Trabalhar a enfermagem pautada na ciência, arte e no cuidado está na essência da Cooperativa de Trabalho de Enfermagem do Paraná – COOENFPR que completou dois anos de atividades, sendo pioneira no segmento no Estado. “Estamos vendo o mundo se transformar em uma velocidade nunca observada antes. E no setor de enfermagem isso não é diferente, o que acaba por se tornar um desafio acompanhar tanta informação ao mesmo tempo. Some-se a isso o fato de que as decisões para quem atua na profissão precisam ser tomadas com respaldo na ciência e pautadas em evidências”, explica a enfermeira e presidente da COOENFPR, Quitéria Antunes.
Segundo a profissional, trabalhar em formato de cooperativa ajuda os profissionais a entrarem nesta nova realidade do mercado, pois soma-se forças, compartilha-se conhecimento e ganha-se em autonomia profissional. “Queremos que enfermeiros, técnicos e auxiliares em enfermagem sejam melhores reconhecidos pelo mercado e pela própria sociedade como alguém essencial dentro de uma equipe multidisciplinar de saúde, mas para isso, o próprio profissional precisa se ver nesta condição. Essa realidade leva-se tempo para mudar, mas estamos plantando esta semente e ela vem germinando e logo teremos uma nova realidade brotando a partir de iniciativas cooperadas”, destaca.
A COOENF foi criada poucas semanas antes do início da pandemia do coronavírus mudar toda a rotina do setor de saúde. Com 600 profissionais ativos no Paraná em municípios como Curitiba, Região Metropolitana e Campos Gerais, a classe atravessou a pandemia sendo um elo de extrema importância para enfrentamento da Covid-19.
Confira a entrevista ao Saúde Debate:
Saúde Debate – O que a pandemia ‘ensinou’ aos profissionais de enfermagem?
Quitéria Antunes – Eu diria que a pandemia, fez um giro de 180 ºC com a saúde. É como se tudo estivesse de cabeça para baixo. E com a enfermagem não é diferente. De repente a rotina de cuidados para as mais diversas patologias e tratamentos de saúde teve que se reinventar. O medo do desconhecido toma conta de todos os profissionais e das instituições de saúde. A enfermagem que fica 24h intercalando profissionais para prestar assistência ao paciente, precisa manter a calma e utilizar a habilidade educativa para aprender em tempo recorde as medidas preventivas e de manejo com pacientes infectados pela Covid-19 e, ainda, estimular pacientes, acompanhantes e visitantes a adesão a todos os protocolos que muitas vezes mudam de tempos em tempos.
A grande satisfação deste período é ter o privilégio de ver a equipe de saúde sendo realmente multidisciplinar, onde todos passaram a se ouvir, a aceitar e implementar sugestões de melhoria para salvar a vida do doente. Acredito que o aprendizado para enfermagem, ainda está acontecendo, que é a quebra de paradigma. Antes, a assistência ao paciente parecia seguir uma trajetória sequenciada e lógica, onde os profissionais eram capacitados em laboratórios ou auditórios. Com o advento da pandemia o fator ‘tempo’ se tornou escasso e tivemos que nos reinventar. Aprendemos a levantar a necessidade de treinamento, reunir especialistas, usar a tecnologia e a capacitar a equipe em tempo recorde, garantindo qualidade assistencial, preservando muitas vidas. Arrisco dizer que o maior legado que a Covid-19 deixará para a enfermagem, contudo, é a visibilidade do profissional que atua com maior autonomia, sendo agente transformador e integrador da equipe de saúde.
Quais são os temas que hoje mais estão em evidência no setor de enfermagem e que têm maior demanda, no que diz respeito a atualização profissional?
