Brasil pode ter 119 milhões de adultos com excesso de peso até 2030

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(Foto: Freepik)

A obesidade se tornou uma doença cujo avanço é cada vez mais preocupante. Segundo dados recentes do Atlas Mundial da Obesidade, estima-se que, até 2030, 68% dos brasileiros adultos tenham um IMC (Índice de Massa Corporal) elevado – considerado alto quando está acima de 25 kg/m2, o que indica sobrepeso. Quando ultrapassa 30 kg/m2, passa a configurar obesidade. A projeção indica que 119,1 milhões de brasileiros poderão estar acima do peso ou obesos, um cenário alarmante diante das 60,9 mil mortes prematuras registradas em 2021 devido a doenças relacionadas ao excesso de peso.

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Conter esse avanço vai muito além de simplesmente recomendar ao paciente que ele coma menos e se exercite, conforme explica a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora clínica da Atma Soma. “É preciso investir em políticas públicas eficazes para combater a obesidade, como a taxação de bebidas açucaradas — incluindo refrigerantes e sucos industrializados —, além de medidas que incentivem um estilo de vida mais ativo, como a construção de ciclovias e a melhoria da segurança para que as pessoas possam caminhar sem receio. Essas são iniciativas que realmente funcionam, mas, infelizmente, o Brasil ainda carece de ações maduras nesse sentido”, afirma a especialista.

O alto consumo de açúcar na dieta da população é um dos fatores que impulsionam a obesidade. Para se ter uma ideia, um litro de iogurte Activia, de sabor morango com kiwi, tem uma quantidade equivalente a nove torrões de açúcar, segundo o site sinAzucar.org. Uma casquinha de sorvete tem a mesma quantidade. Já uma lata de Coca-Cola contém 37 gramas de açúcar, o que equivale a sete colheres de sopa.

De acordo com Alessandra, conscientizar a população sobre os riscos associados ao consumo de bebidas açucaradas é fundamental, já que elas são um gatilho importante para a obesidade. “Com sua ingestão constante, o paciente vai ganhando peso de forma gradual e muitas vezes sem perceber. Além disso, esses líquidos contribuem para o aumento da resistência insulínica, o que dificulta ainda mais o processo de emagrecimento”, explica.

Estigma e infância

Além da necessidade de políticas públicas, a endocrinologista ressalta a importância de mudar a visão de que o paciente é o único responsável por estar obeso. “Muitas vezes, as causas vão além dos hábitos de vida. É preciso educar os médicos para que tenham um olhar mais amplo sobre o tema. Além disso, quantos pacientes portadores de obesidade vão a uma consulta e não são abordados a respeito do assunto?”, questiona.

Atuar na infância também é uma estratégia eficiente, pois a evolução da doença nas crianças ocorre a passos largos. Segundo dados do Atlas da Obesidade Infantil, três a cada dez crianças entre 5 e 9 anos no Brasil estão acima do peso. “É importante agir desde cedo, pois a probabilidade de uma criança ou adolescente com obesidade carregar a doença para a vida adulta é grande. Nas escolas brasileiras, o acesso a produtos ultraprocessados e ricos em açúcar é alto, enquanto em países como o Japão, por exemplo, a merenda escolar é composta por alimentos saudáveis”, enfatiza Alessandra.

A influência da economia na alimentação

As condições macroeconômicas do país também influenciam diretamente na alimentação, principalmente devido ao histórico constante de inflação elevada, que impacta os preços dos alimentos. “O preço de alimentos protéicos, como carne e ovo, está alto, o que dificulta a presença na mesa das famílias com menor poder de compra. Nessa hora, para garantir a saciedade, comidas como macarrão, arroz e bolachas acabam sendo consumidas em maior quantidade, reduzindo a presença de proteínas. Isso também dificulta a manutenção do peso”, explica a endocrinologista.

A diretora clínica da Atma Soma destaca ser essencial traçar um caminho para que as pessoas tenham acesso a uma alimentação saudável com menos custo. “Com políticas públicas efetivas e maior acesso a medicamentos eficazes, podemos dar uma desacelerada na obesidade”, aponta.

Nos Estados Unidos, pela primeira vez em uma década, um estudo publicado no JAMA Health Forum aponta uma redução no avanço da obesidade, possivelmente pela implementação de uma política pública focada na medicação. “Por aqui, o sistema público de saúde ainda enfrenta um alto índice de precariedade, enquanto a saúde suplementar vem impondo diversas restrições”, afirma a especialista.

O cuidado com a obesidade é um caminho sem volta e, para a endocrinologista, deve ser tratado como uma prioridade. “É algo que nunca vamos poder deixar de olhar com atenção. Essa doença já se tornou pandêmica”, conclui.

*Informações Assessoria de Imprensa

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