Hospitais e entidades alertam para a possibilidade de falta de medicamentos

Hospitais de várias regiões do país estão preocupados com os estoques de medicamentos para o atendimento de pacientes com Covid-19 nos próximos dias. O alerta está sendo feito pelas próprias instituições e por entidades que representam hospitais.

Em São Paulo, um levantamento da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp) feito junto aos principais hospitais filantrópicos mostra que a maioria só tem estoque destes itens indispensáveis para uma semana e, nos melhores cenários, para 15 dias. Aumento pela demanda dos medicamentos, escassez de matéria-prima para produção e custos significativamente elevados são alguns dos fatores que resultam na questão.

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Os produtos em escassez são os sedativos e bloqueadores neuromusculares que compõem o chamado “kit intubação”, essencial para intubar e manter intubado pacientes em estado crítico. Estão em falta, dentre outros, os bloqueadores neuromusculares Atracúrio, Cisatracúrio, o relaxante muscular Rocurônio, usado para facilitar a intubação, Henoxaparina (anticoagulante) e Fentanil (sedativo).

Com a nova variante brasileira do Sars-CoV-2, a P1, encontrada em Manaus, as internações aumentaram e os casos se agravaram, demandando ainda mais esses medicamentos. “Na primeira onda, a intubação ocorria em cerca de 50% a 60% dos casos. Hoje, o que nós observamos é que 100% dos pacientes que necessitam de UTI estão intubados, logo, aumentou de forma considerável o uso desses medicamentos”, salienta o diretor-presidente da Fehosp, Edson Rogatti.

“Não deixamos de atender as outras demandas hospitalares, como traumas, oncologia, cardiologia e outros casos de doenças que também necessitam de pacientes intubados e, agora, com o aumento de registros de Covid, principalmente que requerem UTI, esses pacientes têm necessidade da utilização em larga escala desses bloqueadores neuromusculares e sedativos, o que está levando a uma escassez. E a escassez é um passo antes do desabastecimento”, completa.

Paraná

O mesmo alerta foi feito em conjunto pela Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná (Sindipar), Associação dos Hospitais do Estado do Paraná (Ahopar) e Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviço de Saúde no Estado do Paraná (Fehospar). Em comunicado divulgado em 17 de março, as entidades também informaram sobre a possibilidade de falta de medicamentos, reforçando a necessidade de conter o avanço da pandemia.

Quanto aos hospitais que fazem parte da rede estadual, a Secretaria de Saúde do Paraná informou que encaminhou no dia 18 de março um novo lote de medicamentos que integram o chamado kit de intubação – conjunto de remédios voltados a auxiliar na intubação de pacientes com nível crítico de evolução da Covid-19. Eles foram destinados a 51 hospitais de todo o Paraná. São 76.310 unidades, dentre bloqueadores neuromusculares, sedativos e anestésicos, que foram adquiridos pelo Governo do Estado juntamente com o quantitativo enviado pelo Ministério da Saúde.

No levantamento da Fehosp, os hospitais relatam que ao fazerem pedido dos produtos para um estoque de 30 dias, quando encontram os itens, não conseguem na quantidade para suprir a necessidade de manutenção dos pacientes. “Há hospitais que têm estoque para o uso de cinco dias, outros de 20 dias e todos com grande dificuldade de encontrar esses medicamentos”, conta diretor-presidente da Fehosp, Edson Rogatti. “Nos preocupa isso, pois havendo a falta desses insumos, obviamente resultará no aumento do índice de óbitos, porque precisamos desses itens para manter a ventilação mecânica dessas pessoas”, exclama.

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Alta nos preços dos medicamentos para intubação de pacientes com Covid-19

Do lado das indústrias farmacêuticas, o diretor-presidente da Fehosp fala que os relatos são de que também foram surpreendidas com o aumento da demanda dos medicamentos, além da dificuldade para obtenção de matéria-prima para fabricação, que é importada.

A federação informou que o preço do “kit intubação” sofreu elevação significativa na comparação dezembro/março. O Rocurônio, por exemplo, que em dezembro de 2020 a unidade era encontrada por R$ 16, agora em março, está custando R$ 298, alta de 1.762,5%. O Atracúrio 25 mg, passou de R$ 14,30 para R$ 69 (+ 382,5%).

Nos anestésicos, os destaques estão no Propofol 20 ml, o qual o preço médio em dezembro era R$ 13,10, aumentando para R$ 33,40 (+ 154,9%) e a Fentanila 10ml, que de R$ 5,10 passou para R$ 10,50 (+ 105,8%). “Em dezembro, já estávamos trabalhando com uma inflação que vinha desde o começo da pandemia. Já vivenciamos isso no passado e agora estamos vivenciando de uma forma muito mais intensa pelo aumento abrupto dos casos”, fala Rogatti, completando: “Isso mostra que, com a escassez, alguns distribuidores que acabaram estocando para venda estão ofertando a esse preço absurdo, em um momento tão crítico do enfrentamento. Um paciente usa uma quantidade diária significativa destes medicamentos. Se o hospital comprar a esse preço, não conseguirá manter sua sustentabilidade financeira e irá sucumbir”.

* Com informações da Fehosp

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