Os desafios do diagnóstico do alcoolismo

diagnóstico do alcoolismo
(Foto: karlyukav / Freepik)

Assim como acontece em diferentes doenças, o diagnóstico do alcoolismo deve ser precoce para que as chances de tratamento sejam maiores. Este é o principal desafio nesta demanda de saúde pública, de acordo com o médico psiquiatra Eduardo Frassato, especialista na área e integrante do Hospital Nova Vida, em Londrina (PR). A instituição tem foco no tratamento de dependentes químicos. 

De acordo com ele, no Brasil, ainda é comum minimizar esta condição e a propensão de determinadas pessoas ao alcoolismo, ainda mais sendo um país em que a maioria bebe cerveja e existem tolerâncias sociais para isso – até mesmo incentivo para o consumo da bebida alcóolica. “Apesar de sabemos que metade da população brasileira não ingere bebidas alcóolicas, o que é algo bastante importante, e que a grande maioria dos bebedores é de cerveja, minimizamos o diagnóstico precoce. Isto pode implicar em redução do consumo de bebidas alcoólicas até um tratamento mais incisivo, de realmente limitar o uso”, explica. 

Frassato lembra que a taxa de sucesso de um tratamento será maior se houver precocidade no diagnóstico do alcoolismo. Aqueles que estão na dependência há décadas têm uma chance menor de vencer o vício. “Precisamos realmente de uma intervenção precoce e da procura de um médico o mais rápido possível. O caminho mais comum hoje em dia, em especial nas cidades maiores, é por meio do Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que integra o Sistema Único de Saúde (SUS)”, comenta. A ajuda também está no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que ajuda no encaminhamento de necessidades das populações vulneráveis. 

O psiquiatra esclarece que, por meio do CAPS, é possível conseguir avaliação médica e iniciar um tratamento gratuitamente. O tipo de intervenção será indicado pelo especialista após o diagnóstico. “O médico pode optar por um tratamento medicamentoso ou, eventualmente, até uma internação em um hospital psiquiátrico ou geral, dependendo da situação”, indica. 

Nos municípios onde não há essas estruturas, o médico aconselha o direcionamento às unidades básicas de saúde. Os profissionais farão avaliação clínica e devem aproveitar a oportunidade para investigar outras comorbidades. 

Diagnóstico do alcoolismo x quem tem propensão

Eduardo Frassato lembra que não são todas as pessoas que ingerem bebidas alcoólicas que são dependentes de álcool. Nem mesmo aquelas com histórico familiar e predisposição genética se tornarão dependentes. O mesmo ocorre com aquelas pessoas que enfrentam fatores sociais e ambientais que podem favorecer o consumo de álcool. Não existem regras quando se fala de diagnóstico do alcoolismo. A certeza é encarar este problema como multifatorial e polidimensional.

De acordo com o médico psiquiatra, outros transtornos psiquiátricos podem estar associados à dependência. “Exemplo disto é a pessoa que começou a beber porque não conseguia dormir e tratar aquela insônia. As pessoas depressivas podem usar o álcool para se sentirem melhor. Aquelas com ansiedade social ingerem bebidas alcóolicas para ficar menos inibidas e conseguir interagir, mas isso se transforma em uma dependência”, esclarece. 

Tratamento

O tipo de tratamento vai depender do diagnóstico do alcoolismo feito por um especialista. Alguns desses tratamentos podem ser feitos de forma ambulatorial, o que facilita para o paciente e também não sobrecarrega o sistema. “Infelizmente, hoje, nosso grau de dependência é muito grande, tanto de álcool como de outras drogas. Se colocássemos todos os pacientes em hospitais, seriam necessários muitos leitos. Mas alguns tratamentos podem ser realizados de forma ambulatorial. Por isso, a importância de um diagnóstico bem feito”, destaca Frassato. 

Existem hospitais especializados, como no qual o médico trabalha, que são indicados para parte dos casos, assim como as comunidades terapêuticas. “Estas são boas alternativas, pois as pessoas ficam em lugares sem disponibilidade de bebidas. Isso facilita bastante para a pessoa se manter abstinente”, salienta. Essas estruturas, em especial os hospitais, contam com equipes multidisciplinares para um olhar completo, inclusive na investigação sobre o que levou o paciente ao alcoolismo. 

De acordo com Frassato, atualmente há uma rede articulada para que o paciente continue seu tratamento após a alta. No caso do hospital, por exemplo, as equipes fazem contato com o serviço social da cidade do paciente, que já é inserido no sistema de saúde para ajudar na manutenção da abstinência. 

Estes assuntos também serão abordados na XIII Jornada Paranaense de Psiquiatria, que será realizada entre 1º a 3 de setembro em Maringá (PR) e é promovida pela Associação Paranaense de Psiquiatria. Além disso, o Saúde Debate fará uma live com o médico Eduardo Frassato no dia 30 de agosto, às 10h, para ampliar o conhecimento sobre o tema.