Por que o Transtorno de Personalidade Borderline é frequentemente confundido com bipolaridade? Psicanalista explica os motivos e diferenças

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(Foto: Freepik)

Segundo levantamento do Google Trends Brasil, as buscas por “bipolaridade” e “transtorno borderline” cresceram significativamente nos últimos doze meses, acompanhando o aumento do debate público sobre saúde mental. Apesar disso, ainda há muita desinformação sobre o que diferencia esses dois diagnósticos. A confusão é comum não apenas entre o público leigo, mas também em ambientes clínicos, o que pode atrasar o início de um tratamento adequado.

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A psicanalista Taty Ades, especialista em Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), destaca que a principal diferença está na forma como se manifesta a instabilidade emocional. “Na bipolaridade, os episódios são mais duradouros, podendo persistir por dias ou até semanas, com alternância entre fases de depressão e euforia. Já no Borderline, a oscilação ocorre de forma muito mais rápida, às vezes várias vezes no mesmo dia, e geralmente em resposta a eventos externos, principalmente nas relações interpessoais”, explica.

Essa reatividade emocional é um dos traços mais característicos do TPB. Pessoas com o transtorno costumam apresentar dificuldades intensas de regulação emocional, baixa autoestima e um medo crônico de abandono. Isso se reflete em relações instáveis e em padrões de comportamento muitas vezes impulsivos. “É comum a pessoa com Borderline idealizar alguém num momento e, no instante seguinte, desvalorizar totalmente, muitas vezes por um gesto interpretado como rejeição. Essa percepção distorcida dos vínculos afeta diretamente sua estabilidade emocional”, aponta a especialista.

Um estudo publicado pela American Psychiatric Association aponta que até 40% dos pacientes com Borderline já receberam diagnóstico de transtorno bipolar em algum momento, o que pode levar a tratamentos inadequados, como a prescrição excessiva de estabilizadores de humor sem o devido acompanhamento psicoterapêutico.

Para Taty Ades, o diagnóstico correto exige escuta clínica qualificada e sensível. “Não podemos nos basear apenas em listas de sintomas. É fundamental compreender a história de vida do paciente, suas relações primárias e o modo como interpreta e sente o mundo à sua volta. O Borderline tem raízes profundas, geralmente associadas a experiências precoces de rejeição, abandono ou trauma”, afirma.

Outro aspecto que ajuda a diferenciar os dois quadros está na percepção subjetiva da própria condição. Enquanto muitos pacientes bipolares identificam seus episódios como fases distintas e estranhas à sua identidade habitual, os borderline frequentemente se sentem permanentemente à flor da pele, como se estivessem sempre em crise. Isso gera um sofrimento psíquico contínuo e um senso de vazio existencial bastante recorrente.

Embora tanto o TPB quanto o transtorno bipolar requeiram acompanhamento profissional, o tipo de intervenção costuma ser diferente. “O tratamento do Borderline exige um vínculo terapêutico estável e profundo. A psicanálise, por exemplo, permite acessar e ressignificar esses afetos que foram mal elaborados desde a infância. Já na bipolaridade, o foco está também no controle farmacológico das fases e na psicoeducação”, explica Taty.

Ela alerta ainda para os riscos da autodiagnose, cada vez mais comum com a popularização de conteúdos sobre saúde mental nas redes sociais. “É positivo que as pessoas falem mais sobre esses temas, mas é perigoso quando se usam rótulos para justificar comportamentos sem o devido cuidado clínico. O autoconhecimento precisa vir acompanhado de orientação adequada”, conclui.

*Informações Assessoria de Imprensa

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