O impacto da saúde intestinal no bem-estar mental é o tema do livro “Eixo Intestino-Cérebro: teorias e aplicações clínicas”, coordenado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Califórnia (UCLA), e lançado recentemente pela Editora Manole. Voltada principalmente para profissionais da saúde, a obra reúne, de forma inédita no Brasil, as evidências científicas sobre a relação bidirecional entre o sistema nervoso central e o intestino, destacando como essa conexão influencia transtornos como ansiedade e depressão, além de explorar abordagens diagnósticas e terapêuticas.
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Com mais de 600 páginas, o livro é resultado da colaboração de diversos especialistas, incluindo nutricionistas e médicos. Sua organização esteve a cargo do psiquiatra Marcus Vinícius Zanetti, do Ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade do Hospital das Clínicas (HC) da USP, da professora Carla Taddei, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP; e do gastroenterologista e neurocientista Emeran Anton Mayer, professor da David Geffen School of Medicine da UCLA (EUA). Mayer, pioneiro nos estudos sobre o eixo intestino-cérebro, descreveu esse conceito no início dos anos 2000. Ele desempenhou um papel essencial na organização dos capítulos, na revisão dos conteúdos e na definição dos temas mais relevantes para o livro.
“O eixo intestino-cérebro é uma via de mão dupla: o que acontece no intestino reflete no sistema nervoso central, e vice-versa”, explica Carla Taddei, que também contribuiu como autora de cinco capítulos do livro. Ela destaca que a obra foi projetada para apresentar evidências robustas, desmistificando conceitos errôneos e oferecendo informações claras e confiáveis para profissionais da saúde e outros leitores interessados.
“A relação entre esses órgãos, chamada de eixo intestino-cérebro, é uma área de estudo relativamente recente na ciência. Começou a ser investigada há cerca de 20 anos, e muitas das evidências ainda são pouco conhecidas entre os profissionais da saúde”, conta Taddei.
A microbiota intestinal, composta por trilhões de microrganismos como bactérias, vírus e fungos, é essencial para diversas funções do organismo, como a digestão de nutrientes, a síntese de vitaminas e a defesa imunológica. Ela também é responsável pela produção de metabólitos como os ácidos graxos de cadeia curta, incluindo o butirato, que atua como modulador neuroprotetor e anti-inflamatório. O butirato atravessa a barreira hematoencefálica e influencia a produção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e adrenalina, impactando diretamente a saúde mental.
Quando a microbiota está desregulada, a produção de substâncias benéficas é comprometida, enquanto metabólitos prejudiciais são gerados. Essas alterações podem desestabilizar a produção de neurotransmissores no sistema nervoso central, causando sintomas como cansaço, irritabilidade e, em alguns casos, transtornos como ansiedade e depressão. “Nem todos que apresentam desregulação intestinal desenvolverão transtornos de saúde mental, mas, em alguns casos, a inflamação intestinal pode agravar ou desencadear sintomas de doenças mentais”, explica Taddei.
Essa interação é bidirecional: comportamentos associados a transtornos de saúde mental, como alterações no apetite, privação de sono e sedentarismo, também podem desregular a microbiota intestinal, levando a condições inflamatórias. Estudos recentes sugerem ligações entre a desregulação da microbiota e transtornos como TDAH, autismo, ansiedade e doenças neurodegenerativas, embora ainda se investigue se essas relações são causais ou apenas correlacionais.
Taddei enfatiza que transtornos do eixo intestino-cérebro nem sempre têm a microbiota como protagonista. Doenças como a doença celíaca, por exemplo, têm origem em reações alérgicas ao glúten que desencadeiam inflamações intestinais, que podem afetar indiretamente o sistema nervoso central, sem necessariamente envolver a microbiota. O mesmo ocorre com a obesidade, cujos mecanismos de associação com a microbiota ainda são objeto de estudo. “Ainda estamos tentando entender se a obesidade desregula a microbiota ou se é a microbiota desregulada que contribui para a obesidade”, complementa.
A professora também alerta sobre os riscos de informações equivocadas disseminadas em redes sociais. “Embora os probióticos possam ajudar alguns pacientes, para outros, eles podem agravar os sintomas. É essencial buscar acompanhamento profissional para uma avaliação individualizada e baseada em evidências”, enfatiza Taddei.
O livro é dividido em sete sessões, que abrangem três partes principais. A primeira foca na microbiota intestinal, detalhando suas interações com o organismo humano e abordando as metodologias de estudo. A segunda parte é dedicada ao sistema nervoso central, explorando a modulação da neurotransmissão, além do impacto da alimentação e da atividade física no metabolismo e funcionamento do cérebro. Por fim, a terceira parte analisa abordagens terapêuticas e diagnósticas, discutindo tratamentos como probióticos, prebióticos, dietas e suplementos, bem como técnicas laboratoriais para identificar alterações no eixo intestino-cérebro.
“Eixo Intestino-Cérebro: teorias e aplicações clínicas” já está disponível, em formato físico e digital, no site da no site da Manole Editora e na Amazon.
*Informações Assessoria de Imprensa
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