Silêncios internos

Muitos se incomodam com o silêncio. Dependendo da situação ele pode ser desconfortável mesmo. Mas em muitos momentos ele é necessário…

Há pessoas que não conseguem ficar sozinhas e o silêncio pode ser insuportável. Precisam de música, de televisão, vídeos, áudio-books, alguém para conversar e interagir.

Já outros se satisfazem com o silêncio, sentem-se bem, procuram por ele. Precisam de tempo pra si em virtude de um dia corrido, uma semana exaustiva, do excesso de ligações, reuniões, contatos, interações. Buscam um lugar e um momento em que não haja um ruído sequer, refazendo-se de possíveis desgastes, reconectando-se consigo mesmo.

E de fato, nossa mente precisa de uma pausa. São tantas as notícias, uma enormidade de informação, uma enxurrada de estímulos audiovisuais e cognitivos todos os dias, muitas vezes não damos conta de tudo.

Estamos mais do que nunca reféns das telas, das mídias, das redes. A demanda aumentou, as exigências também. Não sobra pausa para o silêncio.

Quando foi a última vez que você experimentou o silêncio?

Sem querer aqui impor regras ou determinações, mas se pensarmos bem mesmo com uma boa música, ou nos sons naturais, podemos encontrar o silêncio … me refiro aos silêncios internos.

Aquele que nos permite ouvir a nossa própria voz, muitas vezes abafada pelas emergências do cotidiano. Nem sequer ouvimos o que desejamos comer, o que queremos vestir, o que gostaríamos de beber, apreciar, fazer. O automatismo das nossas ações nos trouxe esse distanciamento dos nossos reais desejos. Não ouvimos mais o que temos a dizer a nós mesmos e vamos simplesmente seguindo o fluxo.

Estamos fazendo cada vez menos contato com aquilo que pensamos e sentimos, não disponibilizamos em nossas agendas um espaço para nós mesmos. Não temos horário para nós em nossa própria programação, seja ela diária, semanal, mensal.

Mesmo agora, tempos em que muitos estão trabalhando em casa, isso também não mudou. Nossa agenda está cada vez mais apertada. Não há espaços para silêncios. Até mesmo quando estamos no banho, um momento que poderia ser para relaxar e silenciar, nossa mente continua acelerada pensando nos compromissos do dia que não cumprimos, ou os que temos para o dia seguinte, ou o que deixamos de fazer e acumulou-se com as atividades que já estavam pendentes.

Para que tenhamos saúde mental, ainda mais em tempos tão turbulentos, e mesmo para sua manutenção é importante que adotemos o hábito de silenciar.

O silêncio pode ser um grande aliado para momentos em que precisamos serenar nosso interior. Ele nos ajuda a colocar ordem em nossos pensamentos e emoções.

Às vezes precisamos tomar uma decisão importante, ter uma conversa mais séria com alguém, nos preparar para uma importante reunião, ou mesmo para uma prova ou apresentação e estamos com nosso interior tão agitado e acelerado que não ouvimos sequer quais as nossas necessidades naquele momento para que tudo saia a contento.

Pausas são necessárias, silenciarmos nosso interior é fundamental para nos mantermos em equilíbrio psíquico, com nossos pensamentos, nossas emoções, nossas sensações, nosso estado de espírito.

E como podemos fazer isso? Nas coisas mais simples do dia a dia é possível. Focando naquilo que estamos fazendo naquele momento, estando presente no aqui e no agora. Nossa mente precisa estar onde está nosso corpo. É esse alinhamento que promove nosso bem-estar físico e emocional e nos proporciona saúde física e mental.

Se estamos aqui e nosso pensamento está no passado ou no futuro, algo está errado. Esse desalinhamento faz com que nossa energia psíquica seja empregada de forma pouco benéfica muitas vezes.

Então procure estar atento aos seus pensamentos e sempre que possível silencie seu interior por alguns instantes. Pare por alguns minutos, concentre-se em sua respiração, no funcionamento do seu corpo, procure perceber a si mesmo, quais as suas necessidades, o que sua mente, seu corpo e seu espírito precisam para estar em perfeita harmonia.

Estabeleça pequenas metas diárias, comece com 5 minutos e vá aumentando na medida do possível. Mas priorize um tempo para o sossego da mente. Isso fará diferença na sua qualidade de vida.

* Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e atua há mais de 10 anos na área da saúde. Pós- graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica, pós-graduada em Psicologia Hospitalar e specialista em Psico-Oncologia, com atuação em Cuidados Paliativos. Pós-graduanda em Psicologia Transpessoal e Mestranda em Bioética, além de colunista do portal Saúde Debate

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