O medo de contágio pelo coronavírus fez com que muitas pessoas adiassem tratamentos, consultas de rotina e interferiu também em outra importante questão: a vacinação. A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta que ao menos 80 milhões de crianças no mundo estão sob risco de contrair uma doença evitável por conta da queda na taxa de imunização.
A situação é ainda mais preocupante no caso dos bebês prematuros, alerta a fundadora e diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani. “A vacinação é fundamental em qualquer circunstância, sobretudo para os prematuros, que são mais suscetíveis à doenças e infecções. Os bebês prematuros inspiram cuidados especiais, pois costumam apresentar baixa imunidade e sistema respiratório mais frágil”, fala.
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Análise inédita do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), com base em dados do Ministério da Saúde atualizados até o dia 4 de abril, mostrou que menos da metade dos municípios brasileiros atingiu a meta estabelecida pelo PNI (Plano Nacional de Imunizações) para nove vacinas. A maior redução foi da cobertura da vacina contra a hepatite B em crianças de até 30 dias. De 2019 a 2020, caiu de 78,6% para 62,8%. A tríplice viral primeira dose (contra sarampo, caxumba e rubéola) teve redução de 15 pontos percentuais. Já a queda de cobertura da vacina que protege contra poliomielite caiu de 84,2% para 75,9%. Em 2015, o país tinha registrado cobertura de 98,3%. Para obter imunidade coletiva, é necessária uma cobertura de 95%.
Outra pesquisa, do Ibope Inteligência, apontou que 29% dos pais adiaram a vacinação dos filhos desde o início da pandemia, e 9% disseram que só pretendem levá-los para a imunização quando a situação melhorar. “É uma situação muito preocupante, pois diversas doenças que estavam erradicadas, graças ao nosso exitoso PNI, podem voltar. Além disso, o calendário de vacinação do prematuro é especial, como os próprios pequenos. Manter a imunização desses bebês em dia, mesmo na pandemia, é garantia de proteção contra muitas doenças e infecções”, pontua Denise.
Exemplo desde fenômeno pode ser verificado na vacinação contra a gripe. As secretarias de saúde também vêm registrando baixa procura nos últimos anos e isso se repete em 2021. Em balanço divulgado no dia 9 de junho, a Secretaria de Saúde do Paraná informou que, naquele momento, a cobertura vacinal era de 34,2% de todo o público-alvo, dentre as mais de 4,4 milhões de pessoas que precisam ser imunizadas. A meta preconizada pelo Ministério da Saúde é de que 90% da população alvo seja vacinada.
Especificamente sobre a primeira etapa da campanha de vacinação contra a gripe deste ano, que abrangeu gestantes, puérperas, crianças de seis meses a menores de seis anos, indígenas e trabalhadores da saúde, e cobertura era de 56,4% de cobertura até 9 de junho.
Em Curitiba, por exemplo, a campanha já foi aberta para toda a população no dia 17 de junho. Nesta etapa podem receber a vacina contra a gripe qualquer pessoa acima de seis meses. A única recomendação da Secretaria Municipal de Saúde é que as pessoas que se vacinaram contra a Covid-19 respeitem o intervalo de 14 dias para, então, receberem a da gripe.
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(Foto: Lisa / Pexels)
Preocupação com a vacinação de bebês prematuros
Além da pandemia, que trouxe impacto à procura pelas vacinas, outro ponto de entrave, no que diz respeito à imunização dos prematuros, é a falta de conhecimento da segurança e da resposta imunológica em recém-nascidos com este perfil. “É muito importante que os profissionais de saúde orientem corretamente as famílias, ressaltando a necessidade de manter o calendário vacinal do prematuro em dia, a fim de garantir mais saúde e qualidade de vida ao seu bebê”, conclui Denise.
O calendário de vacinação dos bebês prematuros se equivale, em geral, ao esquema de vacinas da criança que nasceu à termo, com exceção da vacina BCG-ID (que evita formas graves de tuberculose). Para aplicação dessa, o prematuro deve atingir o peso de 2 kg e, principalmente, ter a avaliação do neonatologista que o acompanha. Também é preciso aplicar um reforço a mais da vacina para hepatite B um mês após a primeira dose (esquema 0-1-2-6 meses).
“Quando falamos de prematuros, é importante lembrar do palivizumabe, que não é uma vacina, mas uma imunoglobulina – um tipo de anticorpo “pronto” que induz imunização passiva específica contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Esse vírus pode causar a bronquiolite, infecção que pode ser muito grave em bebês pré-termo. Além de cuidados básicos, como higienização das mãos, manter locais ventilados e evitar aglomerações, o palivizumabe é a única forma disponível, hoje, para a prevenção de quadros graves de infecções respiratórias em lactentes”, explica a vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com, enfermeira e docente na área, Aline Hennemann.
Esse imunobiológico é disponibilizado para bebês prematuros, cardiopatas e com displasia broncopulmonar através da rede pública e deve ser tomado em doses mensais, até cinco doses, nos meses em que o vírus tem maior circulação na região em que o bebê vive. As regiões Norte e Nordeste apresentam maior circulação do vírus já em janeiro ou fevereiro. Regiões Sudeste e Centro-Oeste, inicia em março e abril e, na região Sul, começa entre abril e maio.
Outra particularidade da vacinação dos prematuros é o uso de vacinas acelulares, que oferecem proteção para mais de uma doença com a aplicação de uma única injeção. Elas são compostas apenas pelas proteínas responsáveis por gerar a resposta imune, fazendo com que os efeitos colaterais sejam menores.
Há duas vacinas que entram nessa categoria: a pentavalente e a hexavalente acelulares. A primeira protege contra cinco tipos de doenças (difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenza B e hepatite B). Já a segunda, contra seis (difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenza B, hepatite B, contando ainda com a vip – a vacina inativada da poliomielite).
Boas notícias
Desde janeiro desse ano, as vacinas pentavalente e a hexavalente acelulares foram incorporadas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs). A finalidade desses centros de atendimento especializado é facilitar o acesso de pessoas com necessidades específicas de imunização, disponibilizando ampla gama de vacinas, soros e imunoglobulinas, gratuitamente, e que não são oferecidos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) ou o são apenas para faixas etárias restritas.
Vacinas como a pentavalente e a hexavalente acelulares são destinadas a populações específicas, como os bebês prematuros, mas sua disponibilidade ainda é pouco conhecida.
As vacinas combinadas disponíveis nos CRIEs têm como benefícios menos efeitos colaterais para o bebê, o que contribui também para a adesão ao esquema vacinal. Todo estado brasileiro tem pelo menos um CRIE em atividade – ao todo, são 52 unidades. “Esses centros têm um papel muito importante para garantir a saúde dos nossos bebês e crianças, por isso, precisamos reforçar a existência deles, onde eles se localizam e que serviços oferecem”, salienta Aline.
No link https://prematuridade.com/index.php/noticia-mod-interna/saiba-onde-estao-os-cries-no-pais-9277, é possível verificar os endereços dos CRIEs pelo Brasil.
A vice-diretora executiva da ONG Prematuridade.com lembra que, para proteger o bebê, não apenas ele precisa estar com as vacinas em dia, mas também todas as pessoas de sua convivência. “É fundamental que pais, avós, tios, enfim, todos que estão próximos ao bebê também estejam imunizados, para garantir proteção integral à saúde do pequeno”, reforça.
Clique aqui para conhecer o calendário vacinal em todas as faixas etárias.
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