Como o uso estratégico dos dados mudará os serviços de saúde

As  instituições de saúde do Brasil e do mundo passam por um momento de transformação digital, a chamada Saúde 4.0, onde novas tecnologias irão impulsionar o setor. Como qualquer outra atividade, que implementa novas tecnologias, o foco das inovações deve estar no usuário, seja ele do público interno, profissionais que serão afetados e precisarão se relacionar com as tecnologias, ou externo, no caso das empresas de saúde, pacientes e seus familiares.

A aceleração da digitalização de processos, devido à pandemia de Covid-19, também aconteceu no setor de saúde, a telemedicina se tornou uma realidade mais presente no cotidiano e a cada dia tecnologias como SaaS, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA) e Big Data, passam a fazer parte do cotidiano dos profissionais e pacientes.

Essas tecnologias somadas ao leilão das redes de 5G no Brasil criam um cenário para o aumento na geração e transmissão de dados, que se coletados, analisados e utilizados com foco na segurança e no benefício ao paciente, possibilitam melhorar a gestão das empresas de saúde, e implementar um atendimento com uma abordagem ainda mais personalizada, além do desenvolvimento de melhores políticas públicas de saúde.

Dados devem ajudar as pessoas

O data fabrics – ou em português malha de dados -, que representa a integração de dados em uma plataforma contendo um conjunto de serviços e a interconexão de informações para clientes, usuários internos e mesmo prestadores de serviços, foi apontado pela consultoria Gartner, especializada em tecnologia, como uma das tendências estratégicas de tecnologia para 2022.

Neste cenário, aumenta a importância da interoperabilidade de dados provenientes dos sistemas utilizados na parte clínica e administrativa, como dos legados, originários de qualquer sistema ou equipamento já utilizado pelo setor no Brasil e que estão armazenados em servidores internos ou externos, e muitas vezes não são usados para que se possa montar um histórico médico do indivíduo e da população brasileira.

O desenvolvimento da rede 5G deverá gerar um mercado para novos dispositivos móveis e wearables, dispositivos que podem ser vestidos e levados para as populações que moram longe dos grandes centros, e as empresas de saúde precisam dispor de sistemas capazes de transformar qualquer padrão de dados no padrão HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resource), padrão internacional usado na transmissão de dados administrativos e clínicos no setor de saúde; e utilizar repositórios digitais capazes de armazenar de forma organizada os registros eletrônicos de saúde (EHR – Electronic Health Records) e arquivos no padrão HL7 FHIR .

Como em qualquer outro setor, que passa por essa transformação digital, os recursos tecnológicos devem otimizar a colaboração com o profissional para reduzir o desgaste do trabalhador e aumentar sua eficiência na realização das tarefas diárias. Além disso, o modelo de prestação de serviços na saúde já passa por uma transformação, no qual deverá ser adotado o fee for performance, que avalia a relação entre as ações tomadas pela equipe médica e o custo para atingi-los, o que prioriza a qualificação e otimização dos procedimentos oferecidos pelas empresas de saúde.

A combinação das ferramentas que interoperam e armazenam dados de forma organizada pode melhorar o serviço de saúde ao integrar fluxos clínicos e de negócios com o objetivo de organizar os processos internos para otimizar o desempenho e tornar o dia a dia dos profissionais do setor, como médicos, equipe de enfermagem, demais profissionais da área de saúde e equipes administrativas mais fácil.

O uso inteligente dos dados administrativos e clínicos e sua disponibilidade em um repositório digital possibilita desenvolver aplicativos com informações financeiras e gerenciais para serem compartilhadas com as equipes administrativas, fornecedores, outras empresas do setor de saúde e mesmo órgãos do governo. Essas informações podem ajudar na tomada de decisões sobre a alocação de recursos, como medicamentos e materiais médicos hospitalares, e auxiliar no monitoramento das atividades dos colaboradores, transformando dados em informações para os sistemas de gestão em saúde.

Paciente no foco da tecnologia

Para prosperar em mercados orientados ao bem-estar do paciente, os sistemas de saúde devem desenvolver plataformas operacionais que ofereçam melhores serviços a preços mais baixos e excelência no atendimento. Isso inclui conectividade digital aprimorada com os pacientes e seus familiares.

Por meio da interoperabilidade de dados provenientes de sistemas antigos e novos, e do armazenamento organizado dessas informações, as empresas do setor, podem desenvolver ferramentas de busca que permitam gerar relatórios, fazer análises de gestão e desfechos, análises preditivas e painéis focados no paciente, no perfil populacional, entre outros.

O uso inteligente dos dados também possibilita o desenvolvimento de aplicativos com informações clínicas dos pacientes, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que podem ser consultados por médicos, enfermeiros, outros profissionais do setor de saúde pública e privada, além dos próprios pacientes e seus familiares. Essas pesquisas podem ser compartilhadas de forma conjunta, extraindo elementos que identifiquem o indivíduo, com outras empresas que formam o ecossistema de saúde no Brasil e com órgãos do governo. Dessa forma, gestores públicos e privados podem desenvolver ações de saúde preventivas focadas em perfis de pacientes ou em doenças, que visem o bem-estar da população.

Durante os próximos anos, novas tecnologias que possibilitam aumentar a personalização na entrega de serviços de acordo com a conveniência e as preferências do paciente e gerando maior assertividade ainda serão implementadas. Os sistemas de saúde também devem incorporar dados individualizados com informações presentes no genoma e características de um indivíduo para adequar o tratamento individualizado e regimes de estilo de vida que irão possibilitar fazer diagnósticos precocemente, antes mesmo do primeiro sintoma manifestar-se, aumentando o bem-estar e estendendo a longevidade das pessoas. No final desta década, a saúde como a conhecemos hoje não existirá mais e neste cenário o uso estratégico dos dados se torna primordial para garantir o bom atendimento e a sustentabilidade do negócio. 

* Bruno Toldo é Chief Medical Information Officer na Infor, líder global em software de nuvem empresarial especializado por setor

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