O Dia Mundial da Luta Contra o Tabaco é lembrado em 31 de maio. Todos os anos, entidades da área da saúde lembram os riscos do tabagismo e o prejuízo que ele causa, como o câncer e doenças pulmonares e cardiovasculares. Entretanto, em 2020, o alerta tem mais um acréscimo: o consumo de cigarros também é um fatores de agravamento da Covid-19, a infecção causada pelo novo coronavírus.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), é provável que os fumantes sejam mais vulneráveis à Covid-19, já que os dedos estão em contato com os lábios, o que aumenta a possibilidade de transmissão do vírus da mão para a boca. Além disso, os fumantes também já podem ter doença pulmonar ou capacidade pulmonar reduzida, o que pode agravar o quadro de saúde caso contraia o novo coronavírus, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), que alerta para os prejuízos causados pelo cigarro no Dia Mundial de Luta Contra o Tabaco.
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Alguns trabalhos publicados durante a pandemia da Covid-19 mostram o tabagismo está diretamente ligado com a progressão da Covid-19. O cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, separou alguns dados que chamam atenção para isto.
De acordo com ele, uma metanálise de 19 estudos científicos, que reúne um total de 11.590 pacientes com Covid-19, demonstra que o tabagismo impacta diretamente na evolução dos pacientes com Covid-19. O trabalho mostra que o risco de desenvolver as formas avançadas da doença é quase duas vez maior entre os fumantes quando comparado aos não-fumantes. Um total de 218 pacientes com histórico de tabagismo (29,8%) apresentou a forma grave de Covid-19, em comparação com 17,6% dos pacientes não fumantes. Além disso, ao analisar as limitações dos 19 artigos, os autores sugerem que o risco real de fumar pode ser ainda maior.
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Covid-19, tabagismo e coração
Um estudo do Laboratório Cold Spring Harbor, da revista científica Developmental Cell, também apresenta que os tabagistas fazem parte do grupo de risco para contaminação com o novo coronavírus e para o agravamento da doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), caso a pessoa abandone o tabagismo, a principal vulnerabilidade dos fumantes às complicações da Covid-19 diminui imediatamente e pode até desaparecer. Esse é um dado ainda mais importante para pessoas que, além de tabagistas, sofrem de alguma doença do coração.
Entre indivíduos infectados pelo novo coronavírus que apresentam sintomas graves da Covid-19 e precisam de internamento hospitalar ou morrem, 53% têm algum problema de coração (dado divulgado pelo Ministério da Saúde, baseado em um estudo publicado na revista científica JAMA Cardiology).
“Se somarmos os dois fatores de risco, tabagismo mais tendência à cardiopatia ou doença do coração, a pessoa é altamente vulnerável em uma pandemia como esta, e os riscos de contrair o novo coronavírus e desenvolver as formas mais graves da Covid-19 são ainda maiores e mais rápidas”, afirma o cirurgião cardiovascular do Instituto do Coração de Curitiba (Incor Kubrusly), Dr. Luiz Fernando Kubrusly. “Esses pacientes são tão vulneráveis que, aqui no Incor, estamos nos dedicando a atendê-los para que não tenham de ir ao pronto-socorro dos hospitais. E se tiverem de ir, vão sob nossos cuidados, de modo que entrem e saiam o mais breve possível, munidos de todas as informações necessárias”, destaca.
Kubrusly lembra que o tabagismo, por si só, é um fator de risco para os cardiopatas. “O tabagismo se torna mais grave à medida que a pessoa é mais exposta ao hábito. Ou seja, se fuma há 20 anos uma carteira de cigarro por dia, já é um broncopata por definição”, diz. A broncopatia é qualquer doença que afete os brônquios. Se a pessoa contrair o coronavírus, as chances de complicações são maiores. “O risco é o de desenvolver formas mais graves da doença e mais precocemente necessitar de intervenção pulmonar, que é a grande questão na covid-19, ou seja, quando é preciso do apoio respiratório, como intubação”, explica.
O especialista alerta que é importante que fumantes cardiopatas redobrem o cuidado, de preferência, parem de fumar, continuem a tratar as doenças crônicas e fiquem atentos a qualquer alteração respiratória. “Todo tabagista tem, por exemplo, uma tosse crônica. Se essa tosse piorar, imediatamente deve procurar atendimento médico, se possível, primeiramente um médico fora do hospital, para uma avaliação e a indicação de atendimento hospitalar somente para casos mais graves ou necessários”, salienta.
Outros alertas no Dia Mundial de Luta Contra o Tabaco: câncer
Além da estreita relação do tabagismo com câncer de pulmão e doenças cardiovasculares o hábito de fumar também é um determinante fator de risco para outros tipos de câncer, como os tumores de bexiga. O cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães cita que, nos casos de câncer de bexiga, mais da metade dos pacientes é composta por fumantes.
O tabagismo é principal fator de risco para câncer de bexiga, doença que é cerca de quatro vezes mais comum entre os homens. De acordo com o levantamento Globocan, da Organização Mundial de Saúde, a doença ocorreu em 486 mil pessoas em 2018, sendo 379 mil casos em homens. Segundo a entidade, a prevalência é de 8,6 casos para cada 100 mil homens e de 2,2 casos para cada 100 mil mulheres. Entre 50% e 65% dos pacientes com câncer de bexiga têm histórico de tabagismo.
No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados para 2020 mais de 10.640 novos casos de câncer de bexiga, sendo 7.590 em homens e 3.050 novos casos em mulheres. No sexo masculino, a doença é o sétimo tipo de câncer tanto em âmbito mundial quanto entre os brasileiros.
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Asma e DPOC
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), para o Dia Mundial de Luta Contra o Tabaco, ainda ressalta outros prejuízos causados pelo cigarro, como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Segundo a entidade, a asma atinge de 10% a 25% da população brasileira, e ocasiona duas mil mortes por ano no Brasil. Do total de asmáticos, 80% têm rinite.
Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a asma atinge cerca de 235 milhões de pessoas em todo o planeta. Só no Brasil, a doença afeta aproximadamente 20% das crianças e adolescentes. Estudos apontam que a asma é responsável pela morte de dois milhões de pessoas no mundo.
Responsável pela quarta causa de internação no Brasil, a asma é definida como uma obstrução brônquica, geralmente ocasionada por um processo inflamatório. A asma pode ser alérgica e não alérgica. A mais comum e que atinge principalmente as crianças é a asma alérgica, desencadeada pelos alérgenos inalantes como poeira, ácaros, fungos e pólen.
Os sintomas são Inflamação dos brônquios, provocando falta de ar, sibilância, tosse, dor no peito e opressão torácica. Os sintomas costumam ser desencadeados por infecções respiratórias, exercício e exposição a alérgenos.
Outra consequência do tabagismo é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que provoca a destruição do tecido pulmonar e inflamação nos brônquios. Estima-se que no Brasil cerca de 12% da população adulta tenha DPOC.
Segundo a ASBAI, a doença é a principal causa de morte por doenças respiratórias nos adultos e representa 5,5% das mortes nessa população, com maior incidência à medida que a idade avança. O tabagismo é a principal causa da DPOC, mas outros poluentes inaláveis, como fumaça de fogo de lenha e material particulado de motores a combustão, também podem provocar a doença.
O principal sintoma é a falta de ar, que muitas vezes o tabagista acha que se deve ao avançar da idade e ao sedentarismo. Conforme a doença progride, a falta de ar torna-se cada vez mais intensa e pode ocorrer aos mínimos esforços, como tomar banho, vestir-se ou mesmo ficar repouso.
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