Nova NR-1 é prorrogada para 2026: cinco medidas para promover um trabalho saudável

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2025-05-19 | 16:36h
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(Foto: Freepik)

 A entrada em vigor da atualização da Norma Regulamentadora NR-1, que trata do gerenciamento dos riscos psicossociais, foi adiada para 26 de maio de 2026, conforme estabelece a Portaria nº 765/2025 do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de maio. Inicialmente prevista para começar em caráter educativo a partir de 26 de maio deste ano, a fiscalização agora será iniciada apenas em maio do ano que vem, já com a possibilidade de aplicação de multas.

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Para o médico-psicanalista, especialista em Ergonomia Mental e consultor de saúde mental corporativa, André Fusco, a prorrogação precisa ser entendida não como alívio, mas como oportunidade de transformação estrutural nas empresas.

“Estamos falando mais sobre ansiedade, depressão e até Burnout, mas seguimos tratando apenas os sintomas. A NR-1 propõe um avanço: reconhecer não só a pessoa adoecida, mas os ambientes adoecedores. É isso que ainda falta. Não se trata de punir ou buscar culpados. Estamos falando de uma mudança estrutural muito positiva”, afirma Fusco.

Para o especialista, a mudança revela um cenário em que a saúde mental ainda está em fase embrionária nas organizações.  “O adiamento anterior da aplicação das multas foi justificado pelo argumento de que as empresas ainda não estão preparadas. E, de fato, não estão. Mas a urgência não pode ser adiada. Se as empresas não estão prontas, precisamos nos perguntar: prontas para quê? Para preencher questionários ou para rever regras, metas, práticas de gestão e culturas que produzem sofrimento?”, provoca André Fusco.

De acordo com Fusco, o adiamento da norma não pode significar um atraso na compreensão da saúde mental como responsabilidade organizacional. “Muitas empresas já fazem ações interessantes de conscientização e oferecem benefícios corporativos. Mas continuam avaliando pessoas com base em metas individuais, estimulando competição e mantendo sistemas que geram sobrecarga.  O especialista destaca trecho do Guia de Gestão de Riscos Psicossociais publicado pelo próprio MTE, que diz: “Os fatores de risco psicossociais estão relacionados diretamente com a organização do trabalho” (p. 5). Para ele, essa afirmação deveria ser o ponto de partida das empresas: “O problema não está no trabalhador doente, mas no ambiente que o adoece.”

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O que a atualização da NR-1 representa para as empresas?

“A nova NR-1 faz com a saúde mental o que já vimos acontecer com a ergonomia física: deixar de adaptar o trabalhador ao ambiente e começar a transformar o ambiente para que ele não adoeça o trabalhador, como observar o posto de trabalho, a altura do monitor, a quantidade de toques ao digitar, o apoio para os cotovelos e entre outras condições”, explica Fusco. “No entanto, o desafio da saúde mental no ambiente de trabalho é ainda maior e exige uma análise qualitativa da raiz do problema. Para além de tratar o doente, é preciso identificar o que está adoecendo essas pessoas para evitar novas vítimas. Esse desafio é muito maior do que o do adoecimento osteomuscular”, complementa o especialista.

Ergonomia Mental: uma mudança estrutural

A mudança pede uma nova abordagem: a Ergonomia Mental, conceito focado na organização do trabalho que propõe repensar políticas, processos e práticas organizacionais para reduzir o adoecimento psíquico e aumentar o engajamento de forma sustentável. “Ergonomia é buscar o maior conforto para a melhor produtividade. No caso da Ergonomia Mental, trata-se de interferir nas regras do trabalho para que ele tenha sentido e gere saúde, e não apenas seja algo a ser tolerado”, explica André Fusco.

Nesse contexto, o Dr. Fusco propõe uma mudança de abordagem baseada na Ergonomia Mental e apresenta cinco caminhos para transformar a organização do trabalho em um ambiente verdadeiramente saudável:

  1.  Antes de medir, promova segurança psicológica

 Questionários de clima organizacional ou avaliações psicossociais são fundamentais, mas só funcionam quando os trabalhadores sentem que podem responder com sinceridade, sem medo de retaliações. Criar um ambiente seguro para a escuta é pré-requisito para qualquer diagnóstico eficaz. “Você pode aplicar um questionário validado e reconhecido no mercado, mas se as pessoas não se sentirem seguras, elas vão esconder o que realmente vivem, levando a resultados enviesados. A segurança psicológica é a base para que qualquer ação de saúde mental seja eficiente”, enfatiza Fusco.

