Quais as tendências do marketing médico para 2021?

Confira artigo de Márcia Wirth

Devido à imensa transformação na Medicina, ocasionada pelo enfrentamento à pandemia, 2021 será um ano muito diferente para os médicos. O maior desafio global até o momento causou mudanças comportamentais, antecipando o futuro, como é o caso da telemedicina. E para planejar o próximo ano é preciso compreender que as mudanças em marcha não terminarão com a vacinação ou quando o vírus regredir.

Há tendências que vieram para ficar: maior atenção do paciente às normas de biossegurança; a telemedicina, juntamente com a prescrição eletrônica, o prontuário eletrônico, o check-up digital; a digitalização de parte do atendimento médico; a valorização da vigilância epidemiológica, da Medicina Integrativa e da alimentação saudável; a educação médica online; a neuroarquitetura e principalmente, um empoderamento sem precedentes do paciente, que conquistou, dentre muitas coisas, em 2020, uma grande oferta de serviços em sua própria residência (coleta laboratorial, exames de imagens, vacinação).

A busca pela personalização dos tratamentos deve ser intensificada pelas clínicas e consultórios que não quiserem ser deixados para trás. Além de se voltarem a nichos específicos, o fechamento de parcerias estratégicas e o investimento em procedimentos com valor agregado são algumas apostas inteligentes e efetivas para 2021.

Diante desse novo cenário, as estratégias de marketing médico precisam ser revistas. Não existirá sucesso trilhando velhos caminhos… O paciente aumentou exponencialmente o seu tempo de navegação. Então, planejar a presença digital é uma necessidade básica do médico hoje. Quem ainda não tem um planejamento neste sentido, está atrasado, e precisa se movimentar neste novo mundo pós-pandemia. 

A maior aposta de 2021

A maior mudança no marketing médico em 2021 é o branding, principalmente o personal branding, precedendo o marketing, pois a comunicação digital com o paciente agora é centrada em bases emocionais, pontos de conexão e identificação. Nesse cenário, o reforço da marca pessoal do médico, o personal branding é o caminho indicado para o profissional que deseja atuar onde não há “guerra de preços”.

É preciso tornar a qualidade das relações o grande diferencial das clínicas e consultórios, aumentando a taxa de satisfação dos pacientes, a conversão de novos pacientes e a qualidade do serviço oferecido. Nesse contexto, é preciso rever toda a jornada do paciente, desde o primeiro contato com a clínica e/ou consultório até o desfecho, seja em uma consulta, um exame ou procedimento. Esse cuidado que o paciente deve receber, do início ao fim, em contato com o ambiente de saúde, é fundamental para o sucesso e a sustentabilidade do negócio.

Mais do que nunca, a experiência do paciente é a máxima do dia, on e offline, visto que a jornada de compra do paciente não é mais linear e, agora, é quase totalmente online. Neste sentido, a principal mudança refere-se ao momento da compra do serviço médico, que é descrita, agora, pelo Google, como “meio confuso”.

Lives, stories e collabs

2021 será o ano do fortalecimento dos reais médicos influenciadores (a hora e a vez de pequenos influenciadores), que revelam seus bastidores, dúvidas, dores, “mundo real”. O reinado do ao vivo continuará em alta: lives e stories são elementos fundamentais na estratégias de marketing que serão fortalecidas pelas collabs, pelo cross marketing e por eventos intimistas e colaborativos, após a vacinação.

O novo ano será o do médico empreendedor, com uma equipe de intraempreendedores. Muitos médicos já começaram a entender a importância de assumir um papel empreendedor dentro e fora do consultório. Buscar um olhar para o negócio como um empreendimento exige habilidade e esforço. O intraempreendedor é o funcionário, que de uma maneira inovadora, traz benefícios financeiros, melhora o ambiente de trabalho ou aumenta a produtividade.

Amanhã será um novo dia? Sem dúvida!

“Toda empresa é uma empresa de saúde”, como bem definiu a consultoria Accenture em um artigo recente. As preocupações com saúde, aumentadas durante a crise, não diminuirão depois que tudo passar. Em vez disso, a saúde dominará. Uma economia de saúde surgirá com oportunidades a serem exploradas por todos. Todas as experiências, produtos e serviços serão reavaliados pelas pessoas de acordo com a extensão em que eles melhoram ou diminuem a saúde de quem os consome. Assim sendo, um consultório, uma clínica, um hospital realmente precisam ser empresas de saúde em 2021. Como? Entendendo as preocupações de pacientes e colaboradores, administrando-as e eliminando-as com responsabilidade. Todas as especialidades médicas precisam observar com atenção essa máxima.

