Em situações de pandemia ou não, os profissionais de enfermagem fazem parte da linha de frente nos cuidados prestados em hospitais e unidades de atendimento. Levando em conta a situação nos sistemas de saúde diante da Covid-19 no Brasil, um artigo produzido por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) discute a realidade dos profissionais durante a pandemia. A informação foi divulgada pela instituição no mês de outubro.
Publicado na revista Cogitare Enfermagem da UFPR, o artigo “Condições de trabalho e o impacto na saúde dos profissionais de enfermagem frente à Covid-19” discute o papel de quem atua no combate diário ao coronavírus. O trabalho aponta que o afastamento dos profissionais infectados ou que fazem parte dos grupos de risco é uma das principais causas de sobrecarga no sistema. Sem reposição adequada no quadro de funcionários, quem segue trabalhando também sofre com a falta dos equipamentos de proteção individual (EPIs), indispensáveis para evitar novas contaminações.
Em março, a Covid-19 recebeu o status de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De lá pra cá, o coronavírus atingiu mais de 41 mil profissionais de enfermagem, com 449 óbitos registrados no Brasil. É o que aponta a plataforma Observatório da Enfermagem, criada e mantida pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Outras 34 mortes são consideradas sob suspeita, aumentando a angústia de famílias sem resposta.
O Cofen oferece uma área do site composta por enfermeiros especializados em saúde mental destinada a prestar apoio psicológico aos profissionais em virtude da Covid-19. “Isso pode ajudar a diminuir o medo e a ansiedade dos profissionais, para que se sintam amparados exercendo suas atividades de maneira mais segura para os pacientes e para si próprios”, conclui Fernanda Miranda, doutora em Enfermagem e professora do departamento de Enfermagem da UFPR. Em parceria com outras universidades, a UFPR também participa de um projeto nacional que oferece psicoterapia para profissionais de saúde.
Equipamentos de proteção
O site “Faltam EPIs em todo o país” é um canal online para denunciar a escassez dos equipamentos Brasil afora. São Paulo é o estado que mais sofre com a escassez de equipamentos, com 1.421 denúncias. O Paraná ocupa a quinta posição, com 171 registros. Os dados são verificados e atualizados diariamente pela Associação Médica Brasileira (AMB), que considera unidades de atendimento públicas e privadas.
Fernanda reforça que máscaras, luvas e aventais são indispensáveis durante o atendimento aos pacientes e principalmente no contato direto com o coronavírus. “Se o profissional de enfermagem for infectado, pode passar de três a sete dias sem sintomas. Com a falta dos EPIs, os colegas e pacientes atendidos também correm risco de contaminação”, alerta.
Partindo da revisão de estudos anteriores, o artigo propõe ações para reduzir o risco de infecção daqueles que combatem o vírus diariamente, como a revisão das escalas de trabalho e a contratação temporária de novos profissionais. O fornecimento de EPIs em número suficiente para trocas durante a jornada de trabalho também contribui para frear a contaminação. “Não existe força de trabalho reserva. Com o afastamento dos profissionais, aqueles que continuam em serviço se sobrecarregam com o aumento da demanda, o que agrava o risco de exposição ao vírus”, destaca Fernanda Miranda.
Além de Fernanda, são as autoras do artigo na revista Cogitare Enfermagem Leni de Lima Santana, professora de Enfermagem no Instituto Federal do Paraná (IFPR); Aline Cecília Pizzolato, enfermeira ligada à Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS); e Leila Maria Mansano Saquis, também do Departamento de Enfermagem da UFPR.
* Texto de Luiz Fernando Hanysz, da Agência Escola UFPR