Revista inglesa deve retirar estudo que indicava riscos de arritmia cardíaca em pacientes de Covid-19 que usaram cloroquina

Três dos quatro autores do estudo que indicava que a cloroquina e a hidroxicloroquina, quando usadas no tratamento da Covid-19, aumentavam os riscos de arritmia cardíaca nos pacientes, afirmaram que não é possível garantir a veracidade dos dados do trabalho, de acordo com o comunicado divulgado na nesta quinta-feira (4 de junho) no site da revista médico-científica britânica The Lancet, onde o estudo havia sido divulgado inicialmente. Por isto, eles pediram a retirada do estudo da publicação.

Os cardiologistas e cirurgiões Mandeep Mehra, Frank Ruschitzka e Amit Patel não obtiveram sucesso na validação independente dos dados usados para a publicação do estudo, o que torna impossível a checagem dos óbitos e o acesso às fichas completas dos 96 mil pacientes que fizeram parte do levantamento. “Nós não podemos mais garantir a veracidade das fontes dos dados primários. Por causa deste desenvolvimento infeliz, os autores pedem que o artigo seja retratado”, afirma o médico e cientista Mandeep Mehra, em comunicado.

Publicado em 22 maio, o estudo afirmava que o uso de quatro protocolos diferentes de medicamentos – todos usando cloroquina ou sua variação moderna, a hidroxicloroquina – não surtiu efeito sobre o vírus SARS-CoV-2, agente causador da Covid-19. O estudo relata que um dos efeitos colaterais descritos na bula dos medicamentos, a arritmia cardíaca, colocou em risco a vida de pacientes de diversos grupos, desde os menos severos até os que estavam em estado crítico. 

O comunicado foi feito um dia depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar a retomada dos testes com os dois medicamentos. Após a divulgação do estudo na The Lancet, em maio, houve a decisão de suspender as pesquisas conduzidas pelo órgão com a hidroxicloroquina.

Médicos, cientistas e estatísticos de diversos países também se manifestaram sobre a metodologia aplicada, que utilizou um banco de dados da empresa Surgisphere especializada em informações médicas. Em carta pública, 120 autoridades médicas contestaram os números, e solicitaram que a OMS conduzisse auditorias independentes para validar as informações relativas ao tratamento de pacientes com Covid-19.

retratação do estudo pode ser consultada no site da The Lancet.

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