Qual é a importância de parar de fumar?

Desejo para uns; objetivo para outros; algo impossível para tantos. Parar de fumar se tornou algo longe de ser alcançado por muitos brasileiros, mas trata-se de uma medida essencial. O tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o hábito de fumar está relacionado a oito milhões de mortes por ano – dessas, cerca de 1,2 milhão são de fumantes passivos. O Dia Nacional de Combate ao Fumo é lembrado em 29 de agosto. A data é importante para conscientizar sobre os riscos do tabagismo e relembrar a importância de parar de fumar para a saúde.

Somente no Brasil, o tabaco ocasiona 443 mortes por dia – cerca de 13% do total de óbitos no país (sem considerar a pandemia), de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). “O tabagismo é o maior problema de saúde pública do Brasil em tempos normais”, enfatiza o cirurgião oncológico do Grupo Hospitalar São Vicente, de Curitiba (PR), Marciano Anghinoni.

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Como reconhecer a importância de parar de fumar minimiza os riscos à saúde

O fumo está relacionado a uma série de outras doenças. “É um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares e pulmonares e também para todos os tipos de cânceres de regiões próximas à boca – traqueia, laringe, faringe, esôfago, além do câncer de pulmão, de pâncreas, do intestino e tantos outros”, lembra Anghinoni. “Os fumantes adoecem com uma frequência duas vezes maior do que os não fumantes e têm menor resistência física, menos fôlego e um pior desempenho nos esportes e na vida sexual, além de envelhecerem mais rapidamente”, completa o médico pneumologista Ricardo Siufi, do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP).

O sistema vascular é afetado diretamente pelo tabagismo. Cada vez que uma pessoa fuma, agride diretamente o endotélio, que é a parede que reveste os vasos sanguíneos, e no lugar onde ocorre essa agressão passa a ter uma aderência de gordura (colesterol), que se acumula lentamente e pode obstruir a passagem do sangue e causar a falta de circulação em determinada região. 

Uma das consequências deste quadro é o Acidente Vascular Cerebral (AVC). O mesmo pode acontecer em outras partes do corpo, com alguma artéria do intestino, com o risco de uma isquemia mesentérica (falta de sangue). Pode afetar diretamente o coração, com a possibilidade de um infarto. Sem falar da claudicação intermitente (dor ao caminhar) que, no futuro, pode levar à perda de um membro inferior. 

O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), Bruno Naves, esclarece que, diante de todo mal que o tabaco provoca para a circulação, a importância de parar de fumar se torna ainda mais relevante. Isso deve acontecer o quanto antes, juntamente com o controle adequado do colesterol e da prática regular de atividades físicas. “Quanto mais bem informada a pessoa for sobre as doenças, para poder preveni-las, principalmente saber quais atitudes tomar para não ter problemas vasculares, maior será a chance dela proteger a saúde”, reforça.

Cessar o consumo de cigarro traz inúmeros benefícios, segundo Siufi. Tais vantagens podem ser observadas logo na primeira hora. “Com 20 minutos, é possível observar melhora na pressão sanguínea. Em duas horas, há uma baixa acentuada nos níveis de nicotina no sangue. Entre 12 e 24 horas, os pulmões já funcionam melhor. Após um ano, o risco de morte por infarto é reduzido à metade e, finalmente, após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram”, classifica.

O primeiro passo para parar de fumar é reconhecer os danos que o hábito causa à saúde e, na sequência, procurar por um pneumologista para uma avaliação adequada e início a tratamentos adequados. “Os cuidados envolvem desde um exame clínico completo, solicitação de exames e avaliação do grau de dependência nicotínica para que, assim, em decisão compartilhada, seja proposta a melhor terapêutica para a cessação”, conclui Siufi.

Anghinoni lembra que há vários programas de saúde pública para ajudar a pessoa a mudar de hábito. O Governo Federal disponibiliza o número de telefone 136, que apresenta dicas e informações para ajudar a deixar o tabagismo. Nos municípios, as unidades básicas de saúde também mantêm programas para auxiliar a população.

