Muito se fala de saúde mental nos últimos tempos. No rastro da pandemia da Covid-19, que ainda persiste, vieram incertezas, perdas, angústia e medos diversos, cujo impacto ainda estamos contabilizando. Nossa capacidade de adaptação, manejo e superação de momentos difíceis, entretanto, não deve ser subestimada.
No decorrer desse período, que ninguém imaginou que fosse durar tanto, conseguimos nos adequar às imposições decorrentes da situação. Mesmo tendo que manter o distanciamento social exigido pelas circunstâncias, nos unimos na solidariedade, ajudando a quem mais precisa; mantivemos contato com os entes queridos por mensagens, telefonemas, videochamadas e compartilhamento de fotos e vídeos; sobrevivemos, enfim, e chegamos ao fim de mais um ano, de um ciclo. Consequentemente, estamos prestes ao início do próximo.
Ainda enfrentamos e enfrentaremos momentos difíceis, mas é tempo de agradecer, celebrar a vida e trabalhar a mente para seguir em frente sem deixar que os percalços nos tirem do eixo.
É fato que estamos cansados, nervosos, preocupados, abatidos e mesmo esgotados, mas chegamos até aqui. O mais difícil já passou? Não saberia dizer, mas isso não é o mais importante. Pelo menos não para mim. Cheguei até aqui, sobrevivi e ajudei tantas pessoas quantas pude nesse período, dentro e fora do consultório. Embora haja pessoas naturalmente mais resilientes, auxiliei muitas outras a treinar e desenvolver essa habilidade. Sim, ela é passível de aprendizado.
O ano finda, mas todas as recomendações dadas no início da pandemia continuam válidas: desenvolver e manter rotina de horários para se alimentar, dormir e acordar, tirar um tempo para descansar, exercitar-se, reduzir o uso das redes sociais e encontrar um hobby, uma atividade que proporcione prazer.
Outra atitude construtiva e valiosa é fortalecer os laços com a família e amigos. O distanciamento social nos mostrou o quanto estar junto de quem amamos é precioso. Mesmo que ainda limitados pela pandemia, que esses laços se estreitem como for possível. Tudo vale para manter a proximidade com quem nos quer bem.
A relação entre pais e filhos também precisa ser cuidada e fortalecida. Uma pesquisa do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), conduzida em 21 países, entre eles o Brasil, mostrou que a pandemia e o isolamento social dela decorrente atingiram intensamente o bem-estar psicológico dos mais jovens: 22% dos entrevistados, com idade de 15 a 24 anos, declararam se sentir deprimidos ou com pouco interesse em atividades. Para evitar prejuízos mentais e sociais ainda maiores, o Unicef disponibilizou um canal de apoio virtual a essa população, o Pode Falar, e prescreve mais investimento em políticas públicas de assistência e campanhas de sensibilização junto à sociedade.
Leve para o próximo ano o seguinte pensamento: você não está sozinho. Quando sofrimento mental, pessimismo e pensamentos negativos rondarem, se apresentarem, insistirem em perturbar, busque ajuda.
Que em 2022 e nos anos vindouros, a palavra de ordem seja zelo: cuidado e atenção para conosco e para com aqueles à nossa volta, para que sigamos nossa caminhada com saúde e paz. Do restante, correremos atrás.
<
p class=”ql-align-center”>(Foto: Divulgação)
* Luiz Alberto Hetem é médico psiquiatra, doutor em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Leia outros artigos publicados no Saúde Debate
Conheça também os colunistas do Saúde Debate