  1.  Revise regras e processos que produzem sofrimento psíquico

Muitas vezes, o sofrimento mental no trabalho não é fruto de fragilidade individual, mas consequência direta de regras internas nocivas: metas inatingíveis, sistemas de punição, cultura de controle ou ausência de escuta ativa. Essas estruturas precisam ser revistas com um olhar crítico e comprometido com a saúde coletiva. “O sofrimento no trabalho é frequentemente gerado pelas próprias regras organizacionais, portanto, a mudança deve ser estrutural: revisar políticas, processos, planos de carreira, metas e práticas que promovem riscos psicossociais. A partir disso, dar autonomia para que os profissionais atuem nessas causas, não apenas nos sintomas”, explica.

  1.  Incentive a colaboração para reconstruir o sentido do trabalho

Ambientes competitivos ao extremo estimulam o isolamento, minam a confiança entre colegas e rompem vínculos que sustentam o sentimento de pertencimento. A colaboração, por outro lado, reconstrói o sentido de utilidade e promove a saúde mental por meio do reconhecimento mútuo. “A colaboração é o antídoto da lógica do ‘cada um por si’, “vencer na vida”, ou “se destacar”. Quando reconhecemos o valor do outro e construímos juntos, resgatamos o sentimento de utilidade, e é justamente isso que dá sentido ao trabalho. A competição pode gerar resultado no curto prazo, mas no longo prazo, adoece”, afirma o especialista.

  1.  Use a análise qualitativa para entender o que os números escondem

A Ergonomia Mental exige um olhar aprofundado para o trabalho real. Levantamentos quantitativos apontam tendências e mapas de calor, mas não revelam causas. “Se eu aplicar um questionário e aparecer um alto risco para sobrecarga, o que normalmente surgem são planos de ação que dizem o que a pessoa deve fazer para suportar essa sobrecarga, mas não se fala das causas organizacionais, como rankings de competição, falta de pessoal, medo de demissão e processos que levam a retrabalho, por exemplo. Esses são fatores que só podem ser identificados com uma análise qualitativa do contexto organizacional por meio do apoio de especialistas em saúde mental no trabalho para cocriação de soluções. Sem essa etapa, qualquer plano de ação será superficial”, diz Fusco.

  1.  Promova identidade profissional e propósito

O trabalho saudável é aquele que permite que o profissional se reconheça no que faz e que sinta que sua contribuição tem valor. “Quando alguém se vê como peça substituível, desconectada do resultado ou invisível dentro da organização, o trabalho se torna um fardo e apenas um meio de sobrevivência. Mas quando a pessoa sente que aquilo que faz é útil, belo pela forma única e engenhosa que produz e é reconhecido por essas características, ela se reconecta com sua identidade profissional. Isso é fonte de saúde mental, e é isso que precisamos promover para um trabalho saudável, sustentável e gratificante”, acrescenta o especialista.

“O adiamento da NR-1 precisa ser mais do que uma prorrogação no papel — tem que ser um marco de mudança na mentalidade corporativa. Caso contrário, continuaremos aplicando questionários em ambientes inseguros, pedindo empatia a gestores sem ferramentas e cobrando resiliência de trabalhadores em estruturas adoecedoras”, ressalta André Fusco. “As empresas que souberem aplicar os princípios da Ergonomia Mental, por outro lado, terão equipes mais engajadas, saudáveis e produtivas, com menos rotatividade, processos trabalhistas e sinistralidade nos planos de saúde”, complementa.

Para o especialista, a NR-1 representa  um convite e uma responsabilidade  para que as empresas assumam o papel de protagonistas na promoção da saúde mental no trabalho. “Mais do que cumprir normas, é hora de reimaginar o trabalho como um espaço de desenvolvimento humano e coletivo”, finaliza.

*Informações Assessoria de Imprensa

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