A Covid-19 não acabou e ela deixará muitas sequelas que ao longo do tempo ainda vamos ter que aprender a lidar. Se isso é um fato, então além das jornadas cansativas vamos ter que nos atualizar constantemente. Não que essa necessidade não ocorresse antes, mas pelo ineditismo do vírus ele vai exigir esse grau a mais de dedicação do profissional da saúde neste momento. Já estamos nos deparando com uma enxurrada de pessoas que sofrem de ‘transtornos mentais e ansiedade, depressão’ e isso se acentuou nos dois últimos anos. É perceptível ainda uma deficiência de autocuidado, ou seja, paciente mais dependente de auxílio para executar as atividades básicas, bem como identifica-se com mais frequência a perda de capacidade física e motora. Situações que embora não sejam uma novidade para o profissional, agora estão aparecendo com maior frequência e precisamos nos ater a esse novo cenário. A alta demanda por profissionais capacitados para atender a pacientes de alta complexidade é uma realidade bem como especialistas com experiência em UTI.
Qual é o grau de entendimento dos profissionais sobre os cooperativismos no setor de enfermagem?
Trabalhar de forma cooperada é algo inédito em nosso Estado para a categoria de enfermagem. A iniciativa demonstra que somos fortes, essenciais e primordiais para o sistema de saúde. Afinal, não há atendimento de qualidade para pacientes sem a presença de um enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem. Temos a total noção desta importância de nossa profissão e por isso seguiremos atuando para que tenhamos um espaço ainda maior no sistema de saúde. Porém o entendimento dos mais de 118 mil profissionais em nosso Estado sobre o cooperativismo ainda é pequeno. Em sua formação, a enfermagem é preparada para prestar serviços somente através de CLT, ou serviços públicos de saúde como servidores, o que remete o sentimento de maior segurança e empregabilidade. O cooperativismo para enfermagem ainda é um desafio tanto para o mercado como para o profissional. A autonomia, conferida pela prestação de serviços através de cooperativismo, fortalece a união entre a categoria e aumenta a responsabilidade como indivíduos e como corpo societário.
Já são dois anos de caminhada como cooperativa de enfermagem, o que foi possível desbravar neste período?
Sem dúvidas não é só de desafios que vive o trabalho cooperativo. Posso dizer de coração aberto que é uma experiência única. Já somos mais de 600 profissionais na COOENFPR, fato que consideramos uma grande vitória, pois isso demostra o grau de interesse dos profissionais neste formato de trabalho cooperado. Falando em números, em dois anos atendemos juntos mais de 5 mil pacientes. Temos uma gestão guiada por planejamento estratégico institucional e de marketing. Se falamos de profissionalização, o exemplo precisa vir de casa, e o cooperado precisa sentir esse profissionalismo exalado pela cooperativa. Por isso, nossa gestão tem o apoio de consultorias em administração, comercial, comunicação, entre outros. Criamos uma sólida rede de apoio através da implantação de área de recursos humanos, para garantir a atualização da cooperativa e de seus profissionais frente as constantes atualizações das leis trabalhistas, segurança do cooperado e transparência na gestão de escalas para os cooperados e contratantes. Foi possível ainda implantar neste período uma gestão integrada de processos através da aquisição do sistema chamado de ERP.
Criamos ainda uma dinâmica para ofertar o desenvolvimento constante do cooperados por meio de encontros presenciais e on-line. Já são mais de 12 mil horas de treinamento técnicos, comportamentais e financeiro computados. Soma-se a isso auditoria de processos, parcerias com universidades para desenvolvimento de cursos de aperfeiçoamento profissional para o corpo societário e profissionais de mercado, treinamento de líderes para o desenvolvimento de gestores engajados na proposta de cooperativismo e gestão de alta performance. Isso para uma cooperativa que nasceu em meio a pandemia, a qual exigiu muito de seus profissionais dentro e fora dos hospitais. Podemos dizer que abrimos estradas e caminhos. Aos poucos vamos pavimentá-las.
Trabalhamos incansavelmente nestes últimos dois anos para referendar que o saber científico é a base de nossas atividades. Todo esse trabalho em conjunto vem elevando cada vez mais os padrões de aceitação da profissão e o entendimento da sociedade sobre a importância estratégica da enfermagem no setor de saúde. Enfermagem é Ciência, é Arte, é Cuidado.
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