O cuidado de alguém em situação de vulnerabilidade, seja ela física, social, psicológica ou espiritual, requer atenção a todos esses aspectos constituintes de sua integralidade.
Olhar para um indivíduo que tem, em particular, sua saúde e bem-estar impactados por alguma razão requer também um olhar para todas essas dimensões, primando para que sua dignidade seja exercida em todos os âmbitos, visto se tratar de um direito universal de todo ser humano.
Ao pensarmos na impossibilidade da realização de um cuidado humanizado sem que haja uma efetiva comunicação entre a pessoa cuidada e a pessoa que cuida e o reconhecimento de que nessa relação existe um diálogo intersubjetivo, algumas considerações a respeito são importantes.
Uma delas é que para isso é preciso que profissionais de saúde envolvidos, desenvolvam e se apropriem de certas habilidades de comunicação, imprescindíveis para o estabelecimento de uma relação de cuidado e de confiança.
A comunicação interpessoal em saúde é entendida como um processo complexo que envolve a percepção, a compreensão e a transmissão de mensagens na interação entre profissionais da saúde e pacientes (ARAUJO, SILVA, 2012).
A comunicação é parte do cuidado em saúde. Ela se relaciona com as decisões tomadas e também com a saúde e qualidade de vida das pessoas envolvidas, especialmente em situações delicadas como por exemplo aquelas referente ao fim de vida (FORTE, 2009).
Comunicar-se efetivamente não diz respeito simplesmente a um dom natural. É cada vez mais entendida como uma habilidade específica que pode ser estudada e melhorada. E cada vez mais se reconhece a sua importância na assistência à saúde (FORTE, 2009).
Torralba (2009) esclarece que não há cuidado sem comunicação, mas nem toda comunicação se identifica com o cuidar, pois o cuidar é um modo de comunicação no qual o verbal e o não-verbal se encontram intrinsecamente ligados.
O processo de cuidar não é um simples ato pois aquele que se propõe a cuidar deve ser receptivo às narrativas da pessoa doente visto que o ato de narrar o que se vive e o que se sente é por si só terapêutico (TORRALBA, 2009).
Quando podemos falar da nossa história, damos sentido à nossa existência, e quando temos um/a interlocutor/a que interage com nossas narrativas esse sentido fica ainda mais intenso e verdadeiro.
Por isso é importante que o/a cuidador/a, seja ele/a de qual especialidade for, propicie à pessoa que recebe cuidados um espaço para a expressão de seus anseios e necessidades, seja de forma verbal ou não-verbal. Como bem coloca Torralba (2009) conhecer a história da pessoa enferma é fundamental para poder atendê-la adequadamente.
Comumente observamos relações de cuidado estabelecidas ainda sob a vigência do modelo biomédico, onde a relação médico-paciente-família é assimétrica tendo como protagonista a figura do profissional, ficando em segunda instância a participação da parte interessada: o doente. Embora existam já movimentos de transformações nesse cenário que culminam para maior participação e centralidade na pessoa enferma e suas necessidades, ainda é um campo a ser constantemente estimulado e provocado a pensar novas possibilidades na forma do cuidar.
O relacionamento entre profissional da saúde, paciente e família, baseado na comunicação efetiva, visa desenvolver uma relação interpessoal complementando suas habilidades técnicas para atingir o objetivo de oferecer um cuidado integral a esse paciente e sua família.
E por essa razão as habilidades de comunicação são consideradas fundamentais e são alicerce para um cuidado colaborativo centrado no paciente e sua família.
Referências
ARAÚJO, M.T., SILVA, M.J.P., Estratégias de comunicação utilizadas por profissionais de saúde na atenção à pacientes sob cuidados Paliativos. Revista da Escola de Enfermagem da USP, vol. 46, núm.3. São Paulo, 2012.
FORTE, D.N., Estratégias de comunicação em cuidados paliativos. In: Cuidados Paliativos – Discutindo a vida, a morte e o morrer. São Paulo, Atheneu, 2009.
ROSELLÓ, F.T., Antropologia do cuidar. Rio de Janeiro, Vozes, 2009.
*Jociane Casellas é psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná e atua há mais de 10 anos na área da saúde. Pós- graduada em Psicologia Clínica com ênfase na abordagem Sistêmica, pós-graduada em Psicologia Hospitalar especialista em Psico-Oncologia, com atuação em Cuidados Paliativos. Pós-graduanda em Psicologia Transpessoal e Mestranda em Bioética, além de colunista do portal Saúde Debate
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