Dieta limitada, com alimentos proibidos e o carboidrato como o principal vilão: é assim que muitos pacientes diabéticos enxergam a reeducação alimentar no tratamento e controle da doença. A realidade, porém, é bem diferente. Conviver com o diabete não é, necessariamente, embarcar em uma dieta extremamente restrita e sair cortando frutas, doces ou qualquer outro alimento que possa oferecer – sob a perspectiva do paciente – perigo à saúde. Neste momento, o mais importante é entender que a alimentação não é a vilã, mas sim uma grande aliada.
A nutricionista Mariana Paganotto (CRN 3003) explica que, diferente do que muitos diabéticos fazem ou pensam, não é necessário excluir as frutas da rotina alimentar. Porém, por ser fonte de frutose – um carboidrato que se transforma em açúcar no sangue – é necessário estar atento à quantidade de frutas que são ingeridas, assim como o horário da refeição. “O principal erro que os diabéticos cometem é acreditar que a fruta não é fonte de açúcar e, assim, consumir de duas a quatro porções no mesmo horário. Essa atitude promove aumento de glicemia acima do ideal, a chamada hiperglicemia”, detalha.
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Neste caso, a nutricionista recomenda que o paciente consuma frutas entre as principais refeições, ou seja, uma porção como lanche da manhã e outra como lanche da tarde, sem exageros. “São exemplos de porções uma unidade de banana-prata, maçã, laranja, pera, goiaba ou pêssego, ou uma fatia fina de frutas como melão, mamão ou abacaxi”.
É permitido comer carboidrato?
Presente em boa parte dos alimentos que consumimos, como massas, doces e grãos, o carboidrato é um macronutriente indispensável na alimentação de todas as pessoas, inclusive dos diabéticos. “Quem deixa de consumir carboidrato sofre consequências muito negativas na saúde, como indisposição, cansaço, falta de concentração, dores de cabeça, visão turva, irritabilidade, agressividade, mal humor e, a longo prazo, podem evoluir para comer compulsivo, que é quando a pessoa come mesmo sem a sensação de fome e sente que tem dificuldade em parar de comer”, explica Mariana.
Assim como em relação às frutas, ao invés de restringir determinados alimentos, o paciente deve escolher porções menores e não exagerar ao longo do dia. Desta forma, é possível saborear os pratos que gosta e evitar os picos de açúcar no sangue.
Alimentos integrais são bons aliados
Fontes de fibras, os alimentos integrais como pães, arroz e massas podem ser aliados no controle da diabete, uma vez que tornam a digestão e absorção do açúcar mais lenta. “O efeito na glicemia é diferente, pois evita picos de açúcar no sangue. Então, sempre recomendamos que haja preferência por alimentos integrais, mas isso não quer dizer que a pessoa está proibida de consumir farinha branca”, alerta Mariana.
Quando a vontade de comer um pão francês fresco chegar, a recomendação é associa-lo a uma fonte de fibra, como saladas e legumes. “Assim a digestão deste carboidrato também se torna mais lenta pela associação das fibras dos vegetais”.
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Cuidado com a vontade de “enfiar o pé na jaca”!
Apesar de não existir um alimento totalmente proibido, a nutricionista alerta: é necessário redobrar o cuidado durante confraternizações que envolvam comida, como aniversários e datas comemorativas. “É muito importante evitar ir a esses locais com sensação de fome, ou com aquele pensamento famoso de ‘enfiar o pé na jaca’”, relembra. A principal dica é comer alguma coisa leve antes de sair de casa e, durante o evento, ser bastante seletivo. “Antes de comer tudo, pare e preste atenção no que está sendo servido. Assim, é possível escolher o que mais gosta e comer mais devagar, saboreando o alimento e promovendo a sensação de saciedade precoce”.
A nutricionista também chama a atenção para a ingestão de calorias líquidas, ou seja, por meio das bebidas. “Nessas ocasiões, devem ser consumidas bebidas que não contém açúcar, como refrigerante zero ou água. No caso da bebida alcoólica, também é ideal preferir as que não contém açúcar, com muita moderação”.
Fuja de dietas restritivas
Assim como não há comida proibida, não há nenhum alimento que possa ser consumido livremente com despreocupação – nem os dietéticos. “Os alimentos dietéticos não são fontes de açúcar, mas podem ter na sua composição outro tipo de carboidrato. Sabendo disso, para o controle da glicemia é mais importante controlar a quantidade de carboidrato a ser consumida, do que apenas controlar as fontes de carboidrato. Isso torna a alimentação mais flexível, sem restrição dos alimentos de preferência e hábito da pessoa”, diz.
Em relação à restrição, Mariana afirma que, quanto menos alimentos proibidos, maior é a adesão do paciente ao cuidado alimentar para controle do diabete. “É comprovado que após um período de restrição alimentar severa, existe uma enorme chance da pessoa desenvolver compulsão alimentar”. Por fim, a nutricionista destaca: não existem alimentos milagrosos, assim como não existem vilãos.