As cirurgias e o custo da saúde

As discussões sobre o custo da saúde também abrangem as cirurgias, especialmente no cenário de pandemia de Covid-19, quando houve uma redução considerável neste tipo de procedimento. Um levantamento formulado por uma empresa de solução de gestão de saúde mostrou que a média de custo/hora dos centros cirúrgicos foi de R$ 783 no primeiro semestre de 2021. Os dados foram calculados a partir de informações repassadas por 112 hospitais públicos e privados de todo o país.

Conforme análise da Planisa, responsável pelo levantamento, este valor pode ser considerado um impacto no custo da saúde porque o centro cirúrgico é uma unidade de alto custo, sendo boa parte dele fixo. “Os custos fixos são aqueles cujo valor não altera quando se aumenta ou reduz a quantidade de volume dos serviços produzidos, ou seja, se mantêm mesmo que sem produção, envolvendo, por exemplo, infraestrutura, segurança ou iluminação”, explica o diretor de Serviços da Planisa e especialista em gestão de custos hospitalares, Marcelo Carnielo. “O custo fixo é um vilão na saúde em momentos de ‘sumiço’ de pacientes, como na pandemia. Menos pacientes significa maior custo unitário, maior número de atendimentos resulta em menor custo unitário”, completa.

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O não aproveitamento do espaço faz com que haja um efeito negativo. Tudo isto está ligado ao contexto da pandemia, com a queda no número de cirurgias eletivas, que foram canceladas e adiadas em função do atendimento prioritário aos pacientes com Covid-19.

No segundo semestre de 2021, com a melhora dos números relacionados à pandemia, tanto secretarias de saúde quanto hospitais e outras instituições começaram a se programar efetivamente para a retomada das cirurgias eletivas e outros procedimentos que ficaram parados nos últimos meses. No final de agosto, o Governo do Paraná anunciou vai aportar R$ 50 milhões em 2022 para a realização de procedimentos em uma retomada das cirurgias eletivas, afetadas pela pandemia de Covid-19. Também já foram divulgadas outras fontes de recursos para amenizar o custo da saúde nesses casos para o ano que vem.

Para se ter uma ideia da demanda, dados da Secretaria de Estado da Saúde apontam uma redução de 48% na realização de procedimentos diagnósticos ambulatoriais e consultas entre 2019 e 2020. Especificamente sobre as cirurgias eletivas, foram 305.351 procedimentos eletivos e 931.326 de urgência em 2020, números menores dos registrados no ano anterior. Em 2021, entre janeiro e junho, foram realizadas 147.208 cirurgias eletivas e 275.941 de urgência. Estes dados são referentes ao Sistema Único de Saúde no Paraná e foram apresentados durante o 1º “Webinar Saúde Debate – Qualidade de Vida e Pandemia: o impacto de ações e procedimentos de saúde adiados por conta da Covid-19”.

Apesar desta realidade, é preciso refletir sobre a ociosidade dos centros cirúrgicos em outros momentos, inclusive no período pré-Covid-19, de acordo com Carnielo. Um levantamento da própria Planisa, de 2019, mostrava que a média diária de procedimentos por sala era bem próxima do que se viu durante a crise sanitária. “A ocupação do centro cirúrgico representa ainda um desafio na maioria dos hospitais brasileiros que, associado ao custo fixo alto destas unidades, geram fortes impactos nos custos de todos os procedimentos cirúrgicos, enquanto a receita contínua variável, um descompasso entre custos e receita no setor”, salienta.

(Foto: GpointStudio/Freepik)

Carnielo lembra que a dinâmica dos centros cirúrgicos também representam um desafio para a análise e alguma alteração sobre o custo na saúde. São estruturas que dificultam ocupações mais robustas, por exemplo, em um ritmo diferente das unidades de internação. Outro fator importante é a quantidade de cancelamentos dos procedimentos. “Quando isso ocorre, estas salas ficam montadas aguardando pelo paciente e somente depois de algum tempo é que a comunicação de suspensão da cirurgia é feita, trazendo custos adicionais à instituição e causando transtornos, tanto para os pacientes, quanto para os profissionais envolvidos”, comenta.

A diminuição do custo da saúde, especificamente dos centros cirúrgicos, passa pela adoção de ações efetivas, na opinião do especialista. “Uma alternativa é a elaboração de um mapa cirúrgico bem dimensionado, visando a adequada administração nos intervalos de utilização das salas. Com esse planejamento, é possível diminuir o tempo de ociosidade das salas cirúrgicas; melhorar a administração dos intervalos de utilização das salas, acarretando a diminuição dos atrasos; possibilitar uma maior flexibilidade na agenda dos cirurgiões e diminuir o tempo médio de dias de internação, tendo em vista a facilidade de realizar o remanejamento das cirurgias quando for necessário”, sugere.

Outras medidas seriam parcerias com clínicas, para permitir a ocupação nos horários em que as salas de cirurgia ficam sem uso, além de bonificação da equipe médica para os horários de baixa utilização ou até a diminuição de salas cirúrgicas, ajustando a relação oferta versus demanda. “Defendo a ideia de que o custo hospitalar deve ser visto como variável ao longo do tempo, sempre com olhar na relação oferta versus demanda. Não faz o menor sentido, salvo raras exceções, um hospital se manter ocioso ao longo do tempo. Este é o maior desperdício do setor saúde brasileiro”, conclui.

* Com informações da assessoria de imprensa

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