No mês de julho, o Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), alcançou um feito na área de transplante de órgãos que é considerado raro mesmo para os “termos normais”. Em momento de pandemia e outras dificuldades, tem ainda mais destaque.
Em 24 horas, a Central de Transplantes do hospital realizou sete transplantes, sendo três fígados e quatro rins. Até então, o “recorde” da instituição havia sido seis órgãos num mesmo dia, “isso em tempos normais”, conforme relata o médico responsável pela central, João Nicoluzzi.
“Foram três fígados e quatro rins em 24 horas, realizado em 15 de julho. Poucos locais do mundo têm capacidade técnica e equipe para realizar tantos transplantes em pouco tempo, ainda mais em tempos de pandemia. Tivemos uma queda na doação de órgãos porque os pacientes ficam em UTIs, e agora as unidades estão sendo disponibilizadas aos pacientes com a Covid-19. Felizmente, aconteceu e foi um sucesso”, celebra.
Testagem de Covid-19
Os órgãos vieram da região de Londrina e Apucarana e foram ofertados ao hospital pelo Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. “Nos preparamos com o protocolo de proteção e testagem de Covid-19, tanto nas pessoas que recebem os transplantes, quanto nos profissionais envolvidos na cirurgia. Isso deixa o ambiente o mais seguro possível dentro das possibilidades atuais”, explica Nicoluzzi.
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Marco histórico
O médico relata ainda que o fato de poucos hospitais no Brasil realizarem esse volume de transplantes se deve à logística envolvida no processo.
“Seguramente, poucos hospitais no país possuem salas e logística disponíveis para realizar tantos procedimentos em um mesmo dia, especialmente operações de fígado, que duram de cinco a seis horas. Para comparação, o transplante renal costuma levar duas horas. Ou seja, quando falamos de transplantes hepáticos, é mais complicado e envolve uma equipe maior”, pontua. Agora, a luta é para que esses pacientes transplantados se reestabeleçam bem e voltem para suas casas com saúde.
Referência em transplantes
Segundo dados de 2019 da Central de Transplante do Paraná, que divulga anualmente o compilado estadual, o Hospital Angelina Caron (HAC) realizou 233 transplantes no ano passado, mantendo-se como a instituição com mais procedimentos feitos no estado.
O desempenho é resultado das ações continuadas contra a desinformação e alguns temores que ainda envolvem a doação de órgãos. “Os resultados anuais são reflexo das ações para a conscientização e reflexão das famílias. A doação de órgãos ainda é um assunto tabu na sociedade, já que os números sempre podem melhorar. Precisamos continuar sensibilizando a população para a necessidade da doação de órgãos e mostrar quantas vidas podem mudar”, afirma o médico.
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A quantidade de transplantados pelo Angelina Caron representa 13% dos procedimentos realizados em todo o estado em 2019. Entre os órgãos de maior ênfase no hospital estão pâncreas/rim: dos 16 casos no Paraná, nove ocorreram no HAC (56%).
Qualquer pessoa pode doar órgãos. Para doadores vivos, é preciso concordância e que não prejudique sua saúde. Pessoas em vida podem doar um dos rins, parte do fígado, do pulmão ou da medula óssea. Já para doadores falecidos, é necessário que seja constatada morte encefálica e que ocorra o consentimento da família.