“Meu filho sempre foi saudável, mas em um certo dia começou a sentir muita dor de cabeça e a ter vômitos. Levamos ao posto de saúde e no primeiro momento a suspeita era de COVID-19, que não se confirmou”, conta a mãe de Julio, de 12 anos, Liani Márcia Dessbesell. Entre os primeiros sinais de que algo não estava bem até o diagnóstico de câncer no sistema nervoso foram aproximadamente 20 dias. A história de Julio traz um alerta para o câncer infantil.
O diagnóstico precoce faz toda a diferença no sucesso do tratamento do câncer infantojuvenil, primeira causa de morte entre crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos) no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Se diagnosticado precocemente, cerca de 80% dos casos de câncer alcançam a cura.
Mas infelizmente, a grande maioria dos pacientes chega ao Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba (PR) e que há mais de cinco décadas é referência no tratamento oncológico para crianças e adolescentes de todo o país, com a doença mais avançada. Um estudo feito pela instituição que englobou dados de pacientes atendidos entre os anos de 1998 e 2017 mostrou que 57,6% deu entrada com câncer em nível já avançado. Apenas 8,8% chegaram com o primeiro estágio da doença, e 33,5%, com o segundo.
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Julio foi encaminhado para o Hospital Pequeno Príncipe e teve o diagnóstico realizado de maneira precoce, fazendo parte dos 8,8% dos pacientes que descobrem a doença no primeiro estágio. A rapidez entre o primeiro atendimento e o resultado dos exames foram fundamentais para o início do tratamento. “O câncer não espera e se eu não tivesse sido encaminhada para o Pequeno Príncipe, não teríamos conseguido salvar ele porque o diagnóstico é muito agressivo, mas ele está reagindo muito bem ao tratamento e melhorando a cada dia”, completa Liani.
Por isso, no Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, lembrado em 23 de novembro, o Pequeno Príncipe reforça a importância do diagnóstico precoce para salvar vidas. A leucemia é o tipo mais comum de câncer em crianças, seguido de tumores do sistema nervoso central e linfomas. Os cânceres em crianças e adolescentes são considerados mais agressivos e se desenvolvem rapidamente. Por outro lado, os pacientes infantis respondem melhor ao tratamento e as chances de cura são maiores, se comparado com o público adulto.
Mas a dificuldade para fazer diagnóstico precoce e para chegar aos centros especializados de tratamento são as principais causas que levam à alta mortalidade por câncer infantil no Brasil. Enquanto a taxa nos Estados Unidos é de 22 mortes por milhão, no Brasil o índice fica em 43,4 por milhão, ou seja, praticamente o dobro. Os dados refletem a realidade até 2019 e constam em um levantamento sobre o panorama da oncologia pediátrica no Brasil feito pelo Instituto Desiderata com o apoio técnico de profissionais da Fundação do Câncer, do Instituto Nacional de Câncer e da Iniciativa Global da Organização Mundial da Saúde para o Câncer Infantil na América Latina e Caribe.
“Infelizmente, no Brasil, ainda existem poucos centros especializados no tratamento do câncer infantil. O Hospital Pequeno Príncipe é um desses centros e oferece tratamento completo, desde o diagnóstico até o transplante de medula óssea, nos casos em que há indicação. Também oferecemos uma estrutura completa de exames, incluindo os genéticos, que auxiliam imensamente na decisão de qual tratamento oferecer para cada criança”, explica a médica chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia, Flora Mitie Watanabe.
No Pequeno Príncipe, são atendidos cerca de 100 novos casos de câncer infantil por ano, com predominância das leucemias, dos tumores do sistema nervoso central e dos tumores abdominais. “Diariamente fazemos cerca de 30 sessões de quimioterapia e 35 consultas”, conta a médica. A taxa de sobrevida da instituição está em 74% e se aproxima do resultado dos centros internacionais.
Sinal de alerta para o câncer infantil
A leucemia é o tipo mais comum de câncer em crianças, seguido de tumores do sistema nervoso central e linfomas e muitas vezes, os sintomas do câncer podem ser confundidos com doenças comuns da infância por isso é importante estar atentos aos seguintes sinais:
– Dores nos ossos, principalmente nas pernas, com ou sem inchaço.
– Palidez inexplicada.
– Fraqueza constante.
– Aumento progressivo dos gânglios linfáticos.
– Manchas roxas e caroços pelo corpo, não relacionados a traumas.
– Dores de cabeça, acompanhadas de vômitos.
– Perda de peso, com aumento/inchaço na barriga.
– Febre ou suores constantes e prolongados.
– Distúrbios visuais e reflexos nos olhos.
A instituição disponibiliza uma cartilha para famílias que estão enfrentando a doença. O download gratuito pode ser feito aqui.