Pacientes obesos com Covid-19 podem ter sequelas cerebrais, aponta estudo

A obesidade como fator de risco para Covid-19 já foi bastante destacada durante a pandemia. Pesquisas enfatizam essa relação e novos estudos mostram as possíveis sequelas. Um trabalho realizado no Brasil mostrou que pacientes obesos com Covid-19 podem ter sequelas cerebrais, em especial aqueles com quadros graves da doença, a partir de implicações na circulação cerebral e na complacência intracraniana.

O trabalho gerou um artigo, publicado na Obesity Science and Practice. O estudo, liderado pelo médico neurocirurgião Sérgio Brasil, da Universidade de São Paulo (USP), concluiu que o comprometimento da complacência intracraniana (que constitui o equilíbrio entre o volume do cérebro, componente sanguíneo, líquido cefalorraquidiano e a pressão intracraniana) foi mais observado entre indivíduos obesos e pode ter contribuído para a piora do prognóstico da Covid-19.

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Além disso, foi observado que a ventilação em prona – um dos procedimentos utilizados na UTI, em que o paciente é colocado de bruços – no caso dos pacientes obesos, piora a complacência cerebral.

A pesquisa – um estudo unicêntrico, observacional e prospectivo – foi realizada em seis unidades de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, de maio a junho de 2020. Foram avaliados 50 casos (23 pacientes obesos e 27 magros), todos acometidos por Covid-19 grave. O comprometimento da complacência intracraniana foi verificado em 78% dos pacientes obesos. Entre os pacientes magros, essa taxa foi menor, 48%. Também quanto aos resultados desfavoráveis, o grupo de obesos apresentou índice maior, 69%, enquanto entre os pacientes magros, 44%.

Pacientes obesos com Covid-19 podem ter sequelas cerebrais: motivos

O pesquisador informa que a associação entre obesidade e hipertensão intracraniana tem sido descrita na literatura científica. “De 90 a 95% dos pacientes com sintomas de hipertensão intracraniana idiopática apresentam obesidade”, afirma.  No entanto, segundo o pesquisador, a prevalência de hipertensão intracraniana na população geral não foi amplamente estudada até o momento, especialmente porque as técnicas para avaliar a pressão intracraniana exigiam a invasão do crânio para a introdução do cateter, o que não é eticamente recomendado.

 

A pesquisa também destaca que a elevação da pressão intracraniana pode reduzir a complacência intracraniana, impactando a perfusão cerebral e o metabolismo celular.  

Vários mecanismos que ligam a obesidade à hipertensão intracraniana crônica têm sido propostos, como distúrbios da circulação do líquido cefalorraquidiano; desregulação do eixo neuroendócrino metabólico; compressão dos órgãos torácicos e abdominais, prejudicando o retorno venoso cerebral; apneia do sono, levando a distúrbios hemodinâmicos cerebrais; e elevação da temperatura cerebral. 

Além dos determinantes genéticos e epigenéticos, esses fatores também podem desempenhar um papel no aumento do risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas na população obesa.

O estudo teve o auxílio da ferramenta brain4care, tecnologia de monitoramento não-invasivo de variações de volume/pressão intracraniana, desenvolvido pela healthtech brasileira de mesmo nome. O monitoramento é realizado por meio de um sensor que toca a cabeça do paciente com ajuda de uma cinta. Os dados são visualizados em tempo real pelo médico ou pesquisador em um dispositivo. como tablet ou celular com acesso à internet.

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