A saúde mental do trabalhador é uma das grandes preocupações das organizações para o ano de 2021, especialmente considerando as diversas transformações ocorridas nesses ambientes devido à pandemia do novo coronavírus. O Relatório Tendências de Gestão em 2021, produzido pelo Great Place to Work (GPTW), apontou que o assunto “saúde mental” ficou em 5.º lugar entre os principais temas de gestão a serem trabalhados no ano de 2021. O relatório está na sua terceira edição e tem como objetivo medir a “temperatura” de alguns assuntos do contexto corporativo.
Entre as doenças mentais que podem estar relacionadas ao trabalho estão a depressão, a ansiedade, as dependências de álcool e outras drogas e a Síndrome de Burnout − um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho de um indivíduo. Juntas, essas doenças e síndromes estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil, segundo a Previdência Social, além de outras enfermidades como as que afetam o pulmão, problemas de visão e auditivos, dermatoses, problemas na coluna, e talvez os mais conhecidos: LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e DORT (Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho). Em setembro do ano de 2020, o Ministério da Saúde divulgou uma lista atualizada com doenças do trabalho por meio da Portaria 2309, de 28 de agosto de 2020. Na atualização, foi incluída a covid-19 como doença relacionada ao trabalho.
Médicos intensivistas podem ser vítimas em potencial da Síndrome de Burnout
O professor do curso de graduação de Psicologia da FAE Centro Universitário, Edgar Pereira Junior, chama a atenção para o fato de que grande parte das organizações não estão preparadas para lidar de maneira satisfatória com os problemas relacionados à saúde mental dos colaboradores. Ele analisa que aquelas que estão mais preparadas o fazem por meio da assistência – o que também é importante, mas não é suficiente, já que esse respaldo não influencia nas causas das doenças. “Claro que ações de assistência, corretivas, são necessárias. Mas o ideal é trabalhar com a prevenção e com diagnósticos preventivos contínuos dos trabalhadores. Atuar na saúde mental envolve um nível de investigação muito maior”, avalia o professor.
Um primeiro e grande passo para as empresas que desejam sair na frente no enfrentamento das questões de saúde mental é pensar em ações educativas e de prevenção. Criar canais de comunicação abertos para que os funcionários possam se expressar e pensar no tema, setores na empresa em que eles tenham a oportunidade de encontrar soluções para as suas queixas – que muitas vezes não são relatadas abertamente por serem consideradas tabus na sociedade atual. “O ideal seria termos equipes que possam fazer diagnósticos permanentes. Mas, se não temos, pelo menos é necessário que as lideranças estejam mais preparadas para a escuta, a empatia, para o acolhimento”, ressalta Edgar.
Eventos, cartilhas, manuais e campanhas que abordem saúde mental também podem integrar ações que certamente surtirão bons resultados. “Fala-se tanto hoje em habilidades comportamentais, mas muitas vezes não se mostra ao trabalhador como ele pode adquirir e manter essas habilidades”, observa o professor.
Os gestores devem também se atentar para alguns sinais dentro das empresas que indicam problemas com saúde mental entre os colaboradores, como, por exemplo, um ambiente de trabalho que não é saudável, com jornadas exaustivas, falta de recursos para o desenvolvimento das atividades, pouca autonomia dos funcionários, falta de reconhecimento, comunicação não transparente e até assédio. “Isso tudo reflete o despreparo de algumas lideranças. Ainda que a saúde mental seja considerada um tabu cultural, a organização deve investir em ações que gerem bons resultados naquele ambiente. Aquele pensamento antigo, de que o trabalhador é substituível, não existe mais”, comenta o professor.
O relatório do GPTW mostrou ainda que a maior parte dos gestores acreditam que as doenças mentais têm tanto participação de genes quanto de estressores do meio como relações complexas de trabalho. Segundo o estudo, a maioria também acredita que cuidar da saúde mental dos colaboradores prevê identificar as fontes de estresse e atuar sobre as causas com o objetivo de promover um ambiente de trabalho mais saudável. A investigação do GPTW levantou ainda outras grandes preocupações das empresas para o ano de 2021, entre elas: comunicação interna (1.º lugar), mudança de mindset da liderança (2.º lugar), flexibilização do trabalho (3.º lugar), transformação digital (4.º lugar), entre outras.
Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho
O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, celebrado em 28 de abril, foi instituído por iniciativa de sindicatos canadenses. A data foi escolhida em razão de um acidente que matou 78 trabalhadores em uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, em 1969. No Brasil, em maio de 2005, foi promulgada a Lei n. 11.121, criando o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.
Segundo o Movimento Abril Verde, dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgados em 2013 dão conta de que 2 milhões de pessoas morrem por ano por conta de doenças ocupacionais no mundo.
Já o número de acidentes de trabalho fatais ao ano chega a 321 mil. Neste panorama, a cada 15 segundos, uma pessoa morre por conta de uma doença relacionada à sua atividade laboral. De acordo com os dados da OIT, o Brasil é o 4.º colocado no ranking mundial de acidentes fatais de trabalho. São quase 4 mil mortes/ano no país em decorrência de acidentes ocupacionais.
Inovação em saúde corporativa no cenário COVID