Um portador de dor crônica, embora desenvolva mecanismos para lidar com seu sofrimento (diário e constante), com o intuito de se manter produtivo, nunca consegue se desligar totalmente da agonia que sente, pela própria natureza de sua condição. Ainda mais, explica a médica intervencionista em dor e autora do livro “Existe vida além da dor” dra. Amelie Falconi, porque esse sofrimento nunca vem sozinho. Com ele arrasta uma série de limitações que impedem seu portador de levar uma vida plenamente satisfatória. Não à toa, a maioria dos pacientes atendidos pela médica durante anos de prática clínica reclamam inicialmente de desejos, sonhos e momentos que foram roubados pela dor, em vez da própria dor.
Leia também – Máscara de dormir melhora a qualidade do sono?
A dor interfere em diversos aspectos da vida, mas dois deles, segundo dra. Amelie, merecem maior destaque, por terem como característica não serem apenas influenciados pela dor, como também serem fatores que causam impacto nela, agravando-a, quando negligenciados. Estes aspectos são: o sono e a saúde mental. “Juntos, a dor crônica, o sono e a saúde mental formam um sistema de retroalimentação, no qual a presença da dor impacta negativamente o sono e a saúde mental, aumentando a intensidade de problemas relativos a estes dois fatores, que respondem da mesma maneira e aumentam a intensidade da dor”, explica.
Que a dor pode interferir no sono, parece óbvio, tanto que existe um termo cunhado por portadores de dor crônica para descrever essa condição: painsônia, (uma junção de dor, em inglês, com insônia) que diz respeito à incapacidade de adormecer devido a dores prolongadas e intensas. Contudo, de acordo com a médica intervencionista em dor, estudos epidemiológicos mostraram que a má qualidade e a duração insuficiente do sono são fatores de risco para o desenvolvimento de dor crônica. “Existem ainda evidências de que um sono curto e perturbado pode causar amplificação da dor (hiperalgesia) e desenvolvimento de sintomas espontâneos de dor, como dores musculares ou dores de cabeça”, diz.
A relação bidirecional entre dor crônica e a saúde mental também é facilmente comprovada empiricamente. Segundo dra. Amelie, é muito difícil alguém sofrer tantos anos com dor sem apresentar algum impacto na saúde mental, ao mesmo tempo que, em seus anos atendendo pacientes com esse tipo de condição, não raramente ouviu de seus acompanhantes, que a dor costumava piorar quando eles ficavam nervosos. Uma das explicações para essa associação pode residir no fato que a dor crônica e a saúde mental compartilham as mesmas áreas anatômicas e mecanismos neurais no sistema nervoso, conforme mostram estudos científicos. “Como as duas funções compartilham áreas semelhantes, elas acabam interferindo no funcionamento da outra”, explica a médica.
Dessa forma, levando em consideração a relação intrínseca entre sono, saúde mental e dor crônica, não há como tratar essa sem zelar pela boa qualidade daquelas. E para isso, segundo a médica intervencionista em dor, não basta tomar medicamentos visando dormir melhor ou combater distúrbio emocionais, como a depressão ou a ansiedade. “Os remédios possuem um papel importante, mas a abordagem dessas situações vai muito além de um comprimido ou vários”, pondera. Para tratar de maneira eficiente a insônia e distúrbios psiquiátricos, é necessário também, conforme dra. Amelie, combater as raízes destes problemas associadas ao estilo de vida. Isto porque, um sono de baixa qualidade e distúrbios psiquiátricos muitas vezes refletem uma saúde ruim, que por sua vez está relacionada diretamente a um estilo de vida ruim. Inversamente, uma boa saúde está ligada a um estilo de vida saudável.
A médica intervencionista compara o tratamento da dor crônica em um paciente com saúde de boa qualidade ao plantio de sementes em um solo bem-preparado: com nutrientes, irrigado, sem ervas daninhas e com iluminação adequada. “É óbvio que a colheita tem mais chances de dar certo em um solo assim do que em um terreno descuidado, abandonado”, diz. Do mesmo modo, segundo a médica intervencionista em dor, as chances de uma pessoa com um estilo de vida saudável colher resultados melhores em um tratamento para dor crônica são maiores do que de uma pessoa com estilo de vida ruim.
Então, conforme dra. Amelie, como parte do planejamento estratégico em busca do alívio das dores, é imprescindível que sejam realizadas alterações no estilo de vida. “Assim, o portador de dor crônica zela por seu sono e por sua saúde mental e consequentemente trata suas dores”, diz. Além disso, ao adotar um estio de vida mais saudável o paciente ganha um outro prêmio: aumento com qualidade na sua expectativa de vida. A médica intervencionista em dor ressalta que o fato de as pessoas estarem vivendo mais atualmente não significa que estão vivendo melhor. “O aumento da expectativa de vida tem gerado uma maior incidência de doenças crônicas que provocam limitações na vida. Ao realizar mudanças no estilo de vida agora, é possível prevenir e tratar estas doenças crônicas”, conclui.
*Informações Assessoria de Imprensa
Acompanhe as notícias de Saúde & Bem Estar clicando aqui