Desde 2019, foi instituído no Brasil a Campanha Julho Amarelo (Lei nº 13.802/2019) que reforça as ações de vigilância, controle e prevenção das hepatites virais – em 28 de julho é celebrado o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais. Por ser uma doença silenciosa, com sintomas que podem ser confundidos com outros problemas de saúde, a indicação do Ministério da Saúde é que sejam feitos exames de detecção, principalmente para quem tem mais de 40 anos (o grupo de maior número de diagnósticos de hepatite C em 2019).
Segundo o Ibrafig- Instituto Brasileiro de Estudos do Fígado, órgão vinculado à Sociedade brasileira de Hepatologia, a testagem é necessária, principalmente para populações de alto risco, como pessoas em situação de rua ou privadas de liberdade e todos com idade acima de 40 anos, que têm risco de ter a doença pela falta de controle sanitário em alguns procedimentos sem a utilização de materiais perfurocortantes descartáveis, prática comum antes da década de 80.
“O teste é o ponto crítico, pois o maior desafio hoje no país é a identificação de indivíduos infectados em diferentes regiões, sobretudo devido à característica assintomática da infecção”, afirma Dr. Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig. Ele alerta que a população em geral tem pouco conhecimento sobre os riscos potenciais da doença e há baixa aderência à testagem voluntária. “O tratamento hoje é feito por meio de medicamentos que têm apresentado boa resposta, com cura acima de 90%”, afirma.
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Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, cerca de 1 milhão de pessoas morrem por ano no mundo em decorrência das hepatites virais, com 3 milhões de novos infectados anualmente. No Brasil, segundo o Ibrafig, cerca de 1 milhão de pessoas têm hepatites virais e desconhecem ser portadoras desta doença, que é silenciosa e pode levar à cirrose e ao câncer de fígado.
Juntas, as hepatites B e C respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no país – sozinha, a hepatite C é responsável por mais de 76% das mortes das hepatites virais, no período de 2000 a 2018, segundo Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2020, publicado em julho do ano passado pelo Ministério da Saúde, que registra 74.864 óbitos no Brasil no período.
Sintomas e tratamento
A hepatite se configura por uma inflamação do fígado, que pode ser causada por um vírus, pelo uso de medicamentos ou pelo consumo de álcool e outras drogas. Dentre os primeiros sintomas, estão: cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, dor abdominal, além de pele e olhos amarelados. Nos últimos anos, o tratamento contra esse tipo de enfermidade evoluiu consideravelmente, garantindo a chance de cura de pelo menos 95%.
Existem cinco diferentes tipos de hepatites, cada um provocado por um agente infeccioso diferente, mas que não apresentam sintomas claros para distinção no começo.
Os tipos são classificados pelas letras do alfabeto em A, B, C, D (Delta) e E. A hepatite A está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e higiene, sendo a mais comum das cinco, e é caracterizada como leve, existindo vacina.
A Hepatite B tem sua transmissão por via sexual ou contato sanguíneo. Sua prevenção está associada ao uso de preservativo – para ela também existe vacina disponível pelo SUS nas Unidades Básicas de Saúde em todo país.
A hepatite tipo C é considerada uma epidemia da humanidade, superando os números de AIDS/HIV, sendo a mais letal por não haver vacina. A Delta (ou hepatite D) ocorre apenas em pacientes já infectados pelo vírus tipo B, e a de tipo E é transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), dessa forma ao tomar vacina contra a hepatite B, também se previne a hepatite D. Já a hepatite do tipo E é causada pelo vírus VHE, mas raramente ocorre no Brasil, sendo mais comum na Ásia e África.
Campanha
Com o objetivo de incentivar o diagnóstico de hepatites virais, principalmente B e C, e cumprir a meta de eliminar a doença até 2030, defendida pela OMS/OPAS, o Ibrafig lançou a campanha nacional “Não Vamos Deixar Ninguém Para Trás”.
“Durante todo o mês de julho, vamos mobilizar toda a sociedade civil e nos unir a grupos que apoiam populações de alto risco, como pessoas em situação de rua ou privadas de liberdade, para encaminhamento para testagem e tratamento. Reforçamos também que todos, no Brasil, com idade acima de 40 anos têm risco de ter a doença e deve ser testado ao menos uma vez na vida”, informa Dr. Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig.
O vice-presidente da OPAS, Dr. Jarbas Barbosa, em depoimento para a campanha destaca: “Das hepatites virais, a C não tem vacina, mas desde meados de 2015 tem tratamento que pode eliminar o vírus em quase 100% dos caso. Por isso, é importante detectar e tratar a doença precocemente, isto é, quando os danos ao fígado e a outros órgãos ainda podem ser controlados. Com a detecção precoce e tratamento adequado, vamos cumprir a meta desafiadora de eliminar a doença até 2030”.
Segundo o Ibrafig, atualmente, a hepatite C é transmitida principalmente pelo compartilhamento de objetos perfurocortantes. A maioria da população infectada desconhece a condição e a provável fonte de contaminação.
Para esclarecimento de dúvidas e saber onde pode ser feito o teste, o Ibrafig coloca à disposição da população o telefone 0800-882 8222, e o canal de informação online Tudo Sobre Fígado.
Apoiam a campanha, com depoimentos e ações, entre outros: Dr. Jarbas Barbosa (OPAS), Dr. Harvey J. Alter (um dos descobridores do vírus da Hepatite C e Prêmio Nobel de Medicina 2020), ONGS, sociedades médicas e personalidades do mundo das artes, e influenciadores digitais. A programação completa pode ser conhecida nas redes sociais da entidade.
Devem fazer o teste para hepatite C, entre outras:
Pessoas com idade igual ou superior a 40 anos; ou que receberam transfusões de sangue ou transplantes de órgãos antes de 1993; usuárias de drogas injetáveis, ou que compartilham agulhas injetáveis, ou submetidas a procedimentos de tatuagens, piercings ou de escarificação com material não descartável, ou sem o devido cuidado sanitário;
Pessoas com múltiplos parceiros sexuais, ou com múltiplas doenças sexualmente transmissíveis
Pessoas que admitem elevado consumo de álcool