Entidades e profissionais de saúde estão se mobilizando para reforçar porque é importante vacinar as crianças, ainda mais depois da divulgação dos índices de vacinação alcançados em 2019. Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações, a meta de pelo menos 90% para as principais vacinas infantis não foi atingida no ano passado.
Os dados causaram preocupação. A Sociedade Brasileira de Pediatria, por exemplo, lançou um manifesto pedindo o aumento da cobertura vacinal no país. A Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), em conjunto com a Comissão de Direito em Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná (OAB/PR), também divulgou uma campanha para alertar os pais sobre a importância de vacinar as crianças.
Segundo a SPP, as principais vacinas são aplicadas desde o nascimento do bebê até a terceira idade. São mais de 20 tipos diferentes, que ajudam a prevenir doenças graves, como meningite, pneumonia, hepatite, paralisia infantil e sarampo, entre outras. Quanto mais cedo a imunização acontecer, mais cedo as crianças estarão protegidas.
Vale lembrar que os dados apresentados pelo Programa Nacional de Imunizações, por meio do Ministério da Saúde, são referentes a 2019. Ou seja, ainda não havia o impacto da pandemia de Covid-19, o que pode fazer com que os números da cobertura sejam ainda mais preocupantes em 2020.
“A queda na adesão da população às principais vacinas indicadas para crianças de até um ano, conforme foi revelado, configura grave sinal de alerta para as autoridades sanitárias. Independentemente do contexto da pandemia de Covid-19, estratégias devem ser elaboradas de modo urgente para que pais e responsáveis possam manter as cadernetas de vacinação das crianças em dia. Os pais devem ser orientados a ver a ida aos postos de vacinação como uma responsabilidade cívica com o bem-estar individual e coletivo, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, e não como uma opção”, traz o manifesto da Sociedade Brasileira de Pediatria.
No documento, a entidade considera o panorama como um problema de saúde pública. Uma das instituições a apoiar o manifesto foi o Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), referência no atendimento pediátrico no país.
A coordenadora do Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar/Centro de Imunizações do Pequeno Príncipe, médica pediatra Heloísa Giamberardino, lembra que a cobertura vacinal do público infantil no Brasil sempre foi destaque internacional, fruto do Programa Nacional de Imunizações e da rede pública e privada estabelecida para isso. “As vacinas têm impacto muito importante na saúde humana. Elas realmente fazem diferença. Em pleno século XXI, não é possível uma criança adquirir ou ter evolução fatal por uma doença imunoprevenível”, destaca.
Heloísa salientou que é importante vacinar as crianças para o desenvolvimento de uma rede de proteção que vai além do público infantil, além de ser um direito de crianças e adolescentes. “Os pais não podem deixar de oferecer a vacina. Essa não é uma escolha pessoal. Assim como protege sua criança, também estará protegendo os próximos e familiares. Vacinar também significa participar de uma rede de proteção para outros pacientes, que eventualmente neste momento não podem receber vacina por questões clínicas ou por um tratamento imunossupressor ou doença ativa. Precisamos proteger também essas pessoas”, explica.
De acordo com Heloísa, a pandemia não pode ser usada como argumento para a não vacinação das crianças. “Temos salas específicas para isso, sem risco de atendimento conjunto com outras doenças. A rede privada também está preparada. Temos que olhar a carteira vacinal dos nossos filhos e cumprir essa responsabilidade”, opina.
Além disso, é importante a vacinação estar em dia já pensando na retomada das atividades presenciais nas escolas, quando a imunização poderá fazer diferença. No Paraná, ainda existe uma resolução que obriga a apresentação da carteira vacinal atualizada para a realização das matrículas tanto na rede pública quanto a privada de ensino. “Não podemos deixar que outras epidemias venham junto com a pandemia de Covid-19. As vacinas estão disponíveis para que façamos o uso de forma correta, preventiva e consciente. Vacina é ciência e ferramenta de saúde pública”, enfatiza.
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Campanha multivacinação
O Paraná antecipou em uma semana a campanha multivacinação e também a contra a pólio, que teve início nesta segunda-feira (28 de setembro) em todas as unidades de saúde dos municípios paranaenses. Nos demais estados brasileiros, a mobilização começa no dia 5 de outubro. Em todo o Brasil, a campanha irá até 30 de outubro.
O objetivo da campanha multivacinação é justamente atualizar a carteira vacinal de crianças e adolescentes com até 15 anos. Serão oferecidos vários tipos de vacinas, como: BCG, que previne as formas graves de tuberculose; pentavalente, que protege contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e influenza B; Rotavírus Humano, contra a diarreia; Pneumocócica 10, contra a pneumonia meningite e otite; Meningocócica C e ACWY, que previne contra meningites; Tríplice Viral, contra sarampo, caxumba e rubéola; vacina contra a varicela; vacina HPV, que previne alguns tipos de câncer em jovens; vacinas da Hepatite A e Hepatite B; e ainda a vacina contra a Febre Amarela.
Já a campanha de vacinação contra a Poliomielite é dirigida a crianças a partir de 12 meses a menores de 5 anos de idade. A meta é vacinar 95% das quase 584 mil crianças nessa faixa etária no Paraná. Esta vacina é oral, com a aplicação de duas gotas em cada criança. O estado não registra casos de pólio desde 1987 e o Brasil desde 1990. Por isso, a vacinação é tão importante, para manter a doença erradicada.