Estudo identifica que cloroquina aumenta risco de arritmia cardíaca

    * Atualização em 04 de maio: Revista inglesa deve retirar estudo que indicava riscos de arritmia cardíaca em pacientes de Covid-19 que usaram cloroquina

    Um artigo científico publicado no dia 22 de maio na revista médico-científica The Lancet indicou que não houve melhora significativa na condição de saúde de pacientes medicados com quatro protocolos diferentes de cloroquina e hidroxicloroquina.

    Feito por um grupo de cardiologistas, o foco da pesquisa foi identificar arritmias cardíacas e mortalidade hospitalar em pessoas sob o efeito dos medicamentos. O estudo foi realizado em um grupo multinacional de pacientes em 671 hospitais do mundo.

    Ao todo, 96.032 pacientes participaram dos testes, sendo que cerca de 15% total – 14.888 pessoas – foram medicados.

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    Em um protocolo, 1.868 pacientes receberam apenas cloroquina. No segundo protocolo, 3.783 pacientes receberam cloroquina e antibióticos.

    O terceiro protocolo contou com 3.016 pacientes, que tomaram apenas hidroxicloroquina. No quarto e último protocolo, foram administrados hidroxicloroquina e antibióticos para 6.221 pacientes.

    De acordo com o estudo, a mortalidade nos grupos que usaram as diferentes variações de protocolo baseadas na cloroquina ficou em 9,3% – acima do número do grupo de controle, as outras 81.144 pessoas. Neste grupo, que não foi medicado da mesma maneira, a taxa ficou em 0,3%.

    De acordo com o artigo, condições de saúde pré-existentes, como diabetes, doenças cardíacas, índice de massa corporal (IMC), doenças pulmonares e tabagismo não foram consideradas, já que poderiam influenciar nos resultados.

    Apesar da indicação de ineficácia dos protocolos que usam combinações de cloroquina e hidroxicloroquina, os autores do levantamento afirmam que a análise não é definitiva, e que mais estudos serão necessários para o diagnóstico final do uso das drogas.

    Comorbidades

    Apesar de não terem sido consideradas para o sucesso ou falha no protocolo de medicação, as chamadas comorbidades – a presença de uma ou várias doenças pré-existentes que podem potencializar os danos ao organismo – estavam presentes em uma ampla parcela dos participantes do estudo.

    De acordo com a publicação, 30,7% eram considerados obesos, com índice de massa corporal (IMC) maior que 30 kg/m², 26,9% eram hipertensos, 13,8% eram diabéticos, 3% tinham alguma doença imunossupressora, 17,2% eram ex-fumantes, 9,9% eram fumantes ativos, 12,6% eram portadores de doença coronária, 2,5% tinham histórico de falha cardíaca congestiva (entupimento de artérias) e 3,5% tinham histórico prévio de arritmia. Todas essas condições, citam os pesquisadores, já são relacionadas a uma alta taxa de mortalidade durante a internação hospitalar.

    Brasil

    No Brasil, o Ministério da Saúde publicou nesta semana um protocolo orientando a aplicação da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, mesmo em pacientes com sintomas leves.

    O protocolo traz que “não há evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a Covid-19”. Mesmo assim, existe a recomendação para a prescrição, com a ponderação de que ela está condicionada à prerrogativa do médico. O documento ainda traz que o paciente deve estar ciente sobre a administração dos medicamentos e deve assinar um termo de consentimento.