Distúrbios do sono são muito comuns na gravidez e, dentre eles, a insônia é um dos mais frequentes, acometendo cerca de 78% das gestantes. Segundo um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, a insônia pode estar relacionada a alterações hormonais, fisiológicas, metabólicas, psicológicas e posturais. O estudo apontou que mulheres que dormiam menos de 6 horas por noite eram mais propensas a ter trabalho de parto mais prolongado e 4,5 vezes mais chances de ter uma cesariana.
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As mudanças nos padrões de sono começam durante o primeiro trimestre da gravidez, provavelmente influenciadas pelas rápidas alterações hormonais, segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO, especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
“Neste período, a gestante costuma ter hipersonolência, principalmente pelo aumento da progesterona, hormônio que também pode causar diminuição do tônus-muscular, aumento do risco de apneia do sono, ronco e interrupções do sono”.
De acordo com Carlos Moraes, no final do segundo trimestre (23-24 semanas de gestação), o tempo total de sono noturno diminui. “Mais de 98% das mulheres começa a ter insônia no terceiro trimestre, relatando despertares noturnos causados por desconforto geral, dor nas costas, frequência urinária aumentada, movimentos fetais, falta de ar e câimbras nas pernas”, conta o ginecologista.
Segundo ele, pacientes com insônia têm citocinas pró-inflamatórias altas, que também são observadas em depressão pós-parto, parto prematuro e outras complicações da gravidez. “Os médicos devem tratar os distúrbios do sono imediatamente, pois eles aumentam o risco de complicações, como depressão no final do terceiro trimestre ou após o nascimento da criança”.
“O diagnóstico de insônia na gravidez deve ser feito em conjunto com uma equipe multidisciplinar, levantando questões como distúrbios de ansiedade, transtornos do humor, distúrbios do sono relacionados à respiração e síndrome das pernas inquietas. É importante que o médico indague sobre dificuldades no início do sono, manutenção ou despertar, e entenda os fatores ambientais e comportamentais. A obtenção de um histórico médico completo, incluindo quadros de risco, é essencial para diagnóstico e tratamento”, ressalta Carlos Moraes.
As terapias comportamentais também podem ajudar. “Técnicas como relaxamento muscular progressivo (PMR), que inclui contração e relaxamento alternados de diferentes músculos, podem ser usadas antes de cada período de sono, assim como a respiração profunda abdominal”, afirma Monica Machado, psicóloga pela USP, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Já a terapia cognitiva é direcionada à ansiedade, ao pensamento negativo relacionado ao não dormir e às expectativas sobre a duração do sono. De acordo com a psicóloga, algumas gestantes têm ideias pré-determinadas sobre a quantidade de sono necessária para funcionar bem. Isso costuma ser tratado a partir de pesquisa e do histórico de duração do sono das pacientes.
“A ansiedade é muito comum durante a gestação. São muitas preocupações com o trabalho de parto, com a chegada do bebê e com a nova vida. Essas expectativas podem mantê-la acordada à noite e só trazem prejuízo à saúde. Em vez de remoer pensamentos, tente anotar todas as suas preocupações no papel. Isso lhe dará a chance de considerar possíveis soluções”, conclui Monica Machado.
Alguns auxiliares do sono são frequentemente considerados seguros para uso ocasional durante a gravidez. No entanto, segundo o ginecologista, não se deve tomar nenhum remédio para dormir ou outro medicamento durante a gravidez, a menos que tenha sido prescrito ou aprovado pelo médico.
Alguns chás, como o de camomila, valeriana e de erva-cidreira são excelentes para combater a insônia e dormir melhor, pois possuem propriedades calmantes que ajudam a relaxar o corpo e a mente.
“Intervenções para tratar os distúrbios do sono são essenciais para evitar resultados adversos ao longo da gravidez, durante o parto e após o nascimento da criança. Daí a importância de tratar o problema antes que os sintomas afetem de forma negativa todos os aspectos de sua vida, principalmente o vínculo mãe-bebê”, finaliza Carlos Moraes.
*Informações Assessoria de Imprensa