 O isolamento deixou marcas na alma e na mente. Embora os sintomas respiratórios sejam a face mais conhecida da Covid-19, a depressão e a ansiedade já foram descritos como consequências preocupantes da pandemia. Em artigo publicado na revista Frontiers in Immunology, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) discutem como o novo coronavírus pode afetar a saúde mental, apontando alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção e ao distanciamento social, o que pode contribuir para distúrbios psicológicos. 

O estresse motivado pelo distanciamento social também pode levar a alterações imunológicas, com maior produção de substâncias inflamatórias mesmo em pessoas que não foram infectadas. Neste sentido, os pesquisadores chamam atenção para a maior vulnerabilidade de alguns grupos, como trabalhadores da saúde, idosos e obesos, que apresentam maior suscetibilidade tanto para quadros graves de Covid-19 quanto para distúrbios psiquiátricos. Endocrinologistas, imunologistas, psiquiatras e geriatras precisam estar muito atentos a esses aspectos em 2021.

Autocuidado, vida autêntica e reconexão. O isolamento social imposto devido à pandemia de Covid-19 obrigou as pessoas a reverem hábitos, atividades, rotina. E fez com que grande parte da população repensasse a qualidade de vida de forma definitiva. Se esse foi um período de cuidado para prevenção contra o contágio, também foi o momento de despertar para a importância do autocuidado, repensando a saúde física e mental. O C.Lab, laboratório interno de pesquisas da Nestlé, realizou um levantamento com 600 pessoas de todas as classes sociais e regiões do país, com homens e mulheres entre 25 e 55 anos. Veja alguns destaques da pesquisa:

  • 73% pretendem manter os hábitos saudáveis que adquiriram durante a pandemia, mesmo depois do fim do isolamento, com maior equilíbrio entre  trabalho, família, amigos e cuidados consigo mesmo;
  • 59% das pessoas passaram a fazer ou a valorizar mais atividades de autocuidado;
  • 53% concordam que têm se alimentado melhor durante a pandemia, sendo que 35% passaram a consumir mais suplementos ou alimentos fortificados com vitaminas e minerais.

 Observar essa tendência é fundamental para o planejamento de 2021 de dermatologistas, cirurgiões plásticos, nutrólogos, endocrinologistas, gastroenterologistas, imunologistas.

Alimentação saudável e envelhecimento

Alimentos orgânicos, alimentos minimamente processados, alimentos funcionais, alimentação vegana e vegetariana, superfoods (alimentos que, em pequenas porções, trazem alta densidade nutritiva, poucas calorias e grandes benefícios ao organismo) e nutricosméticos (chegou a vez de suplementos e nutracêuticos) ganharam a atenção do brasileiro durante a pandemia, segundo o relatório Brasil Food Trends. Alergologistas, nutrólogos, endocrinologistas, gastroenterologistas, cardiologistas, reumatologistas, ortopedistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos devem estar muito atentos às mudanças no prato dos pacientes.

Existe um grupo de pessoas impulsionando um estilo de vida menos relacionado à questão da idade: são os perennials. Esta é uma das principais conclusões de um estudo conduzido no mundo inteiro pela empresa britânica Ipsos Mori. Esses indivíduos atemporais têm um estilo de vida que abrange gostos e hábitos de diversas faixas etárias e, para lidar consigo mesmo, com os outros e com o ambiente, não se baseiam em aspectos geracionais – mas na forma como percebem a si mesmo. Ou seja, de acordo com sua identidade social. Os perennials não são exatamente uma geração, são mais um novo mindset sobre o envelhecimento. Geriatras, neurologistas, cirurgiões, reumatologistas e psiquiatras precisam estar muito atentos a este grupo.

Sua marca no mundo

Diante de tantas informações e mudanças de paradigmas, fazer marketing diretamente para as pessoas, como já fizemos, não funciona mais nem para o médico, nem para as empresas. Hoje, as pessoas fazem negócios com pessoas nas quais confiam e admiram. É por isso que o personal branding é essencial em 2021. A marca pessoal do médico será seu principal ativo, seu principal gerador de caixa, é com ela que o paciente quer se conectar.

* Márcia Wirth é jornalista, mentora,  idealizadora do #GoDigitalDoctor, especialista em Marketing Médico e Gestão de Mídias Digitais

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