(Foto: Wirestock / Freepik)

A importância de parar de fumar na pandemia

Para tentar conscientizar sobre os malefícios do tabagismo e a necessidade de mudança de hábito, a Organização Mundial da Saúde (OMS) listou “100 razões para deixar de fumar”. E, em um momento como o da pandemia de Covid-19, o alerta só aumenta. Os fumantes têm maior risco de desenvolver quadro grave de Covid-19. “O motivo principal é porque o sistema respiratório do tabagista é mais frágil e, ao ser infectado, pode ter a saúde mais debilitada e não resistir ao vírus”, explica Anghinoni.

Ao mesmo tempo que muitos brasileiros viram a importância de parar de fumar em função do fator de risco para a pandemia, outros tantos encontraram um escape no cigarro. Dados do IPC Maps, banco de dados que mede o índice potencial de consumo em todo país, mostra que o consumo do tabaco aumentou 16% em 2021, quando comparado ao ano passado.Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), já havia monitorado este aumento ainda em 2020, em um período de maior isolamento social. Na ocasião, mais de 30% dos homens e 38% das mulheres fumantes passaram a consumir, ao menos, 10 cigarros a mais por dia em média.

Para o médico pneumologista Ricardo Siufi, o aumento do tabagismo durante a pandemia é multifatorial. “Provavelmente, o maior gatilho está na questão emocional, como coexistência de transtorno de ansiedade e depressão em pacientes tabagistas. Não podemos negar, porém, que novos hábitos desenvolvidos ao longo da pandemia, como o trabalho em home office, por exemplo, exercem uma influência importante, visto que diversos regimes de trabalho presenciais não permitem o tabagismo”, afirma.

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Mudança não envolve apenas o cigarro

A importância de parar de fumar não pode ficar concentrada apenas no cigarro. Este não é o único vilão. Bruno Naves, presidente da SBACV, destaca que qualquer tipo de tabaco é prejudicial à saúde, mesmo o cigarro eletrônico ou o narguilé, e esses danos são irreversíveis. 

O mesmo alerta é feito pelo o cirurgião oncológico Marciano Anghinoni. Ele lembra que tabagismo não se restringe ao cigarro, mas também ao charuto, ao cachimbo e ao narguilé, cuja utilização nos últimos anos cresceu muito entre os jovens. “Uma sessão de narguilé de uma hora equivale a fumar cem cigarros”, revela. “Por isso, é preciso criar uma forma de conscientizar sobre os riscos do tabagismo. É preciso parar já”, alerta.

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p class=”ql-align-center”>Cigarro eletrônico (Foto: Pixabay)

Segundo o Ibope Inteligência, o número de pessoas que usam cigarro eletrônico no Brasil, em apenas um ano, dobrou, saltando de 0,3% da população para 0,6%. São cerca de 600 mil usuários brasileiros da tecnologia que, dizem os especialistas, é capaz de causar tanto dano físico e psicológico quanto o cigarro tradicional.

“Como não há regulação em relação ao cigarro eletrônico no país, não sabemos o que as pessoas estão aspirando. Outro importante ponto é que esse tipo de vício tem atraído principalmente os adolescentes, pelo formato, pela novidade e pela falta de informação também sobre o impacto nocivo deles. Os produtores investem em um design moderno, com cara de aparelho eletrônico, para atrair essa geração que, até então, já tinha quase que abandonado o cigarro”, explica Clarissa Mathias, médica oncologista do Grupo Oncoclínicas.

De acordo com ela, ainda não é possível saber quais serão as consequências do consumo desse tipo de cigarro a médio e longo prazos. “Teremos que esperar talvez 20 anos para medir isso, o que pode ter consequências para toda uma geração, já muito afetada por um evento de grande proporção, que foi a pandemia, que deixou muita gente mais ansiosa e mais angustiada e que pode buscar esse hábito como válvula de escape”, ressalta Clarissa.

* Com informações das assessorias de imprensa

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