O Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil é lembrada em 03 de junho. A data foi instituída com o intuito de alertar a população sobre os riscos e cuidados necessários para o combate a obesidade infantil. Segundo a Organização Mundial da Saúde, este é considerado um dos principais desafios para o século XXI.
Segundo dados divulgados pela Organização Internacional World Obesity, atualmente, cerca de 158 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos, em todo o mundo, convivem com o excesso de peso, e esse número deve aumentar para 254 milhões em 2030.
No Paraná, em 2019, dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) apontam que três em cada dez crianças de idade entre 5 a 9 anos atendidas nas unidades de saúde apresentaram excesso de peso. Destas, 15% estavam obesas. Entre as crianças menores de 5 anos, 13,1% apresentaram excesso de peso.
A obesidade é um problema de saúde grave que deve ser tratada com seriedade, principalmente na população infantil. O tratamento requer uma mudança no estilo de vida, nos hábitos alimentares e a inclusão de atividade física, bem como de comportamentos frente à comida de toda a família. “As crianças com obesidade têm grandes chances de se tornar adultos obesos e desenvolver diversas doenças crônicas como hipertensão, diabetes, infarto, entre outras. As causas da obesidade são influenciadas por um conjunto de fatores relacionados ao estilo de vida da população. Devemos priorizar para nossas crianças uma alimentação saudável sempre aliando com à pratica de atividades físicas”, alerta o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto.
Leia também – Dietas milagrosas: é seguro emagrecer sem acompanhamento profissional?
Leia também – Obesidade: “o preço é bastante alto”
Dietas
Cristina Klobukoski, nutricionista da Divisão de Promoção da Alimentação Saudável e Atividade Física da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), explica que as dietas restritivas prejudicam o crescimento e o desenvolvimento da criança. “Esse tipo de dieta além de aumentar a fome, reduz o metabolismo e pode fazer com que a criança perca a noção de fome e saciedade, aumentando a obsessão por comer e o comer emocional, além de proporcionar sentimentos negativos em relação à comida, como culpa e ansiedade, pode gerar transtornos alimentares”.
Perfil da alimentação
Dados de 2019 do SISVAN sobre as crianças paranaenses menores de seis meses mostram que apenas 58% estavam em aleitamento materno exclusivo; dos seis aos 23 meses, a prevalência do aleitamento materno caiu para 49%.
Das crianças de seis a 23 meses, 55% consumiram alimentos ultraprocessados e 37% bebidas adoçadas no dia anterior à avaliação. Entre as crianças de 5 a 9 anos avaliadas, 53% haviam consumido macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado; 76% consumiram bebidas adoçadas; e 67% consumiram biscoitos recheados, doces ou guloseimas no dia anterior. Ainda, 53% dessas crianças possuíam o hábito de realizar refeições em frente à televisão.
A endocrinologista Lorena Lima ressalta que a família precisa ser o grande aliada para a quebra crescente da obesidade entre as crianças. “Não é proibir, mas colocar limites para ficar na frente da televisão e dos celulares. Programar atividades com a criança que gastem energia, como andar de skate, brincar de pega-pega, o que fazíamos na nossa época de infância”, lembra a especialista, que é endocrinopediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria e doutora pela Universidade de São Paulo.
<
p class=”ql-align-center”>Família exerce papel fundamental na alimentação das crianças (Foto: Freepik)
Outro ponto que a médica enfatiza é a questão alimentar. “Salgadinhos, muito doce, tudo isso é prejudicial. É preciso oferecer frutas, folhas verdes, legumes. É uma troca, nem sempre muito bem vista pela criança, mas que aos poucos faz toda a diferença na qualidade de vida. E muito importante: a família deve dar o exemplo e se comprometer a seguir a mesma alimentação, já que crianças seguem exemplos”, explica a médica.
Leia também – Obesidade infantil: estilo de vida dos pais pode ser a resposta para a mudança
Prevenção
A prevenção inicia com um ganho de peso gestacional adequado e aleitamento materno até dois anos ou mais, sendo exclusivo nos seis primeiros meses. Após esse período, a alimentação da criança e de toda a família deve ser baseada em produtos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, feijão, arroz, leite, carnes, ovos, castanhas.
O açúcar não deve ser oferecido para crianças menores de dois anos e não deve fazer parte da rotina alimentar mesmo nos anos posteriores, além de não ser necessário e causar danos à saúde da criança, com exposição excessiva de doce desde cedo e pode causar dificuldade na aceitação de alimentos saudáveis, importantes para seu crescimento e desenvolvimento.
Os ultraprocessados, como refrigerantes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, suco de caixinha, salsicha, empanados e salgadinhos, também devem ser evitados. “O consumo de alimentos em frente às telas causa distração, fazendo com que a criança coma de forma automática e, muitas vezes, em excesso, prejudicando o controle de fome e saciedade e promovendo ganho excessivo de peso”, completa Cristina.
E na quarentena?
Com a pandemia de Covid-19, atividade física e alimentação saudável podem até parecer metas impossíveis. Porém, podem ser uma boa oportunidade de criar bons hábitos. “Para muitos pais que estão em home office, esse pode ser um momento ideal para se aproximar da criança e criar hábitos saudáveis e, consequentemente, estreitar o relacionamento de parceria e confiança”, sugere Lorena Lima.
A especialista também dá as seguintes dicas:
– Criança precisa de rotina, inclusive na hora de comer. “Horários estabelecidos para as refeições ajudam a diminuir a chance de escapar e comer aquele salgadinho”.
– Até para beber água é importante ter uma rotina, fique atento a isso. A água pode inibir a vontade de comer. Não beber água, pelo menos, 30 minutos antes das refeições.
– Outra estratégia é não comer doces e salgadinhos direto do pacote. “Coloque em um pote uma quantidade determinada para que não haja exagero!”.
– Comer um alimento de desejo de vez em quando não é o problema, desde que isso não se torne rotina.
– Deixar frutas à disposição e ao alcance da criança é uma ótima dica para incentivar a alimentação saudável.
<iframe width=”560″ height=”315″ src=”https://www.youtube.com/embed/NFUReCu1EWk” frameborder=”0″ allow=”accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture” allowfullscreen></iframe>
Pediatras alertam
Com o confinamento, as crianças acabam se exercitando menos e o consumo de produtos industrializados também pode aumentar. Isso poderia nos levar a um número ainda mais elevado de casos de obesidade infantil pós-pandemia, alerta a Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Rubens Feferbaum, concorda que que essa condição é, na verdade, uma oportunidade para pais, cuidadores e ensino escolar a distância de incentivá-las a terem maior contato com os alimentos, visando à formação e manutenção de bons hábitos.
“A criança pode participar do processo de elaboração das refeições, desde a higienização até o preparo final – atividades que podem ser feitas por diferentes faixas etárias, sob a coordenação de um adulto, e que incentivam práticas alimentares mais saudáveis”, diz o pediatra.
A Sociedade de Pediatria de São Paulo alerta para o que não deve ser feito na alimentação infantil:
– Obrigar ou forçar a criança a comer, o que pode gerar conflitos.
– Chantagear a criança. Exemplo: “se comer todo o legume, vai ganhar a sobremesa”.
– Substituir o alimento recusado por outro de preferência da criança.
– Desistir de oferecer o alimento após poucas tentativas.
– Substituir a refeição por pães, biscoitos, leite, em caso de inapetência.
– Obrigar o filho a terminar o prato quando ele não quer mais ou não permitir que ele repita algo, quando pede mais.
Leia também – Números do novo coronavírus no Brasil e no Paraná