Perspectiva de gênero e o acesso à justiça

A discriminação de gênero e o preconceito contra mulheres gera a elas uma dificuldade imensa de acesso à justiça. Mulheres sofrem todos os dias os mais variados tipos de violência e ao procurar auxílio onde deveriam ser atendidas e apoiadas são, ao contrário, silenciadas pela pressão social que é presente e tem como objetivo principal fazer com que mulheres continuem onde estão, sem voz e sem reação.

Nas salas de audiência, diante de juízes e juízas, advogados e advogadas despreparados em relação a perspectiva de gênero e tudo que a envolve e apoiados pela ordem estabelecida socialmente e culturalmente com seus contornos machistas, todo e qualquer tipo de comportamento reativo e de tentativa de reverter contextos de violência são taxados de loucura, histeria e descontrole por parte de mulheres. Todo o seu comportamento é avaliado na perspectiva do machismo, como se sua reação fosse sem motivo justo.

Na verdade, a reação da mulher à violência que sofre, ao preconceito e falta de apoio constantes é alguma coisa que ofende e ameaça essa ordem estabelecida, ou seja, estremece, coloca em xeque comportamentos e costumes sociais que são confortáveis para muita gente.

Quem acha que está tudo bem tem um ganho com isso.

E é nesse contexto de tentativa de manter essa “ordem” que mulheres são silenciadas, que têm sua palavra colocada em dúvida, retirada toda a credibilidade de seu discurso, distorcidos os fatos que estão aí para todo mundo ver.

Mulheres são vítimas desse silenciamento dentro das instituições que deveriam lhes defender contra, por exemplo, pais ausentes que se preocupam em primeiro lugar com o quanto gastam com seus filhos, alegam que são manipuladoras, que limitam sua convivência com esses filhos.

Enfim, mulheres são desqualificadas e vulnerabilizadas quando mais precisam de acolhimento e por quem e onde deveriam ser apoiadas.

É nesse contexto que entra a perspectiva de gênero como uma solução, como o caminho, ou seja, trazer para o cotidiano das atividades administrativas e judiciais a realidade da função social de homens e mulheres, considerá-los no exercício dos papéis que lhes foram conferidos social e culturalmente, papéis estes construídos ao longo do tempo e passados de geração para geração. Considerar, portanto, como funcionam as mulheres, quais são as condições em que vivem, como se expressam e reagem.

É urgente não desprezar a condição de mulheres, muitas vezes, de submissão, de medo, mergulhadas num “dever ser” equivocado, assim como homens que, também, ocupam lugares de superioridade e os exercem autoritariamente porque “aprenderam” a ser assim, estimulados pelo meio em que cresceram e que vivem.

Enfim, que fique claro como funcionamos e o porquê seguimos assim, para que nossos direitos sejam vistos e enxergados, que sejam reconhecidos. E que consigamos passar às novas gerações que todos podem ser protagonistas de suas histórias, que ninguém, pelo gênero, pode se sobrepor ao outro, muito menos com violência.

 

Em caso de necessidade própria ou de outra mulher que esteja passando por qualquer tipo de violência, entre em contato com a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Este é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em todo o Brasil. As ligações para o número 180 podem ser feitas de qualquer aparelho telefônico, móvel (celular) ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, aos finais de semana e feriados inclusive.

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