Nesse mês em que os temas femininos ficam mais em destaque, mais uma vez, falar sobre a sobrecarga que mulheres têm em seu dia a dia é oportuno. É oportuno dizer que há uma sobrecarga real, que mulheres sempre fazem mais do que querem, mais do que podem e muitas vezes mais do que devem. A sobrecarga é de trabalho, é de cuidados e, também, é mental, mulheres têm que fazer, orientar e controlar muitas atividades, as suas e as dos outros. Reparem.
Homens nascem, crescem e, ainda, são educados de forma diferente, a eles não é imposto o desenvolvimento de muitas habilidades, o próprio “ser” masculino já é o bastante para que eles sigam pela vida tranquilos. Já mulheres nascem e crescem com o estigma de cuidadoras e de alguém que precisa provar a todo momento a sua capacidade. A mulher tem que desenvolver habilidades no decorrer da vida, todas possíveis, muitas pelo fato de que não conseguem de forma natural o reconhecimento de suas potencialidades.
Uma mulher não consegue escolher com liberdade. Pode ser que alguns pensem que não, que é exagero. Muitas mulheres podem pensar assim, ou seja, que elas escolhem como querem viver, escolhem ficar em casa ou ser uma profissional “full time”, que escolhem ter filhos, que escolhem casar etc. Mas tenho certeza qualquer “escolha” não é pura, não foi resultado somente da vontade dessa mulher, sempre há algo ou alguém por trás. Nós sempre pensamos em tudo e em todos antes de definirmos nossas escolhas.
Muitas escolhas são frutos de pressão social e cultural. São questões que nos rondam desde sempre e que agora estão sendo repensadas. Já podemos sentir um movimento de questionamento sobre alguns costumes e ações padrão que nos movem, que nos fazem agir sem pensar e simplesmente seguir o fluxo. Não precisa ser assim.
A verdadeira escolha é só nossa. Claro que não devemos desprezar o mundo e as pessoas a nossa volta, mas é possível realizar nossas vontades e escolher sem abdicar de nossos mais íntimos desejos, de nossos dons e nossas habilidades reais.
O que eu quero dizer é que podemos ser mais livres, já caminhamos muito na busca dessa liberdade, à custa da luta de mulheres que deram a cara a tapa, hoje podemos votar, podemos trabalhar fora, podemos definir sobre nossa vida financeira, podemos tomar decisões sem aval de um homem, podemos decidir sobre nossos filhos, somos parte, fazemos parte.
Mas podemos e merecemos mais. Ainda há obstáculos a serem vencidos, acumulamos muito trabalho. Precisamos seguir sem tantas obrigações que o mundo estabelece como só nossas. Precisamos de ajuda, precisamos dividir. Todos, homens e mulheres, são capazes e responsáveis por suas vidas, casas, filhos, família, pertences, seu próprio corpo, os cuidados com ele etc. Acreditem, fazer por si, ser independente, é muito melhor. Fazer por si o que é de seu interesse e não ocupar mais ninguém com isso.
E como chegar a essa liberdade? Primeiro pela consciência de que ela é possível e necessária. Segundo, pela educação. Educar crianças com a consciência sobre independência, sem critérios de distinção. Ensinar independência. Ensinar a cuidar, de si e dos outros. E por nós, agora, questionar comportamentos padrão, não aceitar, não se conformar. Sempre em frente.
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