Os dados mais recentes do Ministério da Saúde informam que 63% dos óbitos por Covid-19 no Brasil estão relacionados às doenças associadas à obesidade, como o diabetes, hipertensão e cardiopatias.
A cardiopatia foi a principal comorbidade associada, seguida pelo diabetes. Em todos os grupos de risco, a maioria dos indivíduos tinha 60 anos ou mais, exceto para a obesidade.
Enquanto isso, no mês de abril foram realizadas apenas três cirurgias bariátricas e metabólicas – indicadas para o tratamento de pacientes com obesidade e doenças crônicas.
Uma pesquisa publicada pelo Journal of the American Medical Association (JAMA) aponta que a cirurgia metabólica é capaz de reduzir em 62% os índices de insuficiência cardíaca em pacientes submetidos ao procedimento.
Segundo o estudo, que avaliou 13.722 participantes em um acompanhamento de mais de três anos, a cirurgia metabólica apresentou bons resultados no controle do Diabetes Tipo 2 e também promoveu redução de 62% em índices de insuficiência cardíaca; 66% nos índices de doenças renais; 33% em índices de Acidente Vascular Cerebral (AVC); e 31% nas chances de infarto.
No Brasil, a cirurgia metabólica foi normatizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) através da Resolução Nº 2.172 em 2017 como alternativa cirúrgica para pacientes com Diabetes Tipo 2 há menos de 10 anos, entre 30 e 70 anos de idade, com obesidade leve – Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m² – e sem sucesso no tratamento clínico para o controle da doença.
É importante ressaltar que os pacientes com obesidade e doenças associadas devem buscar tratamento, já que são considerados grupo de risco para a Covid-19.
Quando os pacientes obesos são tratados, os riscos para muitas doenças são minimizados, entre eles, os riscos de infarto, derrame e câncer e, atualmente, também para o coronavírus.
Diante deste cenário, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a Recomendação Nº 1/2020 que dispõe sobre a continuidade dos serviços de cirurgia bariátrica e metabólica em hospitais da rede pública e privada.
A entidade entende que a paralisação dos serviços compromete a saúde de pacientes portadores de doenças graves e ou/crônicas como a obesidade e o diabetes e que a sua postergação pode resultar no aumento da morbidade e da mortalidade.
As cirurgias bariátrica e metabólicas devem ser feitas, preferencialmente, em instituições que tenham fluxo de atendimento independente do atendimento aos casos de Covid-19, com salas cirúrgicas isoladas e ambiente controlado.
Além disso, em relação à assistência ao paciente após a cirurgia, o Conselho sugere que as equipes disponibilizem assistência nutricional, clínica e psicológica remota – via telemedicina – para auxiliar no distanciamento social sem comprometer o acompanhamento.
Reforçamos a importância do acompanhamento nutricional, psicológico e físico dos pacientes que estão tratando a obesidade grave ou querem realizar o tratamento e que é possível sair do grupo de risco para a Covid-19 – neste momento de isolamento social.
* Alcides José Branco Filho é médico e cirurgião do aparelho digestivo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e atua no tratamento da obesidade
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