Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG): preocupação com subnotificação por Covid-19

Assim como os casos de novo coronavírus, as internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) também vêm gerando preocupação nos últimos meses. Esta é uma infecção aguda no trato respiratório e que demanda uma maior intervenção, como o internamento. É durante a hospitalização que as equipes de saúde vão fazer a investigação da causa da infecção: uma pneumonia bacteriana ou pelo vírus Influenza, por exemplo.

Um gráfico do portal de monitoramento do novo coronavírus do Ministério da Saúde deixa claro: a quantidade de SRAG também cresceu desde o início da pandemia, mesmo aquelas que aparecem como outras causas ou que ainda seguem sendo investigadas. Agora, além do próprio coronavírus, uma preocupação dos profissionais de saúde está relacionada com o período do ano (e a proximidade da próxima estação): o inverno favorece tradicionalmente um aumento das SRAGs.

O informe epidemiológico do dia 8 de junho da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) mostra que 1.320 paranaenses morreram por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), entre elas a Covid-19, nos cinco primeiros meses do ano. Até a mesma data, haviam sido registradas 243 mortes pela infecção causada pelo novo coronavírus. O informe não esclareceu as causas das SRAGs que ocasionaram as demais mortes.

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Os dados sobre SRAG disponibilizados no painel da Covid-19 do Ministério da Saúde vão até a 18ª Semana Epidemiológica (estamos na 24ª da Covid-19), mas já indicavam um grande índice de investigação das causas das síndromes e um maior número de ocorrências em relação ao mesmo período do ano passado.

As informações da 18ª semana epidemiológica do novo coronavírus apontam 2.084 hospitalizações cuja causa foi a Covid-19; 12 por Influenza A e B; 33 por outras síndromes respiratórias; e 9.162 em investigação. Na semana anterior, o Ministério da Saúde apontava 4.517 internações por novo coronavírus; 26 por Influenza A e B; 56 por outras síndromes respiratórias; e 9.002 sob investigação.

Ainda de acordo com o órgão federal, no Paraná, entre todas as hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) até a 18ª semana epidemiológica, 360 haviam sido diagnosticadas como novo coronavírus e 3.990 estavam classificadas como “demais casos”.

Dados de internamentos por SRAG em Curitiba – dados divulgados em 12 de junho

“Sabemos que, no Paraná, cerca 15% das Síndromes Respiratórias Agudas Graves são causadas por Covid-19. Mas há uma parcela considerável em que as causas não foram definidas. Se, no Paraná, pegarmos esses mesmos 15% e jogássemos nas estatísticas das mortes por SRAG não esclarecidas, teríamos mais 200 mortes por Covid-19, aproximadamente”, afirma o médico infectologista Moacir Pires Ramos, que atua em Curitiba e que vem acompanhando de perto os números paranaenses da pandemia.

O especialista indica que isto pode ser um sinal de subnotificação de casos de novo coronavírus. Os exames podem não estar sendo feitos no tempo necessário, de acordo com ele . “O Paraná tem um problema de subnotificação por falta de testagem, mesmo testando mais do que a média brasileira”, considera Ramos.

Testes e evolução da Covid-19 no Paraná

O Paraná anunciou, no mês de maio, que tinha o menor índice de incidência do novo coronavírus no país. No entanto, há um mês, os casos tiveram um aumento significativo. Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), divulgados nesta sexta-feira (12 de junho), apontam um aumento de 344% na quantidade de confirmações da doença na comparação entre os boletins de 11 de junho e 12 de maio. No mesmo período, houve um acréscimo de 148% no número de mortes pela doença. Apenas no mês de junho (até o dia 11) foram 3.779 confirmações (ou 44% do total).

Segundo a Sesa, apesar do aumento considerável no número de casos, é possível afirmar que o Paraná continua com o menor índice de incidência da doença do país. De acordo com levantamento do Ministério da Saúde divulgado na última quarta-feira (10 de junho), o estado apresenta uma taxa de 74 por 100 mil habitantes, seguido por Minas Gerais com 87,1. Já os demais estados da Região Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apresentam 180,8 por 100 mil habitantes e 124,5 por 100 mil habitantes, respectivamente.

“A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez uma análise muito interessante: os estados que mais testam têm mais casos. Estados que menos testam, menos casos. O Paraná é um dos estados que está testando pouco. A média brasileira é de dois testes para cada caso notificado. É muito baixo. Ou seja, estão sendo testados aqueles com grandes chances de estarem doentes. O Paraná está fazendo, em média, de seis a sete testes para identificar um paciente”, comentou Moacir Pires Ramos.

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O infectologista cita que, na Inglaterra, a quantidade de testes aplicados chega a 30 para identificar um paciente contaminado; em Portugal, a proporção é de 20 testes para um paciente diagnosticado. “Ou seja, estão testando muito mais a população do que a gente por aqui”, conclui.

No boletim epidemiológico de 12 de junho, a Sesa informa que foram realizados até o momento 51.163 testes RT-PCR pela rede pública e laboratórios credenciados. O Paraná havia anunciado em maio uma estratégia de testagem em massa, com o objetivo de chegar a 200 mil pessoas testadas em 90 dias. A força-tarefa inclui ainda testes rápidos, além do aumento de capacidade do Laboratório Central do Estado e demais laboratórios credenciados. Também em uma divulgação no dia 9 de junho, a secretaria reforçava que a curva de infecções pelo novo coronavírus continuava crescendo no Paraná e a tendência ainda era de evolução porque mais pessoas seriam testadas nas próximas semanas.

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p class=”ql-align-center”>Números divulgados pela Sesa no dia 12 de junho

“O governo do Paraná anunciou uma maior testagem, mas ainda não conseguimos perceber isso. Na realidade, estamos melhor do que a média brasileira. Mas ainda muito baixo do que os padrões internacionais. Por isto, frente à subnotificação, frente à época do ano quando há aumento das síndromes respiratórias, não me sinto confortável para defender a flexibilização nesse momento”, opina Moacir Pires Ramos. “Quem vê a subnotificação, não fica confortável com esses números, embora sejam os oficiais”, classifica. 

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