O avanço da vacinação contra o coronavírus no Brasil e a consequente redução de números de casos e óbitos provocados pela doença faz com que diversos profissionais se preparem para voltar aos escritórios. O que pouco vem sendo abordado é que toda novidade necessita de um tempo para adaptação. Foi assim no início da pandemia e não será diferente agora com o retorno à “vida normal”. Após tanto tempo em casa, em um cenário completamente inimaginável, é compreensível sentir receio em retornar à rotina anterior. Isso envolve questões como o medo da infecção pelo Covid-19, reorganização do dia a dia em casa com a família e a ideia de se encaixar novamente no ambiente corporativo.
Com as medidas de isolamento social, profissionais que nunca pensaram em trabalhar em home office antes precisaram se adaptar – com filhos, companheiros, animais e até mesmo obras ao lado. Enquanto essa dinâmica não agradou alguns, outros se deram muito bem e encontraram uma nova forma de viver e trabalhar. Essa disparidade pode gerar inconstâncias na performance das equipes e na satisfação dos funcionários em atuar na empresa que obriga o retorno presencial.
Por isso, os empregadores precisam se preparar para outro fator que já necessitava de atenção e agora é ainda mais essencial: a saúde mental dos colaboradores. A pandemia deixou marcas que serão levadas por muitos anos, tanto no ambiente social como no corporativo. Os funcionários podem voltar às empresas ansiosos, estressados, desanimados e com medo, mesmo se já tiverem sido imunizados, já que mesmo assim podem contrair a doença. Muitos deles ficaram por meses presos em casa e sem contato ou interação com outras pessoas e é natural sentir esse receio.
Pesquisa realizada com a base de dados da Medipreço, startup parceira no cuidado à saúde e bem-estar de colaboradores de empresas, e do painel de monitoramento de produtos controlados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mostrou que o consumo de antidepressivos cresceu 23,4% durante a pandemia do Covid-19. Em 2021, até o momento, o aumento é de 10% comparado com o volume de medicamentos vendido no ano passado. Já a compra de ansiolíticos teve um avanço de 7% desde o início da crise sanitária e 8,2% neste ano, em relação a 2020.
Essa necessidade também é alertada pelo levantamento feito pela Troposlab em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que revela que 30% dos pequenos empresários brasileiros buscaram apoio psicológico pela primeira vez durante a pandemia. Além disso, cerca de 11% dos entrevistados foram diagnosticados com depressão, e mais da metade (53%) recebeu o diagnóstico de ansiedade.
Esses números mostram que a atenção com a saudabilidade dos profissionais deverá ser redobrada nos meses posteriores à retomada do trabalho presencial. É fundamental pensar em como garantir um retorno tranquilo aos escritórios, aproximar colaboradores que tiveram pouca interação durante a pandemia, entender o momento de cada um deles e criar ações para assegurar a saúde e bem-estar de todos. Tudo isso para evitar os grandes picos causados por transtornos psicológicos, que poderão ser facilmente alimentados pela incerteza da nova rotina.
Por isso, os líderes, gestores e CEOs devem criar estratégias na preparação para a retomada do trabalho presencial e entender como ele deve ser feito – de maneira híbrida, sem obrigatoriedade ou fixa. O cuidado com a saúde deve se tornar uma pauta prioritária, uma vez que afeta tanto a produtividade dos profissionais, quanto aspectos que envolvem relacionamentos interpessoais fora da empresa. Ao cuidar da saúde mental dos colaboradores, os gestores perceberão uma facilidade maior para lidar com outras questões relacionadas ao dia a dia no trabalho.
(Foto: Divulgação)
*Bruno Oliveira é sócio-fundador e COO/CTO da Medipreço, empresa que visa oferecer aos colaboradores de empresas parceiras acesso a medicamentos e produtos de saúde com os menores preços praticados no mercado. Mestre em Gestão em Informática em Saúde, possui mais de 15 anos de experiência no segmento de Tecnologia em Saúde, coordenando grandes projetos nacionais de informatização de hospitais federais e estabelecimentos de saúde.
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