não era Covid-19”, enfatiza.
Leia aqui mais sobre o assunto – Quem toma a vacina ainda corre o risco de ter Covid-19?
Ele faz uma importante ressalva: “não tem como ficar doente de Covid-19 com a vacina. Não existe vírus vivo nestas vacinas. Elas podem ter efeitos colaterais, podem falhar. Mas não geram a doença. A doença em si é impossível ser causada pela vacina. A pessoa, se apresentar sintomas, pode estar com outro vírus, com outra doença. Tudo deve ser avaliado e investigado”.
Acompanhe também mais sobre vacinação contra Covid-19 no quinto episódio do podcast Saúde Debate, com o médico infectologista Jaime Rocha. Clique aqui.
Outros episódios do podcast podem ser acessados